Produtividade da soja em função da redução do espaçamento entre linhas

O objetivo deste trabalho é verificar se a redução do espaçamento entre linhas da soja pode melhorar o aproveitamento de água, luz e nutrientes da cultura e refletir na produtividade.

Autores: FÁVERO, F.1; MADALOSSO, T.1; ROY, J.M.T1

Trabalho publicado nos Anais do evento e divulgado com a autorização dos autores.
A produtividade da cultura da soja é definida pela interação entre a planta, ambiente de produção e o manejo utilizado. Dentre as práticas de manejo a escolha do cultivar, época de semeadura e densidade de plantas, são fatores que influenciam diretamente no rendimento de grãos da soja.

As mudanças morfofisiológicas na arquitetura de plantas de soja e mudanças de manejos ocorridas nos últimos anos em seu cultivo instigam a reavaliação das práticas de cultivo. Dentre as estas o processo de semeadura é uma delas que está relacionada à forma de distribuição e o arranjo de semente na linha e entre linhas. Em geral, populações que variam entre 160 e 360 mil plantas de soja por hectare afetam pouco a produtividade de grãos, desde que as plantas estejam distribuídas uniformemente na área (Luca & Hungria, 2014).

O manejo tradicional da soja no Brasil se consolidou no espaçamento entre linhas de 40 a 50 cm entre linha. (Strieder et al. 2014) e a indústria de máquinas utiliza o padrão para as semeadoras da soja nestes espaçamentos. O exemplo da consolidação deste espaçamento é a redução da entrelinha do milho para 45 cm, justificando em alguns casos a compra por parte dos produtores de plataformas de milho com esse espaçamento. O objetivo deste trabalho é verificar se a redução do espaçamento entre linhas da soja pode melhorar o aproveitamento de água, luz e nutrientes da cultura e refletir na produtividade.

O experimento foi conduzido no Centro de Pesquisa Agrícola (CPA) da COPACOL, em Cafelândia, PR. com altitude de 595 m. O solo da área é caracterizado como Latossolo Vermelho distroférrico de textura argilosa (Embrapa, 2006).

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O delineamento experimental foi em blocos casualizados com 4 repetições, em esquema de parcela subdividida. Foram avaliados dois cultivares de ciclo similar, porém com arquitetura distinta (NA 5909 RR e SYN 1059 RR), três populações (150.000, 210.000 e 440.000 plantas ha-1) em dois espaçamentos entre linha (50 cm e 25 cm).

As unidades experimentais continham 14 m de comprimento e 2,5 m de largura, totalizando 35 m². A adubação com formulado foi realizada no dia 26/07/2017 de forma transversal as linhas de semeadura com semeadora em espaçamento de 25 cm. A semeadura foi realizada no dia 27/09/2017. O manejo da cultura foi de acordo com as recomendações oficias para a região (EMBRAPA 2014).

As variáveis analisadas foram população final e rendimento de grãos. A população final de plantas foi determinada pela contagem de plantas de soja emergidas em duas linhas centrais da unidade experimental e em 8 metros de comprimento. O rendimento de grãos foi determinado pela colheita das três linhas centrais da unidade experimental com colhedora de parcelas e após determinado a massa de grãos colhidas, sendo então extrapolados os dados para kg/ha e corrigido a umidade de grãos para 13%.

Os dados foram submetidos ao teste F da análise de variância e as médias quando significativas agrupadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro.

Houve interação para o rendimento de grãos entre os cultivares e população de plantas (Tabela 1). A cultivar SYN 1050 RR produziu mais grãos com as populações de 210.000 e 440.000 plantas ha-1, enquanto que a cultivar NA 5909 RR produziu mais grãos com as populações de 150.000 e 210.000 plantas ha-1. Essa interação mostra as diferenças entre cultivares quanto à compensação de plantas. A cultivar NA 5909 RR, possui maior capacidade de compensação de plantas através da emissão de ramificação laterais. Ainda na Tabela 1, observa-se que a recomendação da população recomendada para os cultivares (210.000 plantas ha-1) foi que produziu mais. Justificando a necessidade de ajustar a população de plantas para o microclima regional. Não houve acamamento observado no ensaio, independente da população.

Tabela 1. Produtividade da soja em função das diferentes populações e cultivares, Cafelândia PR, safra 2017/2018.

Quando a população de plantas é comparada com o espaçamento entre linhas (Tabela 2). Não foram observados ganhos significativos com o aumento da população para o espaçamento tradicional (50 cm), já para o espaçamento reduzido (25 cm) os ganhos de produtividade são significativamente maiores para as populações de 210.000 e 440.000 plantas ha-1.

A produtividade do espaçamento reduzido foi maior para as populações acima de 210.000 plantas ha-1. Estes dados comprovam que a melhor distribuição espacial de plantas com o espaçamento reduzido pode prover ganhos expressivos (acima de 280 kg ha-1) de produtividade para populações maiores, reduzindo a competição entre plantas pelos recursos.

Tabela 2. Produtividade da soja em função das diferentes populações e espaçamento entre linhas, Cafelândia PR, safra 2017/2018.

O comportamento produtivo das cultivares foi significativamente diferente para o espaçamento reduzido (25 cm). A cultivar SYN 1059 RR produziu 440,25 kg ha-1 de soja quando cultivada sob espaçamento reduzido (Tabela 3), já a cultivar NA 5909 RR, não apresentou diferenças significativas. A resposta específica a cultivar SYN 1059 RR, indica que a resposta ao espaçamento entre linhas pode ser diferenciada entre cultivares, necessitando de estudos específicos.

Tabela 3. Produtividade da soja em função de cultivares e espaçamento entre linhas, Cafelândia PR, safra 2017/2018.

A redução do espaçamento entre linhas proveu ganhos significativos de produtividade (197,89 kg ha-1) no ensaio. A melhor distribuição de plantas na área promove ganhos produtivos para cultivares de soja que apresentam menor capacidade de compensação e em altas populações.

Referências

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Tecnologia de Produção de Soja – Região Central do Brasil 2014. Londrina – PR, 2013. 263p.

LUCA, M. J.; HUNGRIA, M. Plant densities and modulation of symbiotic nitrogen fixation in soybean. Scientia Agricola, v. 71, n. 3, p. 181-187, 2014.

STRIEDER, M. L; PIRES, J.L.F; CONSTAMILAN, L.M, et al. Rendimento de grãos de soja em diferentes espaçamento entre linhas, na safra 2014/15. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2015. p. 19-24.

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2.ed. Brasília: Embrapa-SPI; Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2006. 306p.

Informações dos autores:

1Centro de Pesquisa Agrícola – CPA Copacol, Cafelândia, PR.

Disponível em: Anais do VIII Congresso Brasileiro de Soja. Goiânia – GO, Brasil.