“MARCHA DA FAMÍLIA” EM FOZ TEM GRITOS CONTRA ÁRABES E CHINESES

sociedade

Na manhã deste sábado (22), 5 mil pessoas se manifestaram Marcha da familia Iguaçuensena Avenida JK, numa reedição nacional da chamada Marcha da Família, ocorrida em 1964 contra o Presidente João Goulart. Em Foz, o evento que originalmente é oposição ao comunismo e aos costumes progressistas, ganhou contornos extremo-sulistas, através de cartazes e gritos de ordem contra chineses e árabes que vivem na cidade.

Superando a expectativa dos organizadores, a “Marcha da Família Tradicional Iguaçuense”, que congregou somente pessoas sulistas e brancas caucasianas, levou uma faixa gigantesca com dizeres “chinas e turcos peçam pro Gugu pra vocês voltarem pra tuas terras”, distinções pejorativas para designar estes coletivos na fronteira. A marcha, que a princípio era um ato de defesa político-ideológica, se tronou regionalista-xenofóbica com demonstrações de total aversão a estrangeiros.

O grupo pediu a volta dos costumes gaúchos, primeiros colonizadores da fronteira, e menos intervenção estrangeira na vida social da cidade. Conforme relato de vários integrantes da marcha, a população sulista que já correspondeu a 100 por cento habitantes de Foz, está agora reduzida a menos de 1 terço do total dos moradores. Os integrantes da “Marcha da Família” pedem a proibição de escolas étnicas, como a escola árabe, e de centros culturais que obstaculizam a expansão da cultura gaúcha na cidade. Para a organização “é uma vergonha que haja somente um CTG, o Charrua abandonado e lembrado só nas épocas de Fartal, enquanto não pára de surgir locais como o Templo Budista, Aliança Drusa, Centro Árabe-Brasileiro e até associação de paraguaios”.
Faixa polêmica: Segundo pessoas contrárias a marcha, a faixa não foi feita com material ecologicamente correto
Uma petição assinada na churrascaria do gaúcho, repudiou a substituição do hábito familiar de comer churrasco no domingo, agora trocado pelas kaftas, esfias e kibes, com destaque de crítica para o Zeca Espetinho.

Também foi pedido o fim do costume dos árabes de enviar os filhos para Líbano e outros países de origem logo aos 15 anos, para trazer seus maridos ou mulheres de lá, criando um círculo de isolamento cultural incompatível com os preceitos da tradicional família iguaçuense. O grupo propôs ainda a substituição imediata das abeie e galábias, vestimentas semitas, pelas pilchas gaúchas, fato este difícil, já que a maioria dos árabes só usam Dolce&Gabbana, Lacoste e Tommy Hilfiger.

A preocupação com a boa alimentação
esteve presente no protesto
No caminho, próximo ao Fuadi Center, lanchonetes de Shauwarmas foram incendiadas, destruídas e pichadas com símbolos gaúchos. O restaurante chinês Hokkila Godzilla e o japonês Sushi Rokkai Do, tiveram suas faixadas interditadas por sacos de lixos arremessados pelos manifestantes que exigiram a interdição dos locais pela vigilância sanitária eugênica. Segundo Olga Borhausen, mulher do líder da marcha, estes restaurantes multiétnicos representam a degradação que a família iguaçuense vem sofrendo desde a chegada dos primeiros libaneses na década de 70. “Se tu veres, néh, onde é este restaurante chamado Saara, néh, era uma linda churrascaria gaúcha, chamada Boi na Brasa, bah, que foi vendida por pressão dos árabes que estão tomando o comércio em toda a Avenida Jk, sabe?” disse ela indignada.

De fato 90 por cento dos comércios na região, estão nas mãos de árabes e chineses que dominaram o mercado nas áreas de alimentação e confecções. As churrascarias na cidade estão em extinção. Os integrantes da Família Tradicional Iguaçuense, também não entendem porquê os árabes preferem torcer para times como o Corinthians e São Paulo, que para Grêmio ou Internacional, o que causa revolta na Associação Colorada InterFoz da Vila Portes.

A marcha, considerada um sucesso, teve seu ponto final no Terminal de Transporte Urbano (TTU), onde os manifestantes se juntaram em círculo para discutir novos rumos para grupo, num debate regado a chimarrão e a tragos de arguile.