Dólar fecha em queda e tem menor cotação desde 4 de maio

O dólar fechou em queda pelo segundo dia seguido nesta quinta-feira (21), refletindo a reação dos investidores a comentários do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre a intervenção do BC nos mercados – ainda que acompanhando as tensões políticas vindas de Brasília e o clima negativo nos mercados externos.

A moeda norte-americana encerrou o dia em queda de 1,87%, vendida a R$ 5,5811 – a menor cotação de fechamento desde 4 de maio, quando ficou em R$ 5,5208. Na mínima do dia, chegou a R$ 5,5582. No mês, a moeda passou a acumular alta de 2,60%, e no ano, de 39,19%.

Tensão política interna

Na tarde de quarta-feira, Campos Neto afirmou que a autarquia tem espaço amplo para a venda de reservas internacionais e poderá aumentar sua atuação no câmbio se considerar necessário. Segundo analistas, a sinalização do BC ajudou a pressionar a moeda norte-americana, que chegou a ser negociada em alta nos primeiros minutos do dia após a abertura diante de menor apetite por risco no exterior.

“A declaração do Campos Neto mencionou que o Banco Central tem instrumentos pra atuar de maneira mais pesada na moeda”, explicou Flávio Serrano, economista-chefe do banco Haitong, dizendo que o BC pode evitar uma dinâmica excessivamente negativa do real. Mas, segundo Serrano, a atuação da instituição daqui para frente “depende muito da dinamica de mercado. O BC tem atuado de maneira clara: só intervém quando há movimentos exagerados”.

Apesar da queda na véspera, para Felipe Pellegrini, gerente de tesouraria do Travelex Bank, ainda é “muito cedo” para se falar em reversão de tendência de alta. Ele cita, entre os fatores, a incerteza sobre o andamento da crise de saúde pública no Brasil. “Estamos com os números (de mortes e casos de coronavírus) nas máximas, mas não sabemos se isso é o pico ainda”, disse.

A leitura é que, quanto mais demorar para achatar a curva de casos e mortes no Brasil, mais tempo a economia levará para se recuperar. Pellegrini calcula que o dólar deverá operar num intervalo entre R$ 5,40 e R$ 5,80 ao longo deste ano. “Mas, no curto prazo, é possível que cheguemos aos R$ 6,20”, afirmou.

Evidência da incerteza do investidor com o câmbio, a volatilidade implícita das opções de dólar/real para três meses segue como a mais alta entre as principais divisas emergentes, bem acima de 20% e perto dos picos do ano, enquanto medidas equivalentes para vários rivais do grupo estão em queda há semanas.

“Estão todos esperando a decisão do (ministro do STF) Celso de Mello sobre o vídeo da reunião ministerial. Dependendo do teor desse vídeo podemos ter uma guinada para cima ou para baixo (no dólar)”, disse Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

Arbetman se referiu a um vídeo apontado como importante prova dentro do inquérito em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) que apura as acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro de que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir no comando da Polícia Federal. Celso de Mello, relator do caso, vai decidir se divulga o vídeo da reunião ministerial.

Expectativas globais

Lá fora, os mercados reagiram mal ao aumento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China agravando as preocupações sobre o ritmo de recuperação econômica diante da crise causada pelo coronavírus, mesmo enquanto vários países flexibilizam as restrições. Na quarta-feira, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, mirou Pequim, chamando os US$ 2 bilhões de dólares que a China prometeu para combater a pandemia de “insignificantes”.

Na Europa, o clima ficou negativo com os últimos dados de atividade empresarial revelando o impacto danoso da crise do coronavírus. Dados divulgados mais cedo mostraram que o efeito devastador da pandemia na economia da zona do euro diminuiu um pouco em maio depois que os bloqueios impostos para conter a propagação do vírus começaram a ser atenuados, mas ainda estava longe de marcar um crescimento. Depois de ter caído para o fundo do poço em abril, o Índice de Gerentes de Compras Composto preliminar do IHS Markit se recuperou para 30,5, contra leitura de 13,6 de abril.

Fonte: Fiems