Safra e safrinha: o que esperar da produção de milho
Agricultores já se preparam para o plantio de inverno. No caso do milho, a produção da segunda safra tem sido bem maior do que a de verão, e o nome “safrinha” já perde a razão de ser, apesar de a expressão já estar consolidada no país
Para ilustrar isso, basta olhar o ano agrícola de 2014/15, em que o Brasil teve uma produção de milho estimada em 84,3 milhões de toneladas, sendo que a primeira safra representou aproximadamente apenas 35,5% desse total e a segunda safra foi responsável por 64,5%.
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Cada vez mais agricultores têm investido na produção da soja no verão e no plantio do milho na sequência. Como não poderia deixar de ser, tudo o que ocorre na primeira safra impacta diretamente a segunda. Assim, para conhecer melhor o atual cenário da produção agrícola e as previsões para a safrinha, o Grão em Grão entrevistou o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) Rubens Miranda.
Grão em Grão – Analisando as condições da safra verão nas principais regiões produtoras, o que se pode esperar para a área plantada com a segunda safra de milho neste ano?
Rubens – Até o momento, a atual safra de milho vem seguindo a tendência observada nos últimos anos, que é a diminuição da primeira safra, colhida no verão. Essas reduções decorrem da perda de espaço do milho para a soja. A razão é simples, a oleaginosa tem apresentando preços até três vezes maiores que os do milho, além de ter maior liquidez, ou seja, é mais fácil de ser vendida. Nos dados divulgados pela Conab, a redução da área colhida de milho no país na primeira safra foi de 6,7%, e se considerarmos o Centro-Sul do Brasil, onde ficam as principais regiões produtoras, a diminuição chegou a 10%. Acompanhando o decréscimo da área, a produção também sofreu reduções, 8,6% no país e 9,6% no Centro-Sul. Por outro lado, apesar da perda de espaço no verão, a safrinha de milho tem apresentado um crescimento espetacular na esteira da soja, sendo plantada em sucessão. Assim, graças ao crescimento da safrinha de milho em quantidade maior que a redução da primeira safra é que estamos presenciando os atuais recordes de produção.
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Em relação à safrinha especificamente, as projeções preliminares de dezembro passado apontavam para o aumento da área plantada nas principais regiões produtoras, mas a situação pode ter mudado. O excesso de chuvas no Paraná e a falta delas no Centro-Oeste provocaram perdas e o atraso da colheita da soja nessas regiões. Mesmo que por motivos diametralmente opostos, essas situações podem impactar negativamente a safrinha de milho. Isso porque o atraso do cronograma pode fazer com que muitos produtores afetados optem por não assumir os riscos do plantio de milho mais tardio no inverno. Entretanto, dos produtores que tiveram prejuízos com a soja, há aqueles que procurarão se recuperar das perdas com o milho, aumentando a área e os investimentos. São duas estratégias distintas e passíveis de adoção. Infelizmente ainda não temos dados oficiais sobre essa situação, mas no decorrer das próximas semanas novas informações serão divulgadas.
Em relação aos preços, a recente valorização do milho deve se manter para a produção da segunda safra?
Tanto o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos como a Conab no Brasil apontam que as exportações brasileiras de milho devem continuar em alta ao longo de 2016. O que é um indicativo de que os preços também permanecerão em alta, pois a produção da safra 2015/16 dificilmente deve superar a do ano anterior. Consequentemente, esses preços podem levar ao aumento da oferta em 2016/17.
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Já é possível projetar se a produção nacional de milho no ano agrícola 2015/16 terá aumento ou retração em relação ao ano anterior?
Ainda não. Isso se formos minimamente criteriosos. Qualquer projeção agora é um chute no escuro, no sentido de obter um dado relativamente preciso. Para projetar ou estimar a produção precisamos de duas informações: área e produtividade. Para 2015/16, temos a informação de 1/3 (referente à proporção colhida em 2014/15), correspondente à safra verão, na qual ocorreu redução de 2,5 milhões de toneladas de milho, segundo as estimativas da Conab. A safrinha vai responder pelos outros 2/3 da informação, mas não temos nenhuma dos dois dados necessários. Como dito antes, em dezembro projetava-se um aumento na área de safrinha nas principais regiões produtoras, mas os problemas climáticos que vêm prejudicando a colheita da soja podem alterar isso. No decorrer do mês de janeiro, com o início do plantio da safrinha, passaremos a ter algum dado sobre a área plantada, que ainda terá ajustes até março. A partir dos dados iniciais de área, podemos fazer uma projeção grosseira utilizando a produtividade média recente. Posteriormente, com o andamento da safra, os dados vão sendo atualizados e chegaremos a uma projeção mais precisa. Além disso, o dólar em alta encarece os custos de produção, podendo levar os produtores a investirem menos na lavoura, excetuando-se aqueles que já compraram os insumos antecipadamente, mas isso só o futuro responderá.
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Com o aumento das exportações de milho, há risco de desabastecimento do mercado interno?
Sempre quando se fala de exportações recordes esse assunto vem à tona, o que de certa forma é um questionamento válido. Desabastecimento propriamente dito é algo difícil de acontecer nas condições atuais. A principal razão é que os estoques estão em níveis relativamente confortáveis, com pouco mais de 11 milhões de toneladas, o que dá algo ao redor 20% do consumo doméstico de milho. O que acontece são situações pontuais em determinados municípios e regiões onde simplesmente não se encontram os grãos com preços que não sejam exorbitantes. Pois é sempre possível comprar grãos, a questão é o quanto se paga. Um exemplo claro foi o ocorrido na safra 2012/13, quando aconteceu uma quebra mundial da safra de milho, principalmente nos Estados Unidos. Na ocasião, o Brasil exportou uma quantidade recorde de milho explorando o vácuo deixado pelos norte-americanos, que são os maiores vendedores. Assim, o Brasil exportou para grandes mercados a que até então não tinha acesso, como o Japão. O resultado é que os preços domésticos explodiram e por isso houve muita dificuldade da região Nordeste em adquirir milho do Centro-Sul do país. Acontece que a situação no Nordeste foi pior do que deveria, pois naquele ano a região colheu uma safra ruim e vinha de outra pior. Felizmente, hoje, o Nordeste vem de três boas safras, incluindo a atual, o que deve diminuir algum impacto negativo na disponibilidade do grão em decorrência das exportações. As maiores reclamações, na verdade, tanto hoje como em 2012/13, não estão relacionadas à escassez absoluta do grão, mas aos preços pagos pelo principal mercado consumidor de grãos, os produtores de carne de aves e suínos. Tais produtores costumam ter dificuldades em repassar o aumento de custos ao consumidor final. Novamente, nas atuais condições não precisamos nos preocupar com desabastecimento, mas não quer dizer que estamos livres desse problema. No relatório de levantamento de safras da Conab, de dezembro, a projeção dos estoques de passagem ao final da safra 2015/16 é de uma redução de quase 4 milhões de toneladas, em razão das exportações ainda aquecidas. Caso essa situação perdure, aí sim o desabastecimento pode ser um problema mais real.
Considerando não apenas os preços pagos pelo milho, mas também os custos de produção na segunda safra, os produtores ainda podem garantir bons lucros?
Creio que a maior preocupação referente aos custos de produção da próxima safrinha se refere à alta do dólar. Grande parte dos insumos produtivos é importada e encareceu com o comportamento recente do câmbio. Especificamente, dois terços dos fertilizantes consumidos no país são importados e eles respondem por parte considerável dos custos de produção de milho, apesar de em menor proporção na safrinha. Assim, a despeito dos ótimos preços do milho, o produtor tem que estar atento para não incorrer em gastos altos e desnecessários que possam enxugar os lucros potenciais. Como? Com um manejo adequado, focando em boas práticas agrícolas.
Fonte: Embrapa Milho e Sorgo
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