Real é a moeda que mais perdeu valor em relação ao dólar em 2020

Levantamento da Tendências Consultoria considera 31 divisas dos principais países do globo. Desvalorização da moeda brasileira chega a 6,22% entre 2 de janeiro e 14 de fevereiro.

Por Paula Salati, G1

14/02/2020 18h33  Atualizado há 12 horas


O real é moeda que mais perdeu valor em relação ao dólar no acumulado de 2020, dentre as principais divisas globais, segundo um levantamento da Tendências Consultoria com dados da Bloomberg. Entre os dias 2 de janeiro e 14 de fevereiro, o real acumula uma desvalorização de 6,22% contra o dólar.

O ranking considera 31 moedas dos principais países do globo. Logo após o Brasil, as divisas que mais perderam valor contra o dólar dos Estados Unidos foram o rand sul-africano (-6,11%), a coroa norueguesa (-5,06%), peso chileno (-5%), florim húngaro (-4,6%) e o dólar neozelandês (-4,5%).

Na outra ponta, o peso mexicano (+1,95%) e a rúpia indonésia (+1,26%) registram valorização na comparação com a moeda norte-americana.

Após chegar a R$ 4,35 nesta semana, em meio a dados fracos da atividade interna e declaração polêmica do ministro da Economia, Paulo Guedes, o dólar fechou essa sexta-feira a R$ 4,2997, com queda de 0,79%.

Incertezas sobre reformas e crescimento

Além do aumento do risco externo, com a disseminação do coronavírus na China, incertezas dentro do Brasil contribuem para uma elevação mais forte do dólar por aqui, afirma o economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto.

“O coronavírus tem tido um peso importante na desvalorização de grande parte das moedas emergentes. Mas o real tem sofrido mais, o que sugere que fatores internos também têm contribuído para isso”, diz Campos Neto.

“De um lado, há uma incerteza sobre a continuidade da agenda de reformas em decorrência de ruídos políticos. De outro, também há dúvidas sobre o ritmo de retomada do crescimento da economia, após as divulgações que ocorreram nas últimas semanas, com destaque para o desempenho da produção industrial em 2019”, diz Campos Neto.

Segundo ele, não há dúvidas de que a economia continuará crescendo em 2020, mas a grande questão é se o Produto Interno Bruto (PIB) do país vai conseguir avançar de um crescimento de 1% para uma expansão mais próxima de 2%.

Dados fracos

Os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a produção industrial brasileira recuou 1,1% em 2019, após dois anos de expansão. Em 2018, a indústria havia crescido 1%.

Em 6 anos, a indústria amarga uma perda de 14,8%. Nos três anos de crise, de 2014 a 2016, o setor acumulou 17,7% de perdas. Recuperou 2,5% em 2017 e 1% em 2018, voltando a perder 1,1% em 2019.

Já as vendas do comércio cresceram pelo terceiro ano seguido, mas perderam ritmo. No ano passado, vendas do varejo aumentaram 1,8% em 2019.

Mesmo após 3 anos de taxas positivas, o setor ainda não conseguiu recuperar as perdas de 2015 e 2016 e mostrou perda de fôlego na reta final do ano.

Durante a recessão, o setor acumulou uma perda de 10,2%. Nos três últimos anos, o ganho acumulado chegou a 6,3%, segundo o IBGE. Ou seja, o comércio brasileiro fechou 2019 em um nível de vendas 3,7% abaixo de seu pico mais alto, alcançado em outubro de 2014.