Tradição paraguaia recomenda “poção mágica” para não adoecer em agosto

O Mercado 4 de Assunção, o maior do Paraguai, encheu-se nesta segunda-feira com a venda de centenas de litros de “carrulim”, a bebida típica guarani feita à base de cana-de-açúcar destilada, arruda e limão, que, segundo a tradição, ajuda a evitar doenças relacionadas ao quente vento norte de agosto

Como em todos os anos, o mercado ficou lotado de visitantes que se aproximaram dos postos da região conhecida como “o Passeio dos Yuyos” (plantas medicinais) para adquirir esta bebida, que é preparada um mês antes e vendida convenientemente engarrafada.publicidade

Eles confiam nas propriedades medicinais de um líquido que acreditam atuar contra os desmandos do clima do agosto paraguaio, o mês no qual o povo adoece fica e “kaigüé” (desanimado, em guarani), confirmando o popular ditado “Agosto: vaka piru ha guaiguî reraha” (Agosto é o mês no qual morrem as vacas magras).

Baseadas nessa tradição, as “yuyeras”, como são conhecidas as vendedoras de plantas medicinais, fizeram hoje seu “agosto” com o “carrulim”, que era comercializado a 5.000 guaranis (US$ 1) a unidade.

Neste ano, o objetivo foi superar os 500 litros vendidos em 2015, quando foi celebrado pela primeira vez o Poha Ñaná, o dia nacional das plantas medicinais.

“Temos um aumento de vendas de ‘carrulim’ no Passeio dos Yuyos e acredito que estamos superando as expectativas que traçamos. A ideia é consumir todos os 800 litros de cana, arruda e limão”, disse à agência Efe Javier Torres, o organizador do evento.

Ele destacou a importância de manter essa tradição, “porque cada 1º de agosto, oitavo mês do ano, o sangue é renovado, pois é o mês de más ‘vibrações’ e ‘ondas.” “É uma crença nossa muito arraigada na cultura paraguaia”, acrescentou.

Sobre a forma de ingerir o “carrulim” no 1º de agosto, uma das vendedoras, Cristina Amarilla, disse à Efe que se deve tomar em sete goles para que seja alcançado o objetivo de “limpar o sangue, ser uma pessoa mais forte e não ficar doente”.

Amarilla, que vende ervas há 30 anos no Passeio dos Yuyos, explicou que quem adoece durante o ano é porque não tomou o “carrulim” em agosto.

“Isso (o ‘carrulim’) ajuda as pessoas, especialmente às pessoas de idade, ajuda a ser forte, a não adoecer, porque vem muita gripe e vem o dengue. Todas as doenças que vêm, o “carrulim” ataca”, destacou Amarilla.publicidade

A receita tradicional deste amargo licor artesanal não tem uma origem precisa, embora passe de avós a mães e destas a suas filhas, segundo explicou Aparicia Ramírez, que já vende plantas medicinais há mais de meio século.

“A tradicional (receita) de “carrulim” (…) prepara-se com a arruda e a crosta de “guaviramí”, com cana branca. São sete golinhos de manhãzinha e nada mais”, indicou Ramírez.

Ela recebia o “carrulim” de sua avó, que também lhe dizia que era preciso tomar sete tipos diferentes de ervas, o tradicional “tereré”, uma mistura de água fria com diferentes remédios que é servida com erva mate.

“Primeiro, você tem que tomar os sete tipos de remédio, ‘pynoí’, ‘caapiky’, flor de agosto, ‘agrial’, Santa Lúcia… completar os sete tipos. E depois o ‘carrulim'”, afirmou Ramírez.publicidade

Agora é ela, com seus 70 anos, quem ensina aos compradores do Mercado 4 a maneira de manter a tradição do primeiro de agosto.

“Às vezes, há gente que não quer tomar o remédio ‘yuyo’, e o remédio ‘yuyo’ é normal e natural, não tem drogas nem nada. Precisamos tomar, porque todos temos uma doença, dor de cabeça, dor de ossos. É a tradição”, explicou.

No entanto, a “yuyera” advertiu que o uso de “carrulim” deve ser moderado, com poucos e leves goles, porque, quem abusa “nde monga’ú” (fica bêbado, em guarani). Terra