Ibovespa tem 3ª queda consecutiva e registra pior fechamento do ano: é o fim do otimismo?

SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira (21), a terceira consecutiva e novamente na contramão do desempenho registrado pelas bolsas internacionais. Além disso, com a baixa de hoje, o índice atingiu seu menor patamar de fechamento em 2021, o que já acende um sinal de alerta sobre uma reversão no otimismo que tomou conta dos investidores no fim de 2020.

Segundo Lucas Monteiro, trader de multimercados na Quantitas Gestão de Recursos, a desvalorização dos ativos na Bolsa nos últimos pregões ocorre porque ao contrário do que se via no ano passado, a taxa de desconto entre as ações de empresas americanas e as brasileiras não é mais tão grande.

“Nos 120 ou 125 mil pontos a Bolsa fica mais sensível a notícias ruins. Aquele grande desconto por fundamento não existe mais, ela está mais justa. Para fazermos uma aposta de se vai subir ou cair daqui para frente, é preciso maior clareza sobre as premissas macroeconômicas do Brasil”, avalia.

Monteiro entende que os ruídos no âmbito fiscal, responsáveis pela queda do Ibovespa hoje, são incorporados como prêmio de risco pelos investidores de forma mais rápida devido ao atual patamar de preço dos papéis.

Para ele, se o investidor não enxergar uma responsabilidade fiscal mais firme o benchmark continuará caindo.

Já Ari Santos, trader da H. Commcor, enxerga também algum ajuste de expectativas no mercado. “Alimentamos grandes esperanças por vacinas e com 50 dias de vacinação lá fora as pessoas ainda não voltaram a ir para a rua e consumir como antes. Ficou claro que o processo é mais demorado do que muitos supunham, e no Brasil ainda tem o agravante de que a chegada das doses das vacinas foi atrasada”, conta.

Ele, contudo, não releva a participação importante do temor fiscal nas quedas recentes. “Os candidatos às presidências do Senado e da Câmara estão falando em extensão do auxílio emergencial em um momento em que não há mais espaço no Orçamento para gastos”, destaca.

Apesar disso, ambos os especialistas concordam que é cedo para falar em frustração de todas as projeções otimistas para a Bolsa realizadas no início do ano. Santos lembra que o exterior está com uma situação bem mais equalizada do que no ano passado após a posse sem sustos do presidente americano Joe Biden, com prováveis estímulos econômicos e vacinação em massa este ano.

Hoje, o Ibovespa caiu 1,1% a 118.328 pontos com volume financeiro negociado de R$ 31,19 bilhões. O menor fechamento do ano antes desta sessão havia sido no primeiro pregão do ano, dia 4 de janeiro, quando o benchmark encerrou cotado em 118.854 pontos.

Enquanto isso, o dólar comercial subiu 0,99% a R$ 5,3631 na compra e a R$ 5,3641 na venda. Já o dólar futuro com vencimento em fevereiro tem ganhos de 1,31%, a R$ 5,361 no after-market.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 teve alta de 18 pontos-base a 3,39%, o DI para janeiro de 2023 subiu 22 pontos-base a 5,15%, o DI para janeiro de 2025 avançou 21 pontos-base a 6,66% e o DI para janeiro de 2025 registrou forte variação positiva de 17 pontos-base a 7,30%.

Os juros futuros refletiram o comunicado mais hawkish (propenso a apertos monetários) da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa básica de juros, Selic, em 2% ao ano, mas removeu o foward guidance (algo como uma prévia do que esperar para o futuro) de não reduzir o estímulo monetário.

“Acreditamos que a elevada incerteza sugere cautela ao reduzir o grau de estímulo. Contudo, os dados recentes – atividade melhor no final do ano passado, choque inflacionário se prolongando – e a sinalização do comunicado nos fazem acreditar que o Copom optará por antecipar o ciclo de alta de juros para maio (antes, agosto). Projetamos agora a taxa Selic em 3,5% no final de 2021 (antes 3%) e 4,50% em 2022 (antes 4%)”, analisou Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos (confira o relatório aqui).