O caso Celso Daniel, coordenador da campanha de Lula

Veja as ligações da investigação da Lava Jato com o caso Celso Daniel, coordenador da campanha de Lula
Extorsão de Ronan Maria Pinto para silenciar sobre o que sabia a respeito da morte do coordenador da campanha de Lula em 2002, faz parte da 27ª Etapa da Operação.
Nesta sexta-feira (1º), o ex-secretário geral do PT Silvio Pereira e o empresário Ronan Maria Pinto, dono do jornal “Diário do Grande ABC”, foram presos pela força-tarefa da Lava Jata na 27ª fase da operação, denominada Carbono 14. O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o jornalista Breno Altman, diretor editorial do site Opera Mundi (parceiro do UOL) foram alvos de condução coercitiva, quando o intimado é obrigado a depor.
A investigação envolve ainda o pecuarista José Carlos Bumlai (amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva), o ex-ministro José Dirceu e Marcos Valério (publicitário condenado pelo escândalo do mensalão).
A operação Carbono 14, durante as investigações, esbarrou em indícios que podem ligar o mensalão ao assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, em 2002. Mas como esses casos se entrelaçam?
1- O assassinato de Celso Daniel
Celso Daniel (PT), prefeito de Santo André, foi escolhido em 2001 como o coordenador da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva para a eleição do ano seguinte. O prefeito foi sequestrado e assassinado em janeiro de 2002.
A Polícia Civil de São Paulo investigou o caso e concluiu que a morte foi resultado de um crime comum sem motivações políticas. Familiares de Celso Daniel sempre questionaram a investigação, afirmando que o crime foi político.
Amigo do prefeito, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, dirigia o carro em que ambos estavam no momento do sequestro, após um jantar em um restaurante em São Paulo. Sombra teria sido deixado para trás pela quadrilha de sequestradores, que supostamente confundiu o carro do prefeito com o de um empresário visado.
O amigo do prefeito assassinado foi acusado posteriormente, pelo Ministério Público, de ter encomendado a morte porque o prefeito teria interrompido um esquema de corrupção envolvendo o empresário.
O processo, no entanto, foi anulado pelo STF em dezembro de 2014 e retornou à fase inicial, após os advogados de Sombra alegarem cerceamento de defesa.
2- Esquema de extorsão supostamente envolvendo Ronan, Sombra e a Prefeitura de Santo André
Em outro processo, na Vara Criminal de Santo André, Sombra, o ex-secretário de Transportes de Santo André Klinger Luiz de Oliveira e Ronan Maria Pinto, também empresário do setor de transportes da cidade, foram condenados, em novembro do ano passado, pela acusação de liderar um esquema de propinas na cidade durante a terceira gestão Celso Daniel (2001-2002). Todos recorreram da decisão.
Bruno José Daniel, irmão do ex-prefeito, afirmou em depoimento à Justiça Federal que ouviu de Gilberto Carvalho e Miriam Belchior (ex-mulher de Celso Daniel e ex-ministra do Planejamento, atual presidente da Caixa), após o assassinato, conversas sobre a existência do esquema de extorsão na Prefeitura de Santo André.
Os supostos valores originados da corrupção, segundo Bruno Daniel, seriam repassados a José Dirceu para supostamente para financiar campanhas eleitorais do PT. Ele também levantou suspeitas sobre a eventual participação de Sombra no assassinato de Celso Daniel.
3- Empréstimo de Bumlai com grupo investigado na Lava Jato teria sido repassado a Ronan
A nova fase da Lava Jato tenta esclarecer como funcionou um suposto esquema de lavagem de dinheiro envolvendo o Grupo Schahin, que foi contratado pela Petrobras em 2009 por US$ 1,6 bilhão, para operar um navio-sonda.
Segundo o Ministério Público Federal, a contratação foi uma contrapartida por um empréstimo de R$ 12,7 milhões contraído por José Carlos Bumlai junto ao banco ligado ao grupo em 2004.
Em novembro, após ser preso, o pecuarista admitiu em depoimento que o empréstimo foi repassado para o caixa 2 do PT, e metade desse valor (R$ 6 milhões) transferido para Ronan Maria Pinto.
De acordo com a Lava Jato, o dinheiro saiu do Banco Schahin e passou pelas empresas Bertin Ltda e Remar Agenciamento, esta ligada a Marcos Valério, antes de chegar à empresa Expresso Novo Santo André, controlada por Ronan Maria Pinto.
Em depoimento à Lava Jato, Salim Taufic Schahin, dirigente do banco, disse que teve reuniões com Delúbio Soares e que, de maneira cifrada, foi sinalizado por José Dirceu que o empréstimo a Bumlai seria destinado ao PT.
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4- A suspeita de chantagem de Ronan a políticos do PT
A Justiça suspeita, com base em depoimentos de Bumlai e também de Marcos Valério –que teria tentado fazer um acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República em 2012–, que a quantia de R$ 6 milhões foi paga após Ronan chantagear integrantes do PT como Lula, Dirceu e Gilberto Carvalho.
A Justiça não sabe qual informação Ronan utilizou para chantagear os políticos e nem se parte do dinheiro dado a Ronan serviu para a compra de parte da empresa que edita o jornal “Diário do Grande ABC”.
A suspeita é que o empresário extorquia líderes do partido para não divulgar informações sobre os detalhes do esquema de corrupção na Prefeitura de Santo André ou sobre o assassinato do prefeito.
Portanto, Bumlai aparece nas operações do mensalão e da Lava Jato. Além disso, teria relação direta com Ronan Pinto, que, por sua vez, teve relação estreita com a administração Celso Daniel, em Santo André – tanto que foi condenado pela Justiça paulista acusado de liderar um esquema de propinas na cidade.
5- A Lava Jato investiga o caso Celso Daniel?
Os promotores disseram que a Lava Jato investiga apenas o crime federal de lavagem de dinheiro, sem qualquer relação com o assassinato do prefeito Celso Daniel, que caberia ao Ministério Público de São Paulo. O juiz federal Sérgio Moro afirmou, no entanto, afirmou em seu despacho que o esquema investigado na Lava Jato possa ter relação com a morte de Celso Daniel.
“Se confirmado o depoimento de Marcos Valério de que os valores lhe foram destinados em extorsão de dirigentes do PT, a conduta é ainda mais grave, pois […] o fato contribuiu para a obstrução da Justiça e completa apuração dos crimes havidos no âmbito da Prefeitura de Santo André.”
Segundo a “Folha de S.Paulo”, procuradores da Lava Jato perguntaram diretamente a testemunhas sobre o envolvimento da cúpula petista no caso.
Em entrevista à rádio “Jovem Pan”, Bruno José Daniel afirma que a Lava Jato poderá trazer respostas para o assassinato: “Eu acho que a Lava Jato avança e a gente tem a expectativa que haja esclarecimentos em relação a tudo o que aconteceu com meu irmão e outras pessoas que foram mortas depois dele”.
Outro lado
Em nota, a assessoria de imprensa do Ronan disse que o empresário reafirma não ter “relação com os fatos mencionados” e que está “sendo vítima de uma situação que com certeza agora poderá ser esclarecida de uma vez por todas”.
O texto diz ainda que “há meses reafirmamos que o empresário Ronan Maria Pinto sempre esteve à disposição das autoridades de forma a esclarecer com total tranquilidade e isenção as dúvidas e as investigações do âmbito da Operação Lava Jato”.
Procurados pelo UOL, os advogados de Delúbio Soares e Silvio Pereira, assim como a assessoria do PT, ainda não se manifestaram sobre o caso.Por Cesar Galeano –