Corte no consumo já atinge até o setor de alimentação em Mato Grosso do Sul

Tradicionalmente mais protegido, o segmento também foi impactado pelas adversidades econômicas.
Corte no consumo já atinge até o setor de alimentação em Mato Grosso do Sul
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O setor da alimentação já aparece no cardápio da crise. O corte no consumo foi tão profundo que feriu a velha máxima segundo a qual “as pessoas podem reduzir vários gastos, mas não deixam de comer”. “O setor vem sofrendo como todos os outros. A expansão é menor e muitas empresas fecharam as portas”, nota o empresário Sandro Mendonça, presidente do Siems (Sindicato das Indústrias de Alimentação de Mato Grosso do Sul).

A desaceleração no ritmo de crescimento da cadeia da alimentação pode ser dimensionada pelos números do mercado de trabalho. Em três anos, as empresas de serviços na área de alimentos fecharam 4.349 empregos formais em Mato Grosso do Sul, conforme o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).

Em 2015, ano em que foi intensificada a crise econômica do País, foram extintos 971 vagas no setor no estado. Em 2016 e 2017, os saldos continuaram negativos e foram, respectivamente, de -277 e -3.101 postos de trabalho.

Embora menos crítico, o cenário de empregos na indústria de alimentação também contabiliza números mais modestos nos últimos anos. Depois de encerrar 2014 com saldo de 1.882 novos empregos, o setor extinguiu, no ano seguinte, 971 vagas em Mato Grosso do Sul. Em 2016 (122 postos) e 2017 (655), os resultados foram positivos, mas continuaram abaixo do período anterior à intensificação da crise econômica.
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A redução do quadro de funcionários é um dos efeitos da queda do consumo. “As pessoas estão comprando menos, inclusive alimentos. Até mesmos os básicos, como carne, estão sendo menos consumidos”, observa Sandro Mendonça.

A avaliação do empresário se contrapõe, aparentemente, aos valores totais do setor. A indústria da alimentação do estado faturou, em 2017, R$ 12,9 bilhões, de acordo com a Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul). O montante é 9,38% maior que os R$ 11,8 bilhões contabilizados em 2016.

Sandro Mendonça comenta que esse crescimento é puxado pelas grandes indústrias e não pelo setor como todo. “É por causa das multinacionais”, observa, reforçando que a maioria das empresas enfrentam dificuldades. “As que estavam muito bem antes da crise, estão se mantendo; as que estavam mais ou menos, estão se segurando para continuar funcionando; as que estavam mal, fecharam as portas”, afirma.

Observar tendências e usar redes sociais são ingredientes para a retração econômica

O gosto amargo da economia é sentido até mesmo por quem preparou a empresa com receita adequada. É a situação, por exemplo, do casal Anderson Ferreira da Nascimento, 34 anos, e Natalia Yahn, também com 34, proprietários da Panchos Dogueria. Eles abriram o negócio em janeiro do ano passado depois de meses de planejamento.

“Passamos 2016 inteiro desenvolvendo o plano de negócio, arrumando a documentação, fazendo toda a burocracia, além da parte estrutural, a reforma do prédio”, listou Anderson. Com gestação apropriada, a empresa nasceu com tudo para crescer rápida e saudavelmente. No entanto, no meio do caminho desse avanço, havia a pedra do desaquecimento econômico.
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“As pessoas cortaram gastos, aquilo que consideram supérfluos. E comer fora está entre esses gastos”, nota Anderson. Nesse cenário, os projetos delineados antes da abertura da empresa precisaram ser adiados ou não foram ainda concretizados. “Nossa ideia era abrir outra dogueria em um ano, mas isso ainda não foi possível. Só agora começamos a oferecer serviço de delivery, algo que havíamos planejado para os primeiros meses”, exemplifica.

A dogueria também continua com o mesmo quadro de pessoal desde o início do negócio: uma cozinheira e um chapeiro. “Não conseguimos ainda aumentar esse quadro”, afirma.

Estratégias – Para não ser engolido pela voracidade da crise, o casal de empresários precisou pensar novos ingredientes para a dogueria. Uma das estratégias está na mudança nas compras. “Para evitar desperdício, estamos comprando menos e em espaço mais curto de tempo. Assim, ficamos com estoque menor, mas temos menos perdas”, contou Anderson.

Além de cortar gastos, os empresários também buscam formas de atrair clientes. “Nossa aposta é nas redes sociais”, afirma. O Facebook e o Instagram se tornaram canais para divulgação de promoções da empresa (clique aqui para verificar a página no Face). “Também temos dois dias, na terça e na quinta, com ofertas de combos”, acrescenta.

Outro diferencial mencionado pelo empresário é um cachorro quente criado na dogueira. “É um hot dog pantaneiro, com carne seca desfiada e banana da terra”, descreve.

Dessa mistura de dificuldades, persistência e criatividade, Natalia e Anderson fazem resultar um prato que alimenta a continuidade da empresa, evitando que ela seja devorada pela crise. CGNEWS


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