Especialistas explicam por que o Pantanal tem recorde de incêndios em plena época de chuva

O fogo já consumiu mais de 1 milhão de hectares do Pantanal neste ano, o triplo do que foi registrado em 2022. É o pior novembro em quantidade de incêndios em 21 anos.

Por Victória Oliveira e Amábile Monteiro*, g1 MT

17/11/2023 08h43  Atualizado há uma hora

esta semana, os incêndios no Pantanal chegaram à rodovia Transpantaneira, que liga o município de Poconé, a 104 km de Cuiabá, a Porto Jofre, na divisa de Mato Grosso com Mato Grosso do Sul. No entanto, o bioma já vem queimando há mais de 30 dias, nos dois estados. Até o momento, o fogo consumiu mais de um milhão de hectares da biodiversidade, o triplo do que foi registrado no ano de 2022 inteiro. É o pior novembro em número de incêndios em 21 anos.

Pouca chuva e os efeitos do El Niño explicam o recorde de focos de fogo em pleno período chuvoso, que vai de outubro a março, segundo especialistas. De acordo com o meteorologista Guilherme Borges existem regiões isoladas em que não se pode atribuir a culpa dos incêndios à ação humana.

“As pancadas de chuva na região não acumulam valores significativos e geralmente estão acompanhadas por raios. Quando esses raios atingem o solo e entram em contato com a vegetação já muito seca, favorecem a ocorrência de queimadas. Outro fator importante são os ventos, que ajudam a espalhar o fogo com mais facilidade”, explica.

Guilherme ainda destaca que este ano é marcado pelo fenômeno El Niño, caracterizado por deixar a massa de ar mais seca sobre a parte central do país.

Fogo no Pantanal — Foto: g1

Fogo no Pantanal — Foto: g1

Assim, as temperaturas tendem a ficar mais elevadas, enquanto a chuva ocorre de maneira irregular, em pancadas associadas ao forte calor, sem acumular valores significativos que possam combater os focos de incêndio.

O coordenador de inteligência territorial do Instituto Centro de Vida (ICV), Vinícius Silgueiro, disse ao g1 que a situação atual dos incêndios, neste mês, é um claro indicativo das mudanças climáticas em curso. Segundo ele, os dados revelam a redução dos períodos de chuva, agravada este ano pelo fenômeno El Niño, resultando em um significativo aumento de temperatura.

“Essa situação do bioma pantaneiro mato-grossense dos incêndios faz com que Poconé seja o município líder em área queimada em todo estado de Mato Grosso. Mais de 15% do município já foi queimado”, disse

🔥Pantanal em chamas

O fogo já consumiu mais de 1 milhão de hectares do Pantanal neste ano, o triplo do que foi registrado em 2022, conforme dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa/UFRJ).

Somente nos primeiros 15 dias de novembro foram 3.024 focos, o pior registro para o mês na série histórica desde 2002, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Na última terça-feira (14), os governos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul decretaram ambiental devido aos incêndios que avançam. G1