No combate ao tráfico da pasta base, crescem apreensões de drogas relacionadas à cocaina

No combate ao tráfico da pasta base, crescem apreensões de drogas relacionadas à cocaina

Mais barata que um pacote de amendoim, a pasta base de cocaína é apontada como a droga das ruas de Campo Grande. Na ‘cracolândia’, difícil é encontrar pessoas que consumam o crack ou a cocaína, drogas com valores mais altos. Na terceira reportagem da série sobre a pasta base de cocaína, o Jornal Midiamax fala da guerra contra o narcotráfico e a atuação das forças policiais nos setores de inteligência, investigação e repressão ao tráfico do entorpecente.

Rotas nas estradas de MS
O Estado possui 1.517 quilômetros de fronteira, sendo 1.131 quilômetros com o Paraguai e 386 com a Bolívia, que são monitorados pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), PF (Polícia Federal) e DOF (Departamento de Operações de Fronteira) – composto por policiais militares.

Somente nos sete primeiros meses deste ano, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) já apreendeu mais do que o total de todo o ano passado das drogas relacionadas à cocaína. Entre 1° de janeiro e 19 de julho, foram 2,349 quilos de cocaína. Durante todo o ano de 2017, foram 2,318 quilos da mesma droga. A estatística da corporação não faz distinção entre pasta base de cocaína, cocaína e cloridrato de cocaína – a forma mais pura da droga.

A pasta base é um produto derivado da cocaína, basicamente composto de restos da droga – obtidos durante o refino – e misturada ao ácido. A cocaína, droga extraída da coca, planta originária da América do Sul, costuma entrar no Brasil pela chamada rota Boliviana por terra e pelo céu, em pequenos aviões.

Os traficantes tentam entrar em território brasileiro pela região de Corumbá, no oeste do Estado, para levar o entorpecente aos grandes centros brasileiros, utilizando Mato Grosso do Sul como corredor para abastecimento de outros estados. A rota é a mais famosa, mas não é a única.

A policial rodoviária federal Manuella Reis explica que os traficantes de cocaína investem em modificar constantemente os caminhos para driblar as forças de segurança..

“Os traficantes têm mudado essa rota e descido até o Paraguai, o que costumava ser chamada de rota da maconha, para entrar em Mato Grosso do Sul. Comumente, a cocaína saía da Bolívia para o Brasil e observamos que eles [narcotraficantes] estão tentando um transporte por dentro. A mudança de rota no tráfico é frequente”, diz a policial rodoviária federal.

A corporação trata Mato Grosso do Sul como “corredor” e as apreensões são da droga mais pura. Quando sai do Estado, a droga é acrescida de outras substâncias para render mais. Na fronteira, o quilo da cocaína custa aproximadamente R$ 30 mil. Quando chega a outros estados, o preço pode mais do que dobrar.

Para a agente da PRF, o volume recorde de apreensões neste ano pode ser atribuído ao trabalho policial e à ousadia dos traficantes. “O mercado aumentou, a ousadia dos traficantes e o trabalho de inteligência que atua para intervir nisso”, comenta Manuella.

Todas as formas de tráfico
Segundo Manuella, embora as grandes apreensões chamem a atenção e grandes carregamentos de cocaína sejam avaliados em milhões, os traficantes tentam a todo custo entrar em Mato Grosso do Sul levando a droga de todas as formas.

“Há pouco tempo, pegamos um táxi que o passageiro levava cocaína. Abordamos e ele acabou indicando uma fazenda em que o avião que transportava cocaína havia caído e eles estavam descarregando e tentando levar a droga por terra. Há todas formas, desde caminhões com fundo falso, malas transportadas em ônibus e ainda há quem ingere as cápsulas de drogas”, finaliza a policial rodoviária federal.

Em Campo Grande, “reis” da droga se sucedem
Em Campo Grande, entre junho e julho, a Denar (Delegacia Especializada em Repressão ao Narcotráfico) prendeu dois grupos de narcotraficantes apontados como grandes fornecedores de cocaína e de pasta base para os pontos de venda de drogas dentro da Capital – as populares bocas de fumo.

O delegado adjunto da Denar, João Paulo Sartori, confirma o que os olhos mais atentos notam nas ruas de Campo Grande: o consumo da pasta base vem aumentando ao longo dos anos. Os dados da polícia apontam que o preço da porção da pasta base é de cerca de R$ 5 a R$ 10. Já a cocaína, chega a R$ 50, sendo consumido por pessoas que possuem maior poder aquisitivo.

Denar atua para ‘pegar’ quem abastece as bocas de fumo na Capital. (Foto: Henrique Kawaminami)
Nas ruas, o Jornal Midiamax encontrou a porção da pasta base sendo vendida ainda mais fracionada, por valores que começam em R$ 2. “Devido ao preço, é uma droga muito consumida e muito danosa, com três vezes, se torna viciado e a pessoa se torna praticamente um zumbi”, diz o delegado.

No dia 5 de junho, a Denar e a PRF, em ação conjunta na BR-262 (região de Miranda) –três pessoas apontadas como principais abastecedores da droga em Campo Grande. A ação foi batizada de Operação King, em alusão ao fato de os traficantes serem chamados de “Reis da Cocaína”, traficantes que ostentavam alto padrão de vida conquistado às custas da droga que vicia logo nas primeiras vezes em que é usada.

“O trabalho da Denar visa atacar os grandes fornecedores. Na semana passada, prendemos um grande fornecedor e, no mês passado, teve a Operação King. Aquele pessoal [preso na Operação King], abastecia de 80% a 90% da Capital”, explica o delegado.

Segundo Sartori, o trabalho de inteligência da Policia Civil observa que a sucessão entre os narcotraficantes é muito rápida. Embora a quadrilha que abastecia mais de 80% dos pontos de venda de drogas tenha caído, rapidamente, outros assumem o trabalho de ‘chefiar’ a distribuição de drogas na cidade.

“Além da dos distribuidores da droga, a Denar atua reprimindo pequenos ponto de venda de drogas, que acabam sendo o ponto de receptação de produtos [roubados e furtados]. São dois fronts que atuamos para combater o tráfico”, finaliza o delegado.

A Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) foi procurada pelo Jornal Midiamax para fornecer um balanço sobre o total apreendido do entorpecente por todas as polícias do Estado, mas não houve retorno da solicitação.