Quando investir no primeiro fundo de maconha brasileiro

SÃO PAULO — A gestora Vitreo lançou ontem o primeiro fundo de ações brasileiro focado no mercado de Cannabis internacional. Apenas no lançamento, ele já captou mais de R$ 3 milhões.

O Vitreo Canabidiol FIA IE investe em ações de empresas nos Estados Unidos e Canadá cuja principal matéria-prima de seus negócios é a Cannabis — popularmente conhecida como maconha.

A vantagem de quem investe no fundo é ter exposição ao mercado da Cannabis, ainda proibido no Brasil, mas que no exterior movimentou US$ 12 bilhões no ano passado, segundo a Euromonitor.

Com a legalização da planta em diversos países, seja para uso medicinal ou recreativo, a previsão é que o segmento movimente US$ 166 bilhões por ano até 2025.

Mas o fundo de maconha ainda é para poucos. Apesar de a aplicação mínima ser de R$ 5 mil, como ele aplica 100% no exterior, a regulação brasileira permite apenas que investidores qualificados — aqueles que possuem pelo menos R$ 1 milhão em investimentos — tenham o produto.

Se este for o seu caso, vale a pena se atentar para as taxas. O Vitreo Canabidiol FIA IE cobra 1,5% de administração.

Além disso, há taxa de performance de 20% sobre o que exceder o desempenho do S&P 500 Total Return — índice que embute os dividendos pagos pelas empresas e que geralmente tem performance em torno de 2% acima do S&P 500.

Outro ponto importante para observar na hora de investir é que o fundo não possui hedge contra a variação do câmbio. Assim, se o dólar cair, você perde.

“É o nosso primeiro fundo de investimento no exterior. Lançamos anteriormente um fundo temático, o de ouro, e foi super bem”, diz Patrick O’Grady, CEO da Vitreo e ex-presidente da XP Gestão.

De acordo com o CEO, a ideia da gestora é fazer uma “parada técnica” quando o patrimônio do fundo chegar aos R$ 100 milhões para “reavaliar a liquidez”, mas segundo ele não há limite para o tamanho do produto.

“Estamos falando de renda variável, de ações, é um mercado de risco. É uma indústria nova, com alto potencial de crescimento, mas, exatamente por ser uma indústria nova, o risco é maior”, diz.

“Tem muita pesquisa rolando, há coisas que vão dar muito certo e outras não serão aprovadas pelos reguladores locais. Este é o nosso produto de maior risco. O perfil do investidor que vai comprar e o suitability são bem importantes.”

As ações de empresas do setor de Cannabis costumam ter alta volatilidade porque estão expostas a riscos específicos desse segmento, como eventuais proibições de governos.

Mesmo não sendo estatais, essas companhias ficam à mercê de eventuais mudanças nas políticas de novos governos e nas regulamentações do setor.

Composição do fundo

O Vitreo Canabidiol FIA IE tem dois terços de sua carteira investidos em ETFs (Exchange Traded Funds) e um terço em papéis de empresas específicas, selecionadas pelo gestor do fundo.

Uma delas é a inglesa GW Pharmaceuticals, fabricante do Mevatyl, o primeiro e único medicamento registrado no Brasil. Outra é a americana Village Farms, uma das maiores produtoras de Cannabis medicinal do mundo.

“A GW Pharmaceuticals é a principal do portfólio. Ela produz uma droga para epilepsia em crianças. São crianças que sofrem crises diárias e com essa droga os pais conseguem neutralizar isso”, diz Rodrigo Knudsen, da equipe de gestão da Vitreo.

Também fazem parte do portfólio três canadenses. A Aurora opera em 24 países e tem entre seus sócios o bilionário americano Nelson Peltz.

Também na carteira do fundo, a Tilray fechou ano passado um acordo com a Novartis AG’s, subsidiária da Sandoz, para a venda de genéricos.

Já a terceira canadense na carteira do fundo é a Innovative Industrial Properties, que é focada na aquisição e aluguel de galpões para o setor.

Com um ano em operação, a Vitreo tem 41 mil clientes e R$ 2,6 bilhões sob gestão. A expectativa da gestora é alcançar os R$ 5 bilhões até o fim do ano.