Para Suplicy, Brasil deve usar papa como exemplo para superar crise

Para Suplicy, Brasil deve usar papa como exemplo para superar crise
Fabiane Dorta
“Nós vamos conseguir dar a volta por cima e fortalecer novamente esse partido”, disse Eduardo Suplicy (PT) sobre como acredita que será o futuro do PT (Partido dos Trabalhadores). Em entrevista exclusiva ao Dourados News, ele conversou com o jornal quando esteve em visita a Dourados para audiência pública na sexta-feira (08).
Na ocasião, ele afirmou que quando era deputado estadual em 1979 e foi convidado por entidades sindicais e líderes intelectuais para se tornar o fundador do PT, examinou todos os estatutos. Segundo ele, o objetivo era construírem juntos um Brasil justo e igualitário por meios democráticos, “dar voz e vez a todos, batalhar para que todos tivessem os direitos à cidadania, os direitos humanos respeitados”.
“Abracei essa causa e continuo batalhando por esses ideais até hoje. E vou continuar no PT”, disse, pontuando que se todos os correligionários agirem dessa forma, o partido consegue atingir a sua “volta por cima”.
Suplicy defendeu a presidente Dilma Rousseff (PT), dizendo que é uma “pessoa extremamente séria, que quer o bem do Brasil, que não praticou maus feitos e muito menos crimes de responsabilidade”. Disse ter confiança de que ela não sofrerá um impeachment.
Para ele, o momento político pelo qual passa o Brasil é “extremamente difícil”, mas que os brasileiros precisam superar isso com o espírito do papa Francisco. “No sentido de todos nós termos um espírito de cooperação, de respeito mútuo”, relatou.
Com vasta experiência na política, ele acredita que o eleitor este ano estará mais exigente nas urnas e atento ao histórico de cada candidato, visto que “infelizmente ocorreram erros gravíssimos com pessoas de quase todos os grandes partidos”. Pontuou que querendo acartar “para valer” dessa vez, o brasileiro vai votar naquele que efetivamente merecer sua confiança.
Suplicy ainda falou ao Dourados News sobre como a delação premiada de Delcídio do Amaral (sem partido) o “entristeceu” muito, e como ele acha que vai ficar a vida política do senador após os escândalos.
Eduardo Matarazzo Suplicy, 74, é fundador do PT, foi deputado estadual e senador da República por 24 anos. Até recentemente ocupava o cargo de secretário de Direitos Humanos do município de São Paulo (SP), o qual deixou para se candidatar a vereador pela cidade este ano.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
Dourados News – Como o senhor vê o momento político que o Brasil está vivendo hoje?
Eduardo Matarazzo Suplicy – Extremamente difícil, apesar de que nós brasileiros precisamos saber superar isso e com espírito eu diria de uma pessoa que tem tido extraordinária e positiva influência no mundo, que é o papa Francisco. No sentido de todos nós termos um espírito de cooperação, de respeito mútuo. Claro que podemos ter diferenças grandes, mas é preciso que todos nós estejamos conscientes da importância de estarmos unidos pelo bem do Brasil. É claro que, mas então, o que temos visto algumas vezes aí de alguns ficarem jogando pedras sobre outros e dando tiros, um verdadeiro tiroteio, não é o que eu recomendo. Eu prefiro estar conversando bem. Vivi muito tempo no parlamento, no senado 24 anos e sempre soube dialogar assim com muito respeito para com os outros.
D.N. – E quanto à possibilidade de impeachment da presidente Dilma?
E.M.S. – Eu considero que nós tivemos em 2014 a sétima eleição direta para a presidência da república depois da constituinte de 88. Considero legítimo o resultado, a presidenta Dilma [Rousseff (PT)] venceu as eleições. Avalio que ela seja uma pessoa extremamente séria, que quer o bem do Brasil, que não praticou maus feitos e muito menos crimes de responsabilidade. E eu tenho confiança de que ela não sofrerá impedimento e, portanto, eu acredito que nós vamos superar essa fase difícil e vamos contribuir. Eu quero também contribuir para que ela possa aplicar no Brasil, é o tema do que eu irei falar aqui hoje [sexta-feira, dia 8] na Câmara Municipal de Dourados, ajuda-la a aplicar os instrumentos de política econômica que podem fazer do Brasil uma nação justa civilizada e, inclusive, aqui explicarei toda evolução dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família que hoje beneficia ¼ da população brasileira, até o dia em que tenhamos a Renda Básica de Cidadania.
**D.N. – O que é esse programa?*
E.M.S. – O direito de toda e qualquer pessoa, não importa a sua origem, raça, sexo, idade, condição civil, ou mesmo socioeconômica de todos estarmos partilhando da riqueza comum de nossa nação através de uma renda que, na medida do possível, com o progresso do país, será suficiente para atender as necessidades vitais de cada um. A ninguém será negado, até para o mais bem sucedido empresário ou proprietário de terras ou fazendeiro do Brasil, sim. Só que nós que temos mais colaboraremos para que nós próprios e todos os demais venham a receber, e, desta forma, haverá enormes vantagens do ponto de vista, sobretudo da dignidade, da liberdade das pessoas.
D.N. – Quanto às eleições municipais deste ano, como acredita que estes escândalos de corrupção que estamos vendo podem influenciar?
E.M.S. -Eu tenho a convicção de que a população brasileira, os eleitores, estarão muito atentos para exigir de cada um que tenha um procedimento mais sério, correto, que de maneira alguma aceite quaisquer atos de corrupção. É importante que qualquer pessoa que se candidate esteja colocando a sua vida para conhecimento das pessoas. Infelizmente ocorreram erros gravíssimos com pessoas de quase todos os grandes partidos. O meu sentimento em relação ao que aconteceu com o Partido dos Trabalhadores, o meu partido, é que numa grande organização com mais de um milhão e meio de pessoas filiadas, se algumas pessoas cometem erros muito graves, como o do enriquecimento ilícito relacionado ao que aconteceu na Petrobras e contratos conexos, então nós temos que tomar as medidas para prevenir e corrigir tais erros e ali onde estivermos. Eu, por exemplo, por 24 anos fui senador, desde dois de fevereiro de 2015 até primeiro de abril passado, por 13 meses, fui secretário de Direitos Humanos do prefeito Fernando Haddad, no município de São Paulo.
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Ali onde eu estou, tenho que proceder dando o exemplo de correção, transparência, defesa da ética e a prática a mais correta possível. E eu acho que os eleitores estarão muito conscientes em querer saber: ‘olha, eu quero desta vez acertar para valer, quero saber a história de vida de cada candidato de todos os partidos e votar naqueles que efetivamente estejam a merecer a minha confiança’. E eu acho que à medida que todos os brasileiros tomarem tal atitude, isso vai contribuir muito para que tenhamos representantes do povo e prefeitos e prefeitas agora, eleitos com uma qualidade muito importante. Considero muito importante que neste ano não mais teremos a contribuição financeira para partidos e candidatos de empresas ou de pessoas jurídicas, e isso já será um passo muito positivo para o aperfeiçoamento das nossas instituições democráticas.
D.N. – E quanto ao Delcídio do Amaral, político de Mato Grosso do Sul que até recentemente estava no mesmo partido que o senhor. O que achou da delação premiada feita pelo senador?**
E.M.S – Doeu muito para mim, eu fui colega do Delcídio do Amaral por muitos anos no Senado Federal. Ele foi presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, onde eu atuei muito. Foi meu colega de estarmos convivendo praticamente todas as semanas em debates, em discussões. Eu estive aqui presente no Mato Grosso do Sul, em diversas campanhas do Partido dos Trabalhadores, seja ao tempo em que foi candidato e eleito Zeca do PT, como também e, inclusive aqui em Dourados, estive aqui em campanhas, inclusive em campanha do Delcídio do Amaral. Claro que eu fiquei surpreendido e entristecido de ver uma pessoa que quando na direção da Petrobras, e ele já estava na direção da Petrobras desde o governo Fernando Henrique Cardoso, tenha se envolvido em ações que de maneira alguma poderiam ter sido cometidas. E tendo em conta a sua situação de responsabilidade por atos que ele não poderia ter cometido, ele então resolveu instado pelas autoridades responsáveis pela apuração dos fatos na Polícia Federal, junto ao Ministério Público, resolveu então fazer delações. E essas delações agora precisam ser objeto de apuração com toda seriedade, mas se garantindo a cada uma das pessoas e partidos atingidos o direito pleno de resposta conforme assegura a constituição brasileira.
D.N. – Como acha que vai ser a vida política dele a partir de agora?
E.M.S – Eu sinceramente acho muito difícil que ele prossiga disputando cargos, seja pelo PT ou até por outros partidos. Eu acho que ele vai precisar tomar atitudes que signifiquem uma decisão de procurar fazer com que a sua vida pessoal e pública sejam completamente diferentes do que aconteceu com ele e que tanto nos entristeceu.
D.N. – Como ex-líder do governo Dilma, como o senhor acha que Delcídio deve votar em relação ao impeachment, caso o mesmo seja aprovado na Câmara dos Deputados e chegue ao Senado?
E.M.S – Eu espero que Delcídio do Amaral faça um exame de consciência de profundidade, e ele que foi líder do governo da presidenta Dilma por tantos anos, eu espero que de maneira alguma ele vote pelo impedimento da presidenta Dilma. Eu jamais poderia compreender se porventura ele votar contrariamente àquela presidenta que confiou nele por tanto tempo e assim como nós companheiros dele no Senado avaliávamos que ele estava procedendo com correção, mas infelizmente não foi o caso. Eu acredito que ele deva fazer um exame de consciência de profundidade e retomar a sua vida, porque uma pessoa que cometeu erros na vida pode perfeitamente fazer um exame de consciência e ter um prosseguimento daí para frente que seja exemplar do ponto de vista da seriedade, da correção do que ele fará em qualquer atividade que ele tenha daqui pra frente.
D.N. – Como deve ficar o futuro do PT?
E.M.S. – Eu em 1979 era deputado estadual quando aqueles líderes de entidades sindicais e líderes intelectuais convidaram-me para me tornar fundador do PT, eu examinei os estatutos, os objetivos de como queríamos todos construir um Brasil justo, dar voz e vez a todos, batalhar para que todos tivessem os direitos à cidadania, os direitos humanos respeitados, todos iguais e que nós íamos construir uma nação mais igualitária, por meios democráticos e abracei essa causa e continuo batalhando por esses ideais até hoje. E vou continuar no PT. Se todos nós no partido assim agirmos, nós vamos conseguir dar a volta por cima e fortalecer novamente esse partido.