Covid-19: Manaus vive colapso com hospitais sem oxigênio, doentes levados a outros estados, cemitérios sem vagas e toque de recolher

A média móvel de mortes no estado cresceu 183% nos últimos sete dias. O envio de oxigênio ao estado não está sendo suficiente para suprir a demanda, e o governo está transferindo pacientes a outros estados.

Manaus vive uma crise sem precedentes com o avanço dos casos de Covid-19. Com internações batendo recordes, unidades de saúde ficaram sem oxigênio. O estado está sendo obrigado a enviar pacientes para outros estados.

Os cemitérios também estão lotados, ampliaram o horário de funcionamento e instalaram câmaras frigoríficas. Para tentar frear o vírus, ogoverno estadual decidiu proibir a circulação de pessoas entre 19h e 6h em Manaus.

Em Manaus, hospitais lotados ficam sem oxigênio e pacientes são transferidos para outros estados

Em Manaus, hospitais lotados ficam sem oxigênio e pacientes são transferidos para outros estados

A média móvel de mortes cresceu 183% no Amazonas nos últimos 7 dias. Até esta quarta-feira (13), mais de 219 mil pessoas haviam sido infectadas pela Covid em todo o estado, e mais de 5,8 mil morreram com a doença.

O número de internações pela doença em Manaus chegou a 2.221, de 1º a 12 de janeiro. O índice máximo anterior havia sido registrado em abril do ano passado, com 2.128 pacientes internados. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, visitou o Amazonas nesta semana e afirmou que Manaus é “prioridade nacional neste momento”.

Falta de oxigênio

G1 presenciou médicos e acompanhantes transportando cilindros nos próprios carros para levar aos hospitais. A técnica de enfermagem aposentada Solange Batista disse que precisou comprar oxigênio para a irmã, que está internada no Hospital Universitário Getúlio Vargas, em Manaus (veja o vídeo abaixo).

Mulher relata falta de oxigênio em hospital de Manaus

Mulher relata falta de oxigênio em hospital de Manaus

A médica residente Gabriela Oliveira, do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), disse que a situação está caótica. Os profissionais da saúde falam em cenário de guerra.

“O que eu vivi hoje, nem nos meus piores pesadelos eu pensei que poderia acontecer. Não ter como assistir paciente, não ter palavras para acalentar um familiar. Isso é uma coisa que vai ficar uma cicatriz eterna nos nossos corações”, contou.

Uma das razões para o colapso do sistema de saúde é o consumo de oxigênio por pacientes de leitos clínicos, segundo o Coronel Franco Duarte, representante do Ministério da Saúde. “Aquele paciente que não está no leito de UTI é o que consome mais, porque ele fica ao lado do regulador de oxigênio. A sensação é de falta de ar, e você abrindo o acesso ao oxigênio, você tem a sensação de bem-estar, mas, em contrapartida, aumenta muito essa demanda”, disse Duarte.

Profissionais de saúde relatam falta de oxigênio em hospitais em Manaus

Profissionais de saúde relatam falta de oxigênio em hospitais em Manaus

O Secretário da Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, afirmou nesta quinta-feira (14) que o estado passa por uma crise no abastecimento de oxigênio. Campêlo disse que o Ministério da Saúde, o governo do Amazonas e as Forças Armadas estão trabalhando no apoio logístico para a entrega de oxigênio para a rede estadual de saúde, com o transporte do gás de outros estados para o Amazonas.

“Tivemos um pico de fornecimento e aumento da demanda acima do esperado. Fomos comunicados ontem [quarta-feira] à noite do colapso do plano logístico em relação a algumas entregas, o que causará a interrupção da programação por algumas horas”, afirmou Campêlo, referindo-se ao recebimento do oxigênio.

Segundo ele, a alta demanda surpreendeu um dos maiores conglomerados de gás do mundo, a empresa White Martins.

Oxigênio sendo recebido no Hospital Getúlio Vargas em Manaus — Foto: Matheus Castro/G1

O secretário diz que há leitos abertos prontos para serem utilizados no Hospital Universitário Getúlio Vargas, no Nilton Lins e em outras unidades, mas não foram ativados por conta da falta de oxigênio.

Segundo governador Wilson Lima, o estado entrou com uma ação na Justiça para que a empresa fornecedora de oxigênio garanta o abastecimento nas unidades de saúde em quantidade suficiente para atender a todos.

Transferência de pacientes

Com o colapso do sistema de saúde, pacientes estão sendo levados a outros estados para receber atendimento médico. São eles: Goiás, Piauí, Maranhão, Brasília, Paraíba e Rio Grande do Norte. O governo diz ter feito um estudo para que as transferências não sobrecarregassem a rede assistencial desses outros locais.

Segundo o governo, 235 pacientes já haviam sido transferidos até a tarde desta quinta.

O Coronel Franco Duarte, representante do Ministério da Saúde, afirmou que são transportados pacientes com estado de saúde considerado em fase moderada da doença. “São pacientes que ainda continuam dependentes do oxigênio, mas eles têm toda a segurança plena para serem aerotransportados”, disse.

Um dos primeiros estados a receber pacientes do Amazonas foi o Piauí. Na manhã desta quinta, 30 pacientes de Manaus com Covid-19 foram encaminhados para Teresina.

Toque de recolher

O governador Wilson Lima anunciou, nesta quinta-feira (14), um decreto que proíbe a circulação de pessoas em Manaus entre 19h e 6h. Todas as atividades, exceto serviços essenciais para a vida, também estarão proibidos de abrir. A medida deve valer a partir da publicação do decreto, prevista ainda para esta quinta. Entre as medidas, estão:

  • suspensão do transporte coletivo de passageiros entre rodovias e rios do estado
  • fechamento de todas as atividades e circulação de pessoas entre 19h e 6h; só pode sair de casa quem trabalha em áreas estratégicas: saúde, segurança pública, imprensa
  • funcionamento de farmácias entre 19h e 6h, por delivery ou sob demanda

Restrições já adotadas

No final do ano passado, comerciantes e empresários fizeram protesto após o governo decretar limitações na circulação: o aumento de casos de Covid já era esperado após as festas de Natal e Ano Novo. No dia seguinte à manifestação, o decreto foi suspenso. Por determinação da Justiça, as restrições foram publicadas.

Desde o dia 2 de janeiro deste ano, atividades do comércio não essencial estão proibidas, com previsão de interdições e multas diárias de até R$ 50 mil. Além do comércio geral fechado, restaurantes só podem funcionar para delivery e estão proibidas festas e reuniões. As medidas valem por 15 dias, mas podem ser prorrogadas.

Nesta terça (12), o governo do Amazonas proibiu o funcionamento de academias e o transporte intermunicipal de passageiros. G1