- Naomi Grimley, Jack Cornish e Nassos Stylianou
- BBC News
A pandemia de covid-19 causou a morte de quase 15 milhões de pessoas em todo o mundo, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Isso representa um total de 13% mais óbitos do que o normalmente esperado para um período de dois anos.
A OMS acredita que muitos países subestimaram os números de pessoas que morreram de covid — até o momento, apenas 5,4 milhões de óbitos foram oficialmente registrados.
Na Índia, por exemplo, foram 4,7 milhões de mortes por covid, calcula a OMS. Em termos comparativos, esse montante é dez vezes maior do que as estatísticas oficiais do país — e quase um terço de todas as mortes pela doença provocada pelo coronavírus no planeta, segundo a estimativa recém-publicada.
O governo indiano questionou o levantamento, dizendo ter “preocupações” com a metodologia utilizada, mas outros estudos chegaram a conclusões semelhantes sobre a escala de mortes por lá.
![Estimativa de mortes em excesso durante a pandemia](https://ichef.bbci.co.uk/news/640/cpsprodpb/177C0/production/_124429169_excess_deaths640-nc.png)
A medida usada pela OMS é chamada de excesso de mortes — em outras palavras, quantas pessoas morreram além do que seria normalmente esperado para aquele período em determinado local, de acordo com as estatísticas colhidas antes de a pandemia estourar.
Esses cálculos também levam em consideração as mortes que não foram diretamente causadas pelo coronavírus, mas, sim, pelos efeitos indiretos da situação sanitária. É o caso, por exemplo, das pessoas que não conseguiram acessar hospitais para cuidar de outros problemas de saúde.
O estudo da OMS também leva em conta a má qualidade dos registros em algumas regiões ou países e falta de uma política de testagem, especialmente no início da crise lá em 2020.
Considerando todas essas variáveis, a entidade concluiu que a maioria das 9,5 milhões de mortes extras (além das 5,4 milhões oficialmente registradas) podem ser consideradas diretamente causadas pelo vírus.
![Taxa de excesso de mortes em alguns países durante a pandemia](https://ichef.bbci.co.uk/news/640/cpsprodpb/DB80/production/_124429165_2.png)
Samira Asma, do departamento de dados da OMS, classifica os achados como “uma tragédia”.
“Trata-se de um número impressionante. É importante para nós honrar as vidas que foram perdidas e responsabilizar os formuladores de políticas [públicas]”, disse.
“Se não contarmos os mortos agora, perderemos a oportunidade de se preparar melhor para a próxima vez.”
Ao lado da Índia, os países com o maior excesso de mortes incluem Rússia, Indonésia, Estados Unidos, Brasil, México e Peru, segundo os cálculos da OMS.
Os números estimados para a Rússia, por exemplo, são três vezes e meia maiores do que as mortes por covid oficialmente registradas no país.
Números do Brasil
O relatório também analisou as taxas de excesso de mortes em relação ao tamanho da população de cada país.
A taxa de mortalidade em excesso do Brasil — e de outros lugares, como Reino Unido, África do Sul e EUA — ficou acima da média global durante 2020 e 2021.
![Taxa de excesso de mortes por 100 mil habitantes](https://ichef.bbci.co.uk/news/640/cpsprodpb/129A0/production/_124429167_1.png)
Já os países com taxas menores de excesso de mortalidade relativas à população incluem a China, que ainda segue uma política de “covid zero” com testes em massa e quarentenas, e a Austrália, que impôs restrições rígidas de viagem para manter o vírus fora do país, além de Japão e Noruega.
Os acadêmicos que ajudaram a compilar o relatório admitem que as estimativas são um pouco mais incertas em relação aos países da África Subsaariana, porque há poucos dados sobre a mortalidade na região. Não havia estatísticas confiáveis para 41 dos 54 países da África, apontam os especialistas.
O estatístico Jon Wakefield, da Universidade de Washington, nos EUA, ajudou a OMS neste relatório e disse à BBC que “precisamos urgentemente melhorar os sistemas de coleta de dados”.
“É uma vergonha que as pessoas possam nascer e morrer — e não temos qualquer registro desses eventos.”
“Precisamos realmente investir nos sistemas de registro dos países para que possamos obter dados mais precisos e oportunos.”