A receita que transformou o Paraguai no principal destino de investidores na América do Sul

Simplificação tributária, estabilidade econômica, custos competitivos e mão de obra mais barata fazem do país vizinho terra fértil para produtores rurais e agroindústrias brasileiras .

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TERRA DE OPORTUNIDADES

JOANA COLUSSI Direto do Paraguai

Se a imagem do Paraguai que vem a sua cabeça é somente de comércio de muambas e eletrônicos em Ciudad del Este, na fronteira com Foz do Iguaçu (PR), você faz parte de grande parcela da população brasileira que desconhece o vizinho. Basta rodar alguns quilômetros pelo país para entender como o ex-primo pobre alcançou média de 4,5% por ano de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na última década – a maior variação entre os países da América do Sul. 

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Simplificação tributária, estabilidade econômica, custos competitivos, menos burocracia e mão de obra mais barata são os ingredientes da receita que tornou o Paraguaidestino atrativo a trabalhadores, produtores e empresários brasileiros – que abriram sete de cada 10 indústrias no país vizinho em cinco anos, segundo o governo.

Parte do impulso vem do agronegócio, que ganhou espaço com a instalação de novas indústrias e serviços, respondendo hoje por 25% da economia local. E, mesmo sem acesso ao mar, o país com sete milhões de habitantes ostenta a terceira maior frota de barcaças fluviais do mundo – atrás apenas de Estados Unidos e China – que transportam mercadorias pelos rios Paraguai e Paraná.

A logística para exportação, aliada ao custo um terço menor da energia elétrica do que no Brasil, levou a ECB Group, holding do empresário gaúcho Erasmo Carlos Battistella, a escolher o país para investir US$ 800 milhões (cerca de R$ 3,1 bilhões). O projeto Ômega Green, anunciado há dois meses, prevê a instalação de usinas de diesel verde e de bioquerosene na região metropolitana de Assunção. 

Nova fronteira do arroz e consolidação da soja

A menos de 200 quilômetros da capital paraguaia, no departamento de Misiones, uma moderna indústria de arroz fundada por um grupo de arrozeiros do Rio Grande do Sul está na terceira safra de produção.  A Agroalianza, gerenciada pelo agrônomo gaúcho João Carlos Schardong Junior, soma 11 mil hectares cultivados – grande parte terras arrendadas por produtores do Estado. Na última década, a área cultivada com arroz no Paraguai deu um salto de 240%.    

 Com os agricultores, migram também trabalhadores rurais, como Enio Souto Coelho, que há seis meses mudou-se de Quaraí, na fronteira com o Uruguai, para trabalhar em lavouras de arroz em San Ignacio, em Misiones.  

Kiko Sierich / Especial
Enio Coelho deixou Quaraí, na Fronteira, para trabalhar em lavoura de arroz no Departamento de MisionesKiko Sierich / Especial

Enquanto o arroz faz nascer uma nova fronteira agrícola no Paraguai, a soja colhe os frutos da consolidação em áreas exploradas por brasiguaios há três décadas. A nova geração à frente dos negócios aumentou em 180% o volume da safra do grão nos últimos 10 anos. Os ganhos vêm principalmente do aumento do rendimento por hectare – alavancado pela adoção de novas tecnologias. 

No departamento de Alto Paraná, Ernani José Hammes, 49 anos, alcança média superior a 70 sacas por hectare nas lavouras de soja. Filho de produtores de Santo Cristo, no noroeste do Estado, Hammes migrou com a família na década de 1980. Hoje, com a ajuda do filho Joel, 22 anos, formando em Agronomia, cultiva 870 hectares de grãos na região de Santa Rita – um dos principais polos do agronegócio no país

Depois de rodar mais de mil quilômetros em três departamentos e, no caminho, não encontrar nenhum buraco em rodovias bem conservadas, a reportagem mostra nas próximas páginas o que tornou o Paraguai a menina dos olhos para investidores na América do Sul – e também os riscos desse rápido crescimento.