1ª cidade fundada por italianos no Brasil é a que mais produz vinhos e espumantes no ES

Santa Teresa, na Região Serrana do Espírito Santo, tem despertado interesse de pesquisadores para trazer maior qualidade ao plantio de uvas para a produção de suco, vinhos e espumantes.

Por Roger Santana, TV Gazeta

Santa Teresa, conhecida por ser a primeira cidade fundada por italianos no Brasil, é também o município que mais produz vinho, espumantes e sucos de uva no Espírito Santo. A busca pelo conhecimento e parceria com institutos de pesquisa fazem a produção ganhar força e qualidade, conquistando espaço e clientes pelo país.

A cidade, localizada na Região Serrana capixaba, tem despertando o interesse de pesquisadores, que têm levado conhecimento aos agricultores e fabricantes de vários derivados da uva. A região também se destaca na produção de uvas.

Uma das maiores preocupações e desafios de produtores e pesquisadores é como ampliar o plantio de uva e manter o equilíbrio ecológico.

“Imagina a diversidade de relações que existe em uma floresta e, de repente, você tirou aquilo ali e colocou uma cultura ali no meio. Dá um desequilíbrio tremendo”, explicou o doutor em entomologia e professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), Lusinerio Prezotti.

Santa Teresa, no Espírito Santo, se destaca na produção de uvas no estado — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Santa Teresa, no Espírito Santo, se destaca na produção de uvas no estado — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Encontros e palestras são realizados com frequência para os envolvidos na produção e envolvem a participação do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão (Incaper), do Ifes e do Ministério de Agricultura.

Para o professor do Ifes, é uma forma de não só preservar o meio ambiente, mas também de produzir uma uva de melhor qualidade e mais protegida do ataque de pragas e mudanças climáticas.

“Se a gente conseguir imitar um pouquinho do que acontece na floresta, a gente resgata esse equilíbrio novamente. Não total, mas pelo menos melhorar bastante em relação ao que estava”, complementou o professor.

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Proteger a uva e o meio ambiente também é garantia de água na propriedade. E na irrigação a diferença entre uma boa produtividade e um resultado ruim, pode estar na dose.

“Essa água em excesso vai levar nutrientes para outras regiões do solo que a planta não aproveita. Então, você tem vários desperdícios no sistema. Além de comprometer o resultado”, disse o pesquisador do Incaper, Caio Louzada Martins.

Palestras tem sido dadas para produtores em Santa Teresa para aperfeiçoar produções de vinho — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Palestras tem sido dadas para produtores em Santa Teresa para aperfeiçoar produções de vinho — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Um técnico consegue orientar os produtores e apontar todos os fatores que precisam ser levados em conta na plantação. Lara Silvestrin é engenheira agrônoma e atua no Sul do país. O interesse por Santa Teresa veio pela semelhança com as terras gaúchas.

“Quando eu vim para cá, me surpreendeu com as similaridades com relação ao Rio Grande do Sul, principalmente pela cultura italiana e pela característica de ser agricultura familiar de pequenas propriedades”, contou a engenheira agrônoma.

A engenheira trabalha junto aos produtores na conscientização sobre os riscos do uso do agrotóxico e as vantagens do cultivo orgânico.

“Isso vai trazer redução de custos de produção para o agricultor, porque ele vai ter menos custos na aquisição desses insumos que são caros, vai ter melhora na qualidade de saúde dele, por não usar agrotóxicos. Vai ter menos contaminação de solo e de água, porque o adubo em excesso também contamina o solo e a água. E para o consumidor também, claro, porque vai consumir um alimento mais saudável”, pontuou Lara.

O clima ameno ajuda na qualidade da produção de uvas em Santa Teresa, no Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta

O cultivo sem defensivo químico e sem ataque de pragas exige o plantio de variedade resistente a doenças, e o conhecimento do solo para saber como é a absorção da água e do adubo e, assim, definir a quantidade aplicada para conseguir uma uva de qualidade.

Foram os pesquisadores que ajudaram a produtora Élida e o marido na transição do cultivo tradicional para o orgânico. Os primeiros pés de uva forma plantados em 1988 e o primeiro vinho foi feito em 1990.

Hoje, o casal tem duas mil plantas de variedades diferentes. Mas é a uva cora que desperta a curiosidade pela sua coloração.

“É um vinho bem cheiroso, bem saboroso. Ai faz seco, meio seco e suave. E até hoje, sempre, o carro-chefe que mais vende é cora (uva para vinho). Só a gente faz no município de Santa Teresa, esse cora. Faz vinho e suco integral também”, disse a produtora rural, Élida Tonn Braun.

Uva cora é destaque na produção e é utilizada para fazer vinhos e suco integral da fruta — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Na Serra Gaúcha ela encontrou as referências de uma boa fermentação para chegar a um vinho com mais sabor e aroma.

Sergio Spreandio tem uma das vinícolas mais conhecidas de Santa Teresa.

“Foi plantio de café, depois começou a entrar os plantios de eucalipto na região. Em seguida, veio o plantio de tomate que a gente trabalhou bastante tempo e chegamos a ser o segundo maior produtor de tomate do estado. Depois, começou a ficar desgastado. Aí um sobrinho meu chegou com a ideia de fazer plantio de frutas. Aí eu comecei com plantio de pêssego, ameixa. Junto, ele falou porque eu não plantava uva também. E aí começamos o plantio de uva em 1997, 1998”, explicou o produtor.

O produtor contou que nos últimos dez anos o plantio de uva e produção de vinho foram se modernizando e, com isso, aumentou o acesso a novas tendências de produção.

Casal de Santa Teresa, no Espírito Santo, já cultiva uvas há mais de 30 anos — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Casal de Santa Teresa, no Espírito Santo, já cultiva uvas há mais de 30 anos — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Pensando em ajudar os produtores, o Ifes de Santa Teresa deve ampliar a pesquisa sobre a produção de vinhos e espumantes.

“Podem ser feitos pequenos testes, que não vão mais ser feitos na indústria do produtor, então ele não precisa parar sua produção, ele pode testar blends de vinhos, de fermentados, até mesmo de cachaça aqui. Testar sua produção e depois testar o aceite do público ou não aqui no laboratório. Ele pula etapas sem antes lançar o produto para o comércio”, comentou o coordenador de Gestão do Campo do Ifes, Victorio Birchler Tonini.

Essa troca de conhecimento, a assistência agrícola e a preservação ambiental, são incentivos que fazem das vinícolas de Santa Teresa uma referência para o estado e o país.