Usina de Tchernóbil está sem energia e pode emitir radiação para Europa, diz Ucrânia

No comunicado, a empresa diz que a linha de transmissão de energia entre Tchernóbil e a capital Kiev foi danificada pelos ocupantes russos. O combustível armazenado no local precisa de resfriamento contínuo, e caso a temperatura aumente, pode liberar substâncias radioativas. “O vento pode levar essa nuvem radioativa a outras regiões da Ucrânia, Belarus, Rússia e Europa”, diz a nota.

Após a declaração, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) afirmou que a falta de luz na região não tem grande impacto sobre a segurança e que há insumos suficientes nas instalações para resfriar o material mesmo sem energia elétrica.
“A carga térmica da piscina do depósito de combustível usado e o volume de água de resfriamento são suficientes para garantir uma saída eficaz do calor sem eletricidade”, publicou a entidade nas redes sociais.

A Energoatom disse ainda que os sistemas de ventilação e extinção de incêndio não estão funcionando, o que pode fazer com que os funcionários recebam uma dose perigosa de radiação e um incêndio se propague rapidamente se houver um bombardeio no local.

De acordo com a empresa, é impossível fazer os reparos necessários para restabelecer a eletricidade, já que há combate na região.

Segundo a ONU, os trabalhadores da usina de Tchernóbil estão trabalhando ininterruptamente desde o início do conflito, que chegou nesta quarta-feira (9) ao 14º dia. O diretor-geral da AIEA, Rafael Mariano Grossi, condenou a situação.

“Estou profundamente preocupado sobre a situação difícil e estressante dos trabalhadores da usina nuclear de Tchernóbil, e o risco que isso carrega. Eu peço que as forças no controle do local facilitem a rotação segura dos funcionários”, disse.

A usina de Tchernóbil foi onde ocorreu o maior acidente nuclear da história, em 1986. Um dos reatores da usina explodiu e causou a morte imediata de 30 pessoas. Quase 340 mil pessoas que moravam num raio de 30 quilômetros da usina precisaram ser evacuadas, e altos níveis de radiação foram registrados na Polônia, Áustria, Suécia e Bielorrússia.

Desde 2015, os reatores estão na fase de descomissionamento, quando só cientistas continuam trabalhando para observar a situação da radiação. “A descontaminação de Tchernóbil envolveu uma massa de 1,5 milhão de pessoas, teve um custo altíssimo e acabou em 2017. O espaço foi lacrado, virou uma espécie de sarcófago e na sequência se transformou em um roteiro turístico”, explica Leonardo Trevisan, professor de geoeconomia internacional da ESPM.