Pelo domínio da fronteira, guerra entre facções faz quarta vítima no ano

A última morte atribuída ao PCC aconteceu neste sábado; Rudnei foi encontrado decapitado em uma estrada vicinal

A execução de Rudnei da Silva Rocha, o “Babidi”, encontrado decapitado em uma estrada vicinal do bairro Indubrasil em Campo Grande, neste sábado (7), é mais uma demonstração da guerra entre facções que se intensifica a cada dia em Mato Grosso do Sul.

Mesmo com as investigações no início, a polícia já trata o caso como um acerto de contas dos grupos rivais e soma a morte do rapaz, de 22 anos, às das vítimas da disputa de território entre PCC (Primeiro Comando da Capital) e Comando Vermelho.

Desde o começou do ano, quatro pessoas foram mortas de forma violenta depois de passarem pelo tribunal do crime do PCC. Na Capital, Richard Alexandre Lianho, Fernando Nascimento dos Santos e Mauro Éder Araújo, o “Fininho”, foram executados a mando dos líderes das facções e tiveram a morte gravada.

Richard foi morto em fevereiro. Assumidamente do Comando Vermelho, foi condenado pela facção rival depois de se envolver com a mulher de um integrante do PCC, que cumpria pena na Máxima de Campo Grande. Por videoconferência, o rapaz teve o destino decidido por líderes de todo o país, foi levado para a cachoeira do Céuzinho e assassinado a tiros.

Já morto, os suspeitos do crime tentaram esquartejar o corpo. Em vídeo divulgado pelos próprios autores é possível ver o momento em que eles tentam decapitar Richard e também cortar seus braços.

Dois adolescentes e um jovem foram presos pelo homicídio e já passaram pela primeira audiência na 1ª Vara do Tribunal do Júri.

Mauro Éder Araújo foi julgado pelo PCC e condenado à morte após passar seis dias em cárcere privado. Ele teria traído a facção e repassado informações sobre transação de drogas ao Comando Vermelho. Assim como Richard, Fininho teve a execução filmada e as imagens divulgadas na internet.

Fininho desapareceu em maio e seu corpo só foi encontrado 20 de julho. A investigação coordenada pela DEH (Delegacia de Repressão aos Crimes de Homicídio) prendeu 12 pessoas.

Fernando Nascimento foi esquartejado, teve o coração arrancado e foi abandonado na rua Engenheiro Paulo Frontim, 150 metros do anel viário, no Jardim Los Angeles, no dia 15 de agosto. Toda a morte foi gravada e divulgada. Três foram presos e afirmaram que mataram o rapaz por ele ser da facção rival.

Os suspeitos ainda alegaram que só cometeram o homicídio depois que receberam autorização dos líderes do PCC, que decidiram a morte em um julgamento e que o vídeo garantia poder a eles nos presídios. “O Comando Vermelho não tem vez com nós, não tem vez na Capital. O verdadeiro crime é o 15.3.3”, afirmou um dos presos para a imprensa, em alusão ao número que indica as iniciais do PCC.

Em todos os casos, as vítimas foram forçadas a gravar mensagens pedindo desculpa ao PCC e exaltando a organização criminosa.

No último dia 30, o corpo de Leoni de Moura Custódio, de 18 anos, foi encontrado decapitado e carbonizado no aterro sanitário de Campo Grande. Apesar da violência característica das execuções feitas por facções, a polícia trabalha com a hipótese de acerto de contas por tráfico de drogas. O caso ainda é investigado.

Os três presos por esquartejar Fernando (Foto: Marcos Ermínio)
Outros casos– No dia 26 de abril, Danilo Fidel Martins Paulo foi assassinato a tiros e facada por integrantes do PCC em Bataguassu, a 335 quilômetros de Campo Grande. Cinco pessoas foram presas pelo crime e contaram à polícia que a vítima foi condenada a morte pelo tribunal do crime da facção.

Além das mortes, sequestros orquestrados pelo PCC e tentativas de assassinato foram registrados em Campo Grande. Em julho, um homem foi morto a tiros e outro ferido supostamente durante uma execução ordenada pela organização criminosa.

O sobrevivente do crime, identificado como Kalbergue da Silva Moraes de 22 anos, afirmou para a polícia foi confundido por um integrante do Comando Vermelho e por isso foi sequestrado e mantido em cativeiro pelo grupo rival. Depois de ouvir que seria morto, reagiu e conseguiu escapar, mas foi atingido por um tiro.

Em setembro, Renan Filipe Rocha Menezes foi sequestrado por cinco homens na região das Moreninhas, esfaqueado, baleado e deixado na Rua Cabreúva, no Bairro Paulo Coelho Machado.
O rapaz não quis entrar em detalhes sobre a identidade dos autores, mas contou a polícia que faz parte do CV (Comando Vermelho) e que os sequestradores são do PCC (Primeiro Comando da Capital).

As facções são inimigas e têm origem distintas: o PCC veio dos presídios de São Paulo e o CV das penitenciárias do Rio de Janeiro. Se espalharam pelo país, e por Mato Grosso do Sul, com a troca de presos entre as unidades prisionais e também com a atuação das quadrilhas nas regiões fronteiriças, em buscas de drogas, armamento e ainda por meio da lavagem de dinheiro.

Em dezembro, motins na Máxima de Campo Grande e ameaças públicas deixaram ainda mais evidentes o clima de tensão entre os grupos. O conflito causou a transferência de vários integrantes do Comando Vermelho das penitenciárias da Capital em uma tentativa de evitar mortes e rebeliões.

Desde o início da guerra, o Campo Grande News ouviu várias fontes que confirmam a existência da disputa por território. Uma delas é secretário de Segurança Pública do Acre, Emylson da Silva, que entrevista à Folha de São Paulo em agosto do ano passado já dizia que o estopim foi a morte do traficante Jorge Rafaat Toumani, em junho de 2016.

O Acre também passava por período de forte aumento da violência. “Tem hoje uma situação instalada no país, de guerra entre facções, e um comando dado no Rio de Janeiro ou em São Paulo acaba provocando uma onda em todos os Estados. Isso é absolutamente inaceitável”, disse Silva à época.
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