Valorização cambial afugentou os mato-grossenses do Paraguai

Comércio de Pedro Juan frisa que fluxo caiu 60% nos últimos meses
Movimentação se inverteu depois que o dólar se valorizou frente ao real: Mato-grossenses ficam e os paraguaios vêm
MÁRIO MARQUES DE ALMEIDA
ESPECIAL PARA O DIÁRIO
Pedro Juan Caballero e seu concorrido comércio de importados, com destaque para a Casa China – considerada a maior loja de departamentos da América do Sul e a terceira do mundo em tamanho e variedade de produtos -, depois da subida do dólar deixou de ser vista como a “Meca” preferida dos mato-grossenses em geral, da Capital e de outras cidades do interior que nos finais de semana ou feriados prolongados faziam fila em direção àquela cidade paraguaia. A valorização da moeda norte-americana afugentou os compradores. Com a cotação a R$ 4, o fluxo de turistas de Mato Grosso, segundo projeções feitas por entidades de classe paraguaias, diminuiu em mais de 60%.
Situada na fronteira do Brasil com o Paraguai à altura de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, com as duas cidades separadas apenas por uma avenida larga, mas que em alguns trechos fica estreita ao ponto de permitir que quem estiver de um lado pode conversar com alguém do outro, sem necessidade de cruzar a linha.
Dependendo do setor, a redução no movimento pode ser ainda maior. “Comerciantes com lojas de informática amargam queda no movimento de até 80% e o fluxo de turistas caiu 70% em relação a 2014”, explica o diretor da Câmara de Comércio Lojista de Pedro Juan, Anderson Carpes.
Um dos setores atingidos pela disparada do dólar é o de automotivos, em especial de pneus. Acabaram as filas de carros com placas do Brasil à espera, nas revendas paraguaias, para trocar pneus ou peças de suspensão dos veículos. Nesse segmento, os preços hoje se equivalem, mas a vantagem de fazer essa reposição no Brasil é a segurança que não se estar fazendo “contrabando”, além da garantia quanto ao prazo de validade do que está se adquirindo.
Mas, não pensem que são apenas os mato-grossenses que sumiram de Pedro Juan Caballero e que antes se dirigiam em grande número em busca de produtos importados, como eletroeletrônicos, artigos para pesca, perfumes e bebidas. Pessoas de cidades sul-mato-grossenses, a exemplo de Dourados, Campo Grande, entre outras comunidades daquele Estado e até de outras regiões brasileiras também deixaram de viajar para lá com a freqüência anterior.
O fluxo agora é inverso: são os paraguaios que estão atravessando a fronteira para vir comprar do lado brasileiro, o que deu um impulso ao comércio de Ponta Porã, antes com lojas esvaziadas enquanto as do Paraguai, incluindo as bancas e barracas de camelôs (que na cidade paraguaia devem ser mais de mil) estavam bombando de clientes.
PONTO DE ENCONTRO – “Antes até parecia que nos finais de semana os cuiabanos marcavam encontro na Casa China e em outros centros de compras do Paraguai”, afirma dona Isaura Ferreira Mendonça, 64 anos, aposentada e que costumava, pelo menos uma vez por mês, segundo ela mesma informa, viajar para Ponta Porã (MS).
“Muitas vezes, para aumentar a cota de impostos liberada por pessoa pela Receita Federal, eu convidava mais duas ou três amigas ou parentes para irem comigo”, explica a aposentada, que há quatro meses deixou de fazer essa excursão de compras.
De acordo com ela, o perfume Euphoria, o seu preferido, está custando bem menos no Brasil, pela internet. “Ir lá agora, só se for a passeio mesmo, porque com o dólar do preço que está não compensa mais”, explica Isaura.
COMPENSAÇÃO – Uma coisa compensa a outra, no Paraguai. E ao contrário do que ocorre com o Brasil, que enfrenta uma crise política e econômica profunda, as instituições e a economia do país vizinho vão bem. Enquanto o comércio fica às moscas, a economia da cidade fronteiriça se fortalece com empresas e indústrias – a maioria, aliás, brasileiras – que vão se instalando em quantidade expressiva, atraídas pela baixa carga tributária daquele país.
Novamente, a exemplo do boom industrial, são os brasileiros que alimentam a economia do lado de lá da fronteira. Desta feita, são os universitários provenientes de todo o Brasil. Sete faculdades de medicina se instalaram em Pedro Juan Caballero e dos 6 mil alunos matriculados, 5,2 mil são brasileiros.
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