Entenda a narcolepsia, distúrbio do sono que a cantora Pocah descobriu ter

Lúcio Huerba, neurologista do Hospital Sírio Libanês, explica que a narcolepsia é considerada uma doença neurológica do sono rara e os portadores do distúrbio enfrentam problemas em receber o diagnóstico correto

Lúcio Huerba, neurologista do Hospital Sírio Libanês, explica que a narcolepsia é considerada uma doença neurológica do sono rara e os portadores do distúrbio enfrentam problemas em receber o diagnóstico correto. “Ela acomete de 10 a 50 pessoas a cada 10 mil. Além de ser rara ainda é muito subdiagnosticada.”

Huerba diz que existem cinco sintomas “mais clássicos” para o diagnóstico do distúrbio, dentre eles estão: sonolência excessiva diurna, cataplexia -perda de força muscular em especial após uma situação emocional intensa, sem perder a consciência-, paralisia do sono, alucinações e ter o sono noturno fragmentado.

“O principal sintoma é a sonolência excessiva diurna”, completa Paula Vallegas, neurologista especialista em medicina do sono. Huerba diz que o sintoma se manifesta através de ataques de sono, onde o “indivíduo tem de forma súbita um sono irresistível e acaba dormindo em situações mais monótonas ou até inadequadas”.

O neurologista comenta que quando o paciente dorme, faz cochilos curtos, de alguns minutos, e acorda se sentindo revigorado. “É diferente de outras síndromes ou doenças que também levam a sonolência excessiva diurna.”

Quanto às alucinações, Vallegas explica que existem dois tipos: “Quando está entrando no sono, chamadas alucinações hipnagógicas, ou na transição do sono para a vigília, no despertar, chamadas hipnopômpicas”.

Pocah não detalhou como a narcolepsia se manifesta nela, mas afirmou que está “tratando isso e algumas outras coisas como TDAH [Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade] e ansiedade”. “Minha prioridade agora está sendo cuidar de mim. Para que quanto antes eu possa retomar a minha vida ‘normal’. Achei importante compartilhar isso com vocês”, afirmou ela nas redes sociais.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Huerba diz que após identificar os sintomas, existem exames confirmatórios. Vallegas completa que é necessário realizar um diagnóstico diferencial para não confundir o distúrbio com outras doenças ou hábitos que possam causar a sonolência excessiva diurna.

Ela explica que geralmente se pede ao paciente para relatar os horários de sono ao longo do mês e exames como actigrafia do sono ou polissonografia noturna. Na actigrafia, são monitorados os momentos em que o paciente cochilou ou dormiu.

O neurologista explica que no dia seguinte após o exame, são dadas cinco oportunidades para o paciente cochilar, então é analisado quanto tempo o indivíduo demora para entrar no sono. “Vemos se entra em um dos sonos profundos, o sono REM.”

Vallegas explica que o sono REM (Rapid Eye Moviment) é “a fase do sono mais profunda, onde temos o movimento rápido dos olhos e geralmente ocorrem os sonhos”. Huerba afirma que os portadores de narcolepsia entram no estágio REM precocemente.

Além dessas opções, existe um exame mais invasivo, segundo Vallegas. Huerba explica que “é [feito] através da pulsão lombar, nós avaliamos o liquor se os pacientes têm um peptídeo reduzido, chamado hipocretina”. O neurologista diz que a hipocretina pode ser o mecanismo que causa todos os sintomas, “uma vez que ela esteja baixa, o paciente desenvolve esses sintomas”.

Sabe-se que existem duas categorias da doença: a narcolepsia tipo 1 que apresenta os sintomas e a baixa da hipocretina, e a tipo 2, que também possui os critérios diagnósticos, “mas não tem a cataplexia e a hipocretina ou está normal, ou não se sabe”.

A causa mais conhecida é a da narcolepsia tipo 1. A teoria diz que “pessoas com pré-disposição genética, quando expostas a algum antígeno ou infecção, desenvolvem a autoimunidade e então o corpo produz anticorpos contra uma área específica do cérebro chamado hipotálamo lateral, que produz a hipocretina”.

A falta do peptídeo deixaria o sono fragmentado, e seria a principal causa dos cinco principais sintomas, também por desestabilizar o sono REM. Apesar de não possuir cura, o distúrbio tem tratamento, e segundo Huerba ele é focado nos sintomas.

“Ele pode ser farmacológico ou não farmacológico”, explica o neurologista. “Do ponto de vista não famacológico, orientamos uma higiene do sono, evitar estimulantes próximos do horário de dormir à noite, ter uma boa rotina, atividade física e fazer cochilos programados.”

O médico diz que quanto aos métodos famacológicos, são prescritas medicações com o efeito estimulante para retardar e amenizar a sonolência excessiva durante o dia, e para os outros sintomas são usados medicamentos com efeitos inibidores do sono REM, “a classe mais usada são alguns anti-depressivos”.