Ações de fronteira

A ampliação dos acordos de colaboração entre os governos brasileiro e paraguaio, como acaba de se acertar entre os presidentes, certamente abre caminho para operações conjuntas das forças de fronteira, sabendo-se que é por ali que transitam alguns dos principais problemas capazes de afetar a segurança pública em ambos os lados. Passam por cima da linha que separa os dois países os contrabandos de drogas e armas, em sua grande maioria postos a serviço do crime organizado. É o que autoriza esperar que do prometido endurecimento da fiscalização possa resultar rude golpe contra as quadrilhas que têm realizado milionários intercâmbios fora da lei. O que acontece, e não é de hoje. 

Trata-se de uma situação que, salvo incursões isoladas, perdura há anos, mas sempre agravada com a utilização de pontos estratégicos do território guarani para o armazenamento temporário de cargas proibidas que chegam de outros países, principalmente do Peru e da Bolívia. Com isto amplamente conhecido e confirmado, estanha-se que tenha tardado o compromisso, em nível presidencial, para o combate às organizações que têm operado sem maiores incômodos. 

Mas os propósitos que foram objeto de conversações entre Benítez e Bolsonaro têm braços largos e prometem ir mais longe. Considere-se que a ausência de policiamento ostensivo e eficiente acaba interessando, igualmente, aos mercados ilegais dos Estados Unidos e da Europa, que, graças a essa fronteira, passaram a dispor de uma rota raramente incomodada. Para impedi-la nunca faltaram sugestões diversas, mas hoje não seria adequado pedir que opine o presidente Trump, fixado na ideia de que questões de fronteira se resolvem com muros. Solução nem possível de ser imaginada por nós. 

Pelas razões analisadas, algumas mais graves que outras, nossas longuíssimas fronteiras terrestres constituem sério problema quanto à segurança; e mantê-las sob permanente vigilância, em todas as extensões, seria altamente dispendioso. Em grande parte tarefa impossível, por mais amplos que fossem os recursos, dadas as condições naturais e inóspitas, criadas por rios e matas fechadas. A forma de reduzir as dificuldades e minimizar seus efeitos é trabalhar com outros países vizinhos, visando a uma colaboração comum, bipartite, segundo o modelo que acaba de ser acertado com o governo de Assunção. Sem que nos deixemos enganar quanto a entraves que certamente haverão de se entrepor, como a poderosa influência dos grupos que operam com as pastas de coca. 

Tentativas passadas já se processaram, mesmo com o Paraguai, para desarticular o crime organizado na região, sem que oferecessem bons resultados; e, quando muito, foram superficiais as tentativas de explicar o fracasso a que foram condenadas. O que permite considerar, mesmo que apenas a título de reflexão, que a colaboração entre países interessados não deve se restringir a ações policiais, ainda quando consideradas prioritárias. Hão de ser parte de um conjunto de intenções, como agora se definiu. Brasil e Paraguai querem combater contrabandistas e traficantes, mas pretendem, ao mesmo tempo, abrir espaços para vários outros intercâmbios, sem que se descuidasse até de um projeto de piscicultura nas águas de Itaipu… 

O que significa combater o crime pela via das ações integradas e inter-relacionadas; não apenas como tarefa isolada dos equipamentos de segurança, porque, sozinhos ou isolados, não resolveriam. Pode ser que nem assim seja possível alcançar os objetivos pretendidos, mas nada impede creditar alguma esperança na nova experiência que se contrata com os paraguaios.