O poder de um décimo

A cena é tão corriqueira que já se tornou parte do cotidiano: O cliente faz as compras no supermercado, quando efetua o pagamento é questionado se não tem certa quantia em moedas, ao afirmar que não as possui o operador de caixa imediatamente pergunta se não pode ficar devendo 10 centavos ou então oferece o troco em balas. Diante de um valor tão irrisório a resposta é simples- Pode ser. O cliente nem se importa em não receber o troco correto, mas ao deixar o local e pegar o ônibus para casa ele tem uma surpresa, faltam exatamente 10 centavos para pagar a passagem! O que antes era algo sem nenhuma importância agora passa a receber toda a atenção.
Veja o caso de um estudante na universidade que sabe muito bem o poder que um valor aparentemente insignificante pode ter. A luta é árdua para atingir as notas exigidas pelas disciplinas. Apesar das muitas horas de dedicação, dos trabalhos e das avaliações, no final só uma coisa lhe interessa- a aprovação, mas apesar de toda a expectativa a disciplina chega ao fim e na média final falta exatamente um décimo para conseguir ser aprovado. Tamanha frustração é desanimadora, pois a disciplina terá que ser feita novamente e tudo por causa de um décimo!
Com o peso na consciência despertado repentinamente o aluno pensa que se tivesse estudado um pouco mais tudo seria diferente, mas agora dependerá da compreensão e do bom senso do professor em lhe oferecer uma oportunidade para recuperar um décimo a mais na nota final. Duas posições antagônicas: de um lado o aluno angustiado em busca de nota e do outro o professor que é o único que pode considerar o caso em particular. A alegria e a tristeza lado a lado, separada apenas por uma linha muito tênue.
O atleta olímpico sabe muito bem o real valor de um milésimo de segundo, pois pode ser a diferença na conquista de uma cobiçada medalha. Nos jogos olímpicos Rio 2016 o atleta da canoagem Isaquias Queiroz sentiu na pele o que isso significa. Na prova dos 200 metros individual ele começa bem, mas em alguns metros começa a ficar para trás. Isaquias rema forte buscando recuperar posições. A prova chega ao final. Ele soca a água demonstrando frustração, se livra do remo e mergulha. Ao emergir da água e olhar para o telão é surpreendido. Por 21 milésimos de segundo ganha a medalha de bronze. Ao ser entrevistado depois do grande feito afirmou: “Consegui a medalha nos últimos centímetros”.
Há alguns anos fiz um concurso público para o cargo de Administrador do IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul). Quando saiu a classificação final fiquei chocado! Passei em 6º lugar, mas pela regra do edital só seria aprovado os cinco primeiros colocados. Se tivesse acertado mais uma única questão teria conseguido. Naquela triste situação pude aprender na prática o real alcance do poder de um décimo.
O fato é que o “insignificante” muitas vezes é o grande diferencial para se alcançar o sucesso. Por negligenciar certos detalhes perdemos excelentes oportunidades. Logicamente que os extremos devem ser evitados. A proposta apresentada aqui é a de que devemos refletir cuidadosamente sobre o fato de que o minúsculo pode se tornar grande. É preciso não desprezar o poder de um décimo, principalmente se o êxito for o objetivo final.

Alci Massaranduba
Bacharel em Administração de Empresas, Especialista em Gestão de Negócios, Acadêmico do
curso de Matemática, autor dos livros: Minha Vida de Carteiro e Pensamentos de um Carteiro