Primeiros cães brasileiros testam positivo para o coronavírus

Cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) anunciaram a descoberta de dois cães positivos para o Sars-CoV-2 em Curitiba. Estes são os primeiros cães com o coronavírus no Brasil. Ambos os cães testaram positivo pelo exame molecular de RT-PCR. Muito provavelmente, contraíram o vírus de seus tutores com Covid-19.

Os cães — um vira-lata e um buldogue francês — não adoeceram. O coordenador do estudo, Alexander Biondo, destacou que, apesar de positivos, os cães permaneceram sadios, apenas com alguns espirros. O mesmo grupo realizou em outubro a descoberta do primeiro gato com coronavírus Sars-CoV-2 do Brasil, uma gata filhote, de Cuiabá. A presença do vírus não quer dizer que esses cães tenham Covid-19, frisa o pesquisador. Cães e gatos são considerados resistentes, diferentemente de visons e hamsters, que podem desenvolver e retransmitir o vírus às pessoas.

— Os cães não são considerados transmissores. Ao contrário, a carga viral de seus tutores era maior e provavelmente foram eles que transmitiram o coronavírus para seus cães — afirmou Biondo, do Departamento de Medicina Veterinária da UFPR e um dos poucos cientistas brasileiros a investigar a Covid-19 em pets.

Os gatos são um pouco mais vulneráveis do que os cães e podem se infectar e transmitir para outros gatos, mas não para seres humanos.

Os animais é que são vulneráveis ao vírus transmitido pelo homem e não o contrário, enfatiza Biondo. Por isso, as pessoas com sintomas ou que testarem positivo devem se manter isoladas não apenas de outras pessoas, mas também de seus animais de estimação.

O estudo coordenado pela UFPR envolve seis capitais: Curitiba, Cuiabá, Belo Horizonte, São Paulo, Recife e Campo Grande. E tem a colaboração de outras instituições, como a USP, o Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (Fiocruz/Recife), o laboratório Tecsa e as universidades de Londres e Washington, dentre outras. O trabalho tem financiamento do CNPq e do Ministério da Saúde.

O primeiro caso analisado é o de um buldogue francês macho, cujo proprietário testou positivo por PCR na semana passada. Ele percebeu uma discreta secreção nasal no cão, que costuma dormir junto a ele. O cão negativou num segundo teste.

O segundo caso é o de um cão macho mestiço que vive com sua tutora e outros três cães. Como o buldogue francês, esse cão também dormia na companhia da tutora. Tanto ela quanto outras três pessoas da família foram infectadas pelo coronavírus. Os quatro cães apresentaram espirros, mas apenas um deles teve o resultado de exame positivo. Um segundo cão da mesma família teve caso considerado suspeito e será testado de novo.

Biondo acrescenta que amostras de ambos cães serão enviadas para o Laboratório Animal Tecsa, em Belo Horizonte, para confirmação em outra instituição de referência. Os casos já foram comunicados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

O estudo prevê a testagem de pelo menos cem animais por capital para que os pesquisadores possam investigar a prevalência do coronavírus em animais de quatro regiões do Brasil.