‘Coisa mais esquisita’

Por: Folha de Dourados
(*) Waldir Guerra
Que coisa mais esquisita, sô! Nunca passei por uma crise de governo tão espichada como esta. Parece que não vai acabar nunca.
O governo da presidente Dilma acabou faz mais de ano e ela continua lá falando coisas e o país parecendo o Titanic: indo a pique. A impressão que se tem é que ninguém faz nada para acabar com a crise e os que teriam a obrigação de por um fim nisso, só fazem mesmo é aumentá-la. Uma coisa muito esquisita!
Lembro do Repórter Esso anunciando o suicídio de Getulio Vargas e a crise que se sofria com o seu governo durou apenas alguns dias após seu enterro lá em São Borja no Rio Grande do Sul. Logo depois veio a eleição de Juscelino Kubitschek e lá se foram alguns bons anos de calmaria, inclusive, ao término do seu mandato, a inauguração da nossa Capital Federal, Brasília.
Jânio Quadros eleito foi pra Brasília e lá ficou por sete meses. Mais enchia a cara que governava. Também uma coisa esquisita, a gente nem sabia o que realmente ele queria – na verdade ele sabia, sim, o que queria: queria governar sem o Congresso – queria ser ditador e esperava que o povo o carregasse nos ombros de volta ao Poder. Enganou-se. Não tinha povo algum esperando para levá-lo de volta. Mais uma crise, porém curta.
João Goulart, conhecido como “Jango”, era vice de Jânio Quadros; assumiu o governo em questão de dias. Jânio renunciou em 24 de agosto de 1961 e Jango já estava no governo do país no dia 8 de setembro de 1961. Houve crise, é verdade, mas curta, nada que se compare com esta atual.
O governo de Jango não foi tão tranquilo assim, mas durou até 1º de abril de 1964. O problema de Jango era o seu cunhado, Leonel Brizola, que se dizia socialista e durante o governo de Jango estava montando o tal “Grupo dos Onze”: onze camaradas doutrinados para levar adiante suas ordens em cada município brasileiro.
Oras, naqueles tempos da Guerra Fria entre Rússia e EUA havia um temor muito grande dos americanos que o Brasil, líder do continente sul-americano, viesse a ter um governo comunista. Isso eles não iriam admitir de maneira alguma, pois tinham acabado de obrigar a Rússia a retirar de Cuba uma enorme quantidade de mísseis com ogivas nucleares depositados na ilha de Fidel Castro pelos russos, a pouco mais de 100 quilômetros dos EUA.
A desestabilização do governo João Goulart foi rápida e acabou ao gosto dos americanos: nas mãos dos militares brasileiros. A crise na transição foi curta e violenta; os militares assumiram na marra; pelas armas. Os militares ficaram no Poder vinte anos e não se falava em crise de governabilidade, simplesmente porque não se podia.
Outra crise que lembro foi a das Diretas Já. Porém, não fosse a morte de Tancredo Neves – por doença, diga-se – que não conseguiu assumir o Poder, nem teria sido assim tão longa, pois em poucos dias José Sarney assumiu e lá ficou por cinco anos. Os militares disseram que iriam fazer a transição do Poder lenta e gradualmente; e cumpriram. Saíram quando perceberam que o povo não os queria mais governando o país.
Agora o povo já disse duas vezes que não quer mais esse governo – e ainda as pesquisas confirmam que 68% dos brasileiros querem o impeachment da presidente – mas os lulopetistas e sua presidente só fazem espichar este (des)governo por mais de um ano. Que coisa, sô!
(*) Membro da Academia Douradense de Letras; foi vereador, secretário do Estado e deputado federal. ([email protected])