O MASSACRE DO HERDEIRO DE FERNANDINHO BEIRA-MAR

A rota sangrenta do filho de Marcelo Fernando de Sá Costa, que nas primeiras horas do ano roubou um carro e matou três pessoas escolhidas ao acaso em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense

Eram cerca de 9h40 do primeiro dia de 2019 quando dois policiais militares passaram pela Avenida Automóvel Clube, no município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense, em busca de um Fiat Idea verde roubado naquela manhã. Trafegando pela via, a dupla notou, parado no meio da pista, um veículo da mesma marca e cor daquele que procuravam. O carro havia colidido com uma divisória, e saía fumaça da parte dianteira. Curiosos se amontoavam no local. Ao descerem da viatura, os PMs perguntaram quem dirigia o carro. Marcelo Fernando de Sá Costa foi logo apontado como o motorista. Terminavam ali os 70 minutos de uma manhã de fúria do filho de um dos maiores traficantes do país, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.

Costa, de 27 anos, que costuma se apresentar como produtor de eventos, havia passado a virada de ano na festa de Réveillon que organizara no bairro Parque Beira Mar, na mesma cidade. Às 8h30, quando o lugar ainda despertava da madrugada festiva, ele se colocou no meio da Avenida Presidente Kennedy, na altura do bairro de Gramacho, e fez sinal para que o motorista de um Fiat Idea verde que se aproximava parasse. O vigilante Geovanne Pereira do Vale achou que era um pedido de ajuda e obedeceu. Viu então a arma apontada em sua direção e ouviu a ordem para que saísse do carro. Rapidamente, o criminoso entrou no veículo, manobrou e seguiu na direção oposta.

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Costa andou menos de 1 quilômetro até o bairro Vila Rosário, também em Duque de Caxias. Um pouco adiante, parou o carro e abriu fogo contra Diogo Luiz Carvalho de Lima, de 25 anos, que ainda comemorava o Réveillon. O jovem levou sete tiros e morreu no local. Mais à frente, Costa virou à esquerda e reduziu a velocidade. Sentado na calçada, quase na frente de casa, estava Wesley Oliveira da Silva, de 24 anos. Foram ao menos dois disparos. Em seguida, Costa fugiu. Silva chegou a ser levado para uma Unidade de Pronto Atendimento, onde tentaram reanimá-lo, sem sucesso.

Apesar de ser filho de Fernandinho Beira-Mar, um dos líderes do Comando Vermelho, Marcelo Costa chegou a ser batizado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), quadrilha rival à de seu pai Foto: Thiago Freitas / O Globo
Apesar de ser filho de Fernandinho Beira-Mar, um dos líderes do Comando Vermelho, Marcelo Costa chegou a ser batizado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), quadrilha rival à de seu pai Foto: Thiago Freitas / O Globo
Após o duplo homicídio, Costa seguiu por mais 9 quilômetros até a Estrada Barão do Amapá. Por ali, passava o empresário Wallace Manoel Simões Rangel, de 38 anos, com sua esposa e o filho de 10 anos no carro. A família seguia para a casa da sogra. Rangel manobrava o veículo quando o Fiat Idea verde encostou a seu lado. Com o vidro abaixado e sem dizer uma palavra sequer, Costa atirou ao menos quatro vezes contra o carro da família. Em seguida, saiu em disparada. O motorista ainda conseguiu puxar o freio de mão e abrir a porta, mas caiu ao solo. O empresário morreu horas depois, em um hospital particular.

Dali, Costa dirigiu por mais de 20 quilômetros até a Avenida Automóvel Clube, onde acabou batendo o carro roubado. Ao chegarem ao local, os policiais ainda não sabiam que estavam diante do filho de um dos principais traficantes do país. Pelo cheiro de bebida, perceberam que o homem estava embriagado e suspeitavam que também havia consumido drogas. Desconfiados, revistaram o carro e logo avistaram vários cartuchos de munição deflagrados. Ao lado do veículo, encontraram uma pistola dentro de uma mochila.

Foi então que os policiais fizeram contato com seus oficiais superiores que estavam de serviço no batalhão. Após dizer o nome do homem que haviam prendido, receberam a informação: tratava-se de um dos herdeiros de Fernandinho Beira-Mar. Com a confirmação da identidade de Marcelo Costa, foi enviado reforço para o local. No caminho até a delegacia, ele pouco falou. Quieto, lutava para tentar retirar as algemas colocadas pelos policiais. “Só estou sendo preso por ser filho dele”, disse, lacônico.

Investigadores da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense acreditam que o ataque em Vila Rosário tenha sido motivado por uma vontade de Costa de demonstrar poder. Há cerca de quatro meses, seu pai, Beira-Mar, perdeu o controle da venda de drogas na comunidade, que passou a ser dominada por uma quadrilha rival. O criminoso tomou um golpe daquele que era um de seus principais comparsas, o traficante conhecido como Trem. O local das mortes é próximo a um ponto de venda de drogas. Costa não conhecia as vítimas e teria atirado a esmo, sem um alvo. “Foi um ato de descontrole para mostrar força, demonstrar que tem condições de retomar a região”, afirmou o delegado Daniel Rosa, responsável pelas investigações.

O azar dele foi ter roubado o carro “errado”. O Fiat Idea verde tinha um rastreador colocado pela seguradora. Foi a empresa que guiou os policiais militares do batalhão de Duque de Caxias até o veículo. O rastreador também demonstrou à polícia que o veículo esteve na Estrada Barão do Amapá no horário em que Wallace Rangel foi morto. Uma câmera de segurança também flagrou o automóvel passando pela via. Além disso, o vigilante Geovanne Pereira do Vale, dono do carro, reconheceu Costa na delegacia.

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E não foi só: a Delegacia de Homicídios conseguiu provas de que os tiros dados nas três vítimas fatais partiram da pistola encontrada com o filho de Beira-Mar. Peritos fizeram a comparação com projéteis recolhidos no local do crime por familiares das vítimas do duplo homicídio e também de um projétil retirado do corpo de Rangel. Era o que faltava para fechar de vez o quebra-cabeça. Costa foi indiciado por três homicídios qualificados. Além disso, também responde pelo roubo do carro e pelo porte da arma de fogo de uso restrito.

Entre as famílias das vítimas de Costa, o silêncio. Todos aqueles que foram procurados pela reportagem preferiram não dar qualquer tipo de declaração. O advogado de Costa, Marco Aurélio Torres, reforça o discurso de que seu cliente só foi preso por ser filho de Beira-Mar.

“A tese defensiva é que os elementos do inquérito indicam que ele não participou do roubo e, consequentemente, dos delitos de homicídio que lhe são imputados. No momento em que ele foi abordado, estava do lado de fora do veículo. Tudo será devidamente provado no processo. Sua prisão foi apenas por ostentar a condição de filho do Luiz Fernando”, afirmou o advogado.

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Por causa dos crimes cometidos na virada do ano, Marcelo Costa está preso na Penitenciária Laércio da Costa Pellegrino, conhecida comoBangu 1, unidade de segurança máxima no Rio de Janeiro Foto: Hipólito Pereira / Agência O Globo
Por causa dos crimes cometidos na virada do ano, Marcelo Costa está preso na Penitenciária Laércio da Costa Pellegrino, conhecida comoBangu 1, unidade de segurança máxima no Rio de Janeiro Foto: Hipólito Pereira / Agência O Globo
Costa estava solto havia pouco mais de um ano. Ele havia sido preso em junho de 2017, dentro da própria casa, em Duque de Caxias. Fora pego de surpresa: não sabia que havia um mandado de prisão contra ele em processo por tráfico internacional de drogas na Justiça Federal do Rio de Janeiro. Em outubro de 2017, conseguiu um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça e ganhou o direito de recorrer em liberdade da condenação de 11 anos e sete meses de prisão no processo.

Ele nasceu em novembro de 1990, ano em que seu pai começou a ascender no crime. Na época, Beira-Mar abriu os próprios canais de distribuição de drogas. Com o tempo, tornou-se o principal fornecedor de armas e entorpecentes da facção criminosa Comando Vermelho. Atualmente, ele é fornecedor de várias favelas, e não apenas das quais domina, a maioria delas na Baixada Fluminense.

Na delegacia, ao ser preso pela última vez, Costa afirmou que é estudante, casado e mora no bairro Parque Beira Mar, em Duque de Caxias. Ele tem apenas uma filha, Laura, que completou 1 ano em dezembro de 2018. Na ficha de Costa, consta que ele é sócio de uma produtora musical e de uma distribuidora de bebidas e alimentos.

Costa é o primogênito de Fernandinho Beira-Mar. Sua mãe, Ivana Pereira de Sá, de 53 anos, é uma das ex-mulheres do traficante. Em 2008, quando já não era mais casada com Beira-Mar, ela foi presa ao chegar para visitá-lo na penitenciária federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Ela era acusada de repassar ordens do traficante para os integrantes da quadrilha. Ao fim do processo, foi absolvida.

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Também em 2008, em março, Costa, então com 17 anos, foi apreendido pela primeira vez pela polícia. O rapaz foi abordado com outro adolescente. Ambos estavam armados, e o amigo de Costa revelou aos policiais que eles pretendiam roubar veículos na região. Cinco anos depois, em 2013, Costa foi acusado, em processo da Justiça Federal do Rio, de ter trazido do Paraguai para o Rio mais de 150 quilos de cocaína. A droga, que estava em 150 tabletes, foi apreendida em um caminhão no dia 28 de novembro na Rodovia Presidente Dutra, na Baixada Fluminense. Foi por esse processo que Costa foi preso em 2017.

Ainda em 2013, surgiram outros indícios de que ele circulava pelo Paraguai. Um relatório da Inteligência da Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, onde Beira-Mar estava preso, afirmava que Costa viajava frequentemente para o país vizinho, onde contava com o auxílio do traficante José Tomas Rojas Cañete, o Toma’i. O documento apontava ainda que o filho de Beira-Mar estava à frente de um plano para comprar um avião para a família.

Em 2016 e 2017, a quadrilha de Beira-Mar foi investigada pela Polícia Federal de Rondônia, que descobriu um engenhoso esquema de comunicação do traficante por meio de pequenos bilhetes. A investigação revelou que, de dentro do presídio de Porto Velho, Fernandinho Beira-Mar continuava comandando seus negócios, principalmente o tráfico de drogas e armas. Para isso, contava com o auxílio de seus familiares, incluindo seus filhos Luan Medeiros da Costa e Felipe Alexandre da Costa. Marcelo Costa não foi alvo das investigações, pois havia informações de que sua atuação no tráfico de drogas, na época, concentrava-se na Bolívia.

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Em meio às investigações, os agentes federais descobriram que Costa chegou a ser batizado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), quadrilha rival à de seu pai. Fernandinho Beira-Mar, no entanto, teria decidido não interferir nas atitudes do filho. Uma carta descoberta pelos policiais revelou ainda que Costa havia sido jurado de morte por um homicídio que havia cometido na Bolívia ou no Paraguai.

Até sua manhã de fúria, ele não era procurado pela polícia. Recorria em liberdade de uma única acusação, por tráfico internacional de drogas, na Justiça Federal. Em pouco mais de uma hora, pode ter acrescido mais de 122 anos de prisão a sua ficha criminal, número ainda longe dos quase 340 anos de prisão aos quais o pai já foi condenado. Desde que foi preso, há pouco mais de um mês, o filho de Beira-Mar é mantido na Penitenciária Laércio da Costa Pellegrino, conhecida como Bangu 1, única unidade de segurança máxima no Rio. Em breve, deve ser transferido para a Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho, Bangu 3, que abriga as principais lideranças do Comando Vermelho.
REVISTA ÉPOCA.

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