O Fantástico deste domingo (4) foi até a região atingida pelo maior terremoto da história do Japão, em 2011. Desde então, o país passou a investir fortemente em prevenção de tragédias naturais.
Os muros tem de 12 a 15 metros de altura e possuem extensão total de 400 km (custaram US$ 6,8 bilhões) e no tsunami de 2011 algumas ondas atingiram mais de 30 metros de altura, sendo oque em um porto passou de 40 metros
Mesmo podendo ser menor que um tsunami, o objetivo do muro não é impedir a passagem do mar e sim atrasar a inundação, dando tempo das pessoas escaparem e salvando dezenas de milhares de vidas



24 de novembro de 2020
Após 10 anos, Japão conclui paredões contra novos tsunamis
Em 11 de março de 2021 fará 10 anos que um tsunami atingiu parte do litoral japonês, devastando as cidades de Fukushima, Miyagi e Iwate. Meses antes do decênio, as prefeituras locais estão em fase de conclusão dos paredões de concreto projetados após a tragédia de 2011, para evitar novas catástrofes. Dos 370 quilômetros de muralhas planejados, foram entregues 395 quilômetros – 25 quilômetros a mais. As construções começaram em 2014, a um custo de 12 bilhões e 740 milhões de dólares. Algumas tiveram a conclusão em 2018 e outras estão em vias de serem finalizadas.
A altura dos paredões varia de 12,5 metros a 15 metros. Houve cidades não atingidas pelo tsunami de 2011, mas que foram alvos de outras ondas gigantes, que também decidiram erguer muralhas próximas do mar. É o caso de Shizuoka, onde uma estrutura com 17,5 quilômetros de extensão, e 15 metros de altura, foi recentemente concluída. Todas as construções usaram a mesma tecnologia: terra armada revestida por muros de contenção montados com peças pré-moldadas de concreto.
Obviamente, as estruturas que impedem a vista do mar dividem a população. Porém, especialistas as defendem. É o caso de Hiroyasu Kawai, diretor do departamento de engenharia do Instituto de Pesquisa de Portos e Aeroportos do Japão. O organismo estuda projetos antitsunamis desde 2004. “Os paredões vão deter os tsunamis e evitar que inundem regiões do país. Mesmo que o tsunami seja maior do que os paredões, as estruturas estão projetadas para suportar o impacto e atrasar a velocidade das inundações, dando tempo para a evacuação das cidades”, explica.




13/03/2018
Os grandes muros construídos para proteger japoneses dos tsunamis
Era uma vez um prefeito de uma cidade japonesa com cerca de 30 mil habitantes chamada Fudai. Quando foi eleito, na década de 70, Kotaku Wamurapôs uma ideia na cabeça: no seu mandato, ele iria construir um muro tão alto que protegeria sua cidade de qualquer tsunami. Wamura não conseguia parar de pensar nos horrores causados pelas ondas enormes que varreram seu município em duas ocasiões distintas: 1893 e 1933. A cidade, que basicamente vive do turismo e das algas que os pescadores buscam no mar, ficou praticamente soterrada pelas águas e muita gente morreu. O prefeito, que era um jovem idealista quando ocorreu a segunda tragédia, não queria que isso acontecesse enquanto fosse ele a administrar Fudai. E o muro foi erguido.
O povo de Fudai, que fica a cerca de 500 km de Tóquio,não ficou muito contente durante a obra, que durou cerca de 12 anos e gastou 20 milhões de libras. Muita gente criticou, dizendo que era dinheiro gasto à toa, que não iria resolver o problema, questionaram valores e intenção.Wamura não quis só um muro, mas construiu também imensos painéis que podem ser levantados para permitir que o Rio Fudai esvazie para deixar mais espaço para o mar e, assim, bloqueie as ondas. Os proprietários das terras que tiveram que ser realocados para a construção protestaram. Mas Wamura estava tão seguro de si que conseguiu convencer a todos. E a estrutura de concreto terminou de ser construída em 1984, por um valor que chegou perto de 4 bilhões de ienes.
Wamura morreu em 1997, aos 88 anos. Mais de uma década depois, em 2011, quando um imenso tsunami varreu o Japão, matando quase 18 mil pessoas em todo o país, os ventos e as ondas golpearam fortemente a praia de Fudai, na enseada na cidade, e barcos foram destruídos no porto. Mas na aldeia nenhuma casa foi destruída, não houve uma morte. Passada a tormenta, a cidade em romaria foi ao túmulo de Wamura agradecer e deixar flores para o ex-prefeito.
Talvez esta história tenha inspirado a construção dos atuais muros que estão sendo construídos no Japão, como uma forma de tentar evitar que outro tsunami aterrorize a região como aconteceu há sete anos. As paredes têm 12,5 metros de altura e substituíram os quebra-mares, que com o tsunami mostraram-se ineficazes. Em toda a costa japonesa há agora cerca de 395 quilômetros de muros de concreto, construídos por 6,8 bilhões de dólares, para tentar barrar as águas do mar do Japão caso elas, de novo, sejam insufladas pelos ventos a ponto de se tornarem perigosas aos humanos.
Em 2011, algumas ondas chegaram a 30 metros de altura. Será, então, que muros de “apenas” 12 metros vão conseguir barrar o fenômeno? Segundo Hiroyasu Kawai, pesquisador do Instituto de Pesquisa do Porto e do Aeroporto em Yokosuka, disse ao jornal britânico “The Guardian”, mesmo que o tsunami seja maior em altura, o muro terá o efeito de atrasar as inundações, talvez garantindo também mais tempo para a evacuação das pessoas.
Assim como aconteceu no tempo de Wamura, agora também tem muita gente contra a construção das paredes. Quer seja porque enfeia espaços que têm vocação turística, quer seja porque o governo deixou de reconstruir algumas edificações importantes pós-tsunami e priorizou a verba para erguer os muros, o fato é que há cidadãos tristes com tantas edificações anacrônicas na paisagem japonesa. Há quem diga que os muros se parecem com uma prisão, e eu não posso discordar.
Em Fudai, cidade de Wamura, muitos ainda se lamuriam.
“Todos aqui viveram com o mar e do mar, através de gerações. O muro nos mantém separados dele, e isso é insuportável” , disse Sotaro Usui, chefe de uma empresa de abastecimento de atum, à reportagem do “The Guardian”.
O risco, dizem especialistas que se opõem ao projeto, é que os muros podem acabar dando às pessoas uma falsa sensação de segurança. Outros discutem o impacto ambiental que tanto concreto já trouxe ao país. Em Iwanuma, por exemplo, o prefeito da cidade preferiu substituir o muro cinza por uma barreira feita com uma espécie de cerca viva, ou seja, florestas plantadas ao longo da costa em locais altos que poderiam barrar as águas.
Em outros lugares do mundo os humanos também precisam se proteger contra a fúria das águas do mar quando ventos as deixam violentas. E, como os cientistas já se cansam de provar, o abuso do uso dos combustíveis fósseis pela humanidade deixa uma chance enorme de que mais e mais eventos como esse aconteçam.
Na Holanda, em Roterdã, o Maeslant é um imenso portão que foi instalado em 1997 na via fluvial que conecta a cidade ao Porto, no Mar do Norte. Pode se fechar se as ondas começarem a se elevar muito. A expectativa é que só se feche de dez em dez anos. Até agora, funcionou em 1997 e 2007.
A barreira está conectada a um sistema de computadores que funciona da seguinte maneira: com ondas no Mar do Norte acima de três metros de altura ela se fecha automaticamente. Mas todo o processo é acompanhado por funcionários vigilantes, que avisam aos navios com quatro horas de antecipação. Estive em Roterdã em 2010 e pude visitar o local onde fica a grande barreira. Conversei também com os funcionários responsáveis por avisar aos navios. O que observei foi um senso tremendamente responsável e de seriedade no trabalho de todos.
Não é para menos. Trata-se de um processo de adaptação necessário para se viver em grandes cidades costeiras. Mas, sabem o que destoa totalmente desse tipo de atitude? Construções feitas à beira-mar, como a Ciclovia Tim Maia, por exemplo. Ou o que as autoridades do Principado de Mônaco, país onde há a maior concentração de bilionários por centímetro quadrado, pensa em fazer: permitir a construção de ilhas artificiais no mar para caber mais bilionários no território. Todos querem Mônaco, sobretudo porque lá se paga poucos impostos. O príncipe Albert 2º é contra a construção, o que nos deixa uma dose de esperança de que tal aberração não seja levada adiante.
https://noticias.ambientebrasil.com….-tsunamis.html
http://g1.globo.com/natureza/blog/no…-tsunamis.html
Falsa segurança?
Segundo vários especialistas, a muralha pode reduzir a potência do impacto de um eventual tsunami e, desta forma, o dano causado pela onda. Mas, também pode criar uma espécie de falsa confiança.
Muitos dos que morreram ou desapareceram no último tsunami não prestaram atenção aos alertas de perigo.
Margarta Wahlstrom, diretora do Escritório da ONU para Redução de Riscos em Desastres, lembra que a falta de uma infraestrutura básica pode ser catastrófica quando países em desenvolvimento são atingidos por estes fenômenos. Mas a dependência extrema deste tipo de proteção pode fazer com que as pessoas se sintam seguras demais.
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“Há uma fé exagerada na tecnologia como solução, apesar de tudo que aprendemos, nos mostra que o conhecimento e a intuição das pessoas é o que faz a diferença. A tecnologia, de fato, nos torna um pouco mais vulneráveis”, disse Wahlstrom durante uma conferência na semana passada em Sendai, Japão.
Akie Abe, esposa do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, também fez críticas ao projeto.
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Na opinião de Akie, a muralha fará com que os moradores das cidades costeiras não fiquem atentos aos sinais de um tsunami no futuro. Além disso, para ela, a manutenção desta muralha será cara.
Eficácia questionada
Outros duvidam até da eficácia da muralha.
“O mais seguro é que as pessoas vivam em locais mais elevados e que suas casas e locais de trabalho estejam em áreas diferentes. Se fizermos isto, não precisaremos de uma grande muralha”, disse à agência AP Tsuneaki Iguchi, prefeito de Iwanuma, cidade que ficou debaixo d’água no último tsunami.
As provas quanto à utilidade da muralha não são unânimes.
Em 2011, a localidade de Fudai, no noroeste da ilha, escapou das ondas graças a um sistema de comportas e um muro. Estas construções foram feitas graças a um prefeito do local que enfrentou um tsunami e fez com que a construção do muro fosse uma prioridade de seu governo.
O projeto, iniciado na década de 1970, foi muito criticado, classificado como um gasto desnecessário. Mas, graças a este projeto, Fudai se manteve de pé.
No entanto, na região de Kamaishi, na prefeitura de Iwate, um grande muro que demorou três décadas para ficar pronto a um custo de US$ 1,6 bilhões (mais de R$ 5 bilhões) desmoronou durante o tsunami de 2011 e deixou a cidade totalmente sem defesas.
Mas, apesar de as obras da grande muralha já estarem em andamento, o certo é que nenhum projeto de construção poderá eliminar totalmente a necessidade de proteção dos fenômenos mais violentos da natureza.
“O que quero destacar é que não importa o que as pessoas tentem criar, não vamos vencer a natureza. Por isso nós, humanos, temos que encontrar uma forma de coexistir com ela. É preciso fugir quando há perigo. O mais importante é salvar sua vida”, disse à agência de notícias AP Takeshi Konno, prefeito da cidade costeira de Rikusentakata.
https://www.bbc.com/portuguese/notic…lha_tsunami_fn
Editado por San Andreas em 11-03-2021 às 16:35