Serviços financeiros eletrônicos ganham espaço na América Latina

Cada vez mais pessoas na América Latina adotam meios digitais para pagamentos e transações financeiras. A tendência é apontada em estudo realizado pela consultoria IDC sobre o emprego de tecnologias digitais para atividades relacionadas a serviços financeiros. Pouco mais de mil usuários das classes A, B e C foram entrevistados no Brasil, México e na Colômbia. Segundo o levantamento, um terço dos entrevistados afirmou preferir o telefone para pagar contas e transferir dinheiro.

De acordo com o levantamento, a expectativa é de que essas práticas se popularizem ainda mais no futuro. Os entrevistados manifestaram a intenção de fazer mais transações financeiras viz smartphone, como pagar uma conta de cartão de crédito, fazer uma transferência ou quitar um boleto. Da mesma forma, os consultados relataram utilizar cada vez menos agências bancárias para serviços como depositar um cheque ou fazer uma aplicação.

No recorte por idade, o uso de meios digitais é mais frequente entre as pessoas de até 50 anos. Entre os entrevistados, 61% relataram utilizar smartphones para essas operações na faixa de 30 a 39 anos; 58% na faixa de 25 a 29 anos; 53% entre as pessoas com 40 a 49 anos; e 51% entre os entrevistados de 18 a 24 anos. A opção por operações pelo computador também segue essa tendência.

A adesão a meios digitais de pagamento (também chamados de carteiras digitais) varia de acordo com a idade, com mais força entre os jovens. Entre os ouvidos, 66% da faixa entre 18 e 24 anos disseram utilizar esse recurso; 61% na faixa de 25 a 29 anos; 60% entre as pessoas de 30 a 39 anos; e 51% entre os entrevisatados 40 a 49 anos. Já entre os entrevistados com mais de 60 anos, o percentual ficou em 37%.

De acordo com a pesquisa, mais da metade dos entrevistados relatou ter utilizado um smartphone para abrir uma conta ou obter um novo serviço financeiro nos últimos 12 meses. Neste quesito, assim como em outros, o Brasil superou a Colômbia e o México, indicando uma abertura maior dos brasileiros à adoção dessas soluções tecnológicas.

Fatores
Segundo os autores, determinados fatores contribuem para o aumento da popularidade desses meios na região. O primeiro é o caráter extremamente urbanizado dos países, que permite a consumidores e empresários oportunidades de ganho de escala. O segundo é a alta penetração da Internet móvel, próxima de 100%.

“Os smartphones na região ajudam a fundação de serviços bancários móveis. A base saiu de 50 milhões para quase 500 milhões entre 2011 e 2020. O que você pode fazer em um smartphone é diferente do que pode fazer em um telefone”, ressalta o vice-presidente para a América Latina do IDC, Ricardo Villate.

Ele alerta, contudo, que apesar de haver cerca de 480 milhões de aparelhos, ainda não há universalização pelo fato de haver pessoas que contam com dois acessos e outras que ainda não são atendidas por essa tecnologia. As previsões da consultoria indicam que nos próximos anos deve ocorrer uma estagnação no crescimento.

Uma terceira característica que contribui para o desenvolvimento de serviços financeiros digitais na América Latina é a disseminação das redes sociais digitais e os altos índices dos usuários, o que inclui tanto o tempo gasto quanto a intensidade de engajamento nessas plataformas. No plano do sistema financeiro dos países, há um histórico de baixas taxas para tomada de empréstimo na região.

Mercado
A América Latina conta com a atuação de atores globais (PayPal, Mastercard, Google), regionais (MercadoLivre) e nacionais (PagSeguro no Brasil, Nequi na Colômbia e Bitso no México) no mercado de transações financeiras via internet. A PayPal não abre os números de clientes na América Latina, mas tem 286 milhões de clientes globais. Para além de servir como plataforma de pagamento de diversos serviços, como Uber, a empresa vem lançando serviços financeiros, como adiantamentos a comerciantes, empréstimos e transferências entre pessoas em diferentes cidades e países. Este último produto, chamado Xoom, já está em operação no México, Brasil e outros países da região. Além disso, o grupo celebrou parcerias, como com o Itaú no Brasil, e adquiriu parte do MercadoLivre, importante plataforma de comércio eletrônico na América do Sul.

Em entrevista coletiva a jornalistas na sede da empresa, em Nova Iorque, o CEO da PayPal, Dan Schulmer, declarou que a empresa ainda está começando na região e aposta em um crescimento nos próximos anos. “Nós temos mais de 10 milhões contas ativas de consumidores na América Latina. Estamos apenas arranhando a superfície das oportunidades. Temos um crescimento dinâmico na digitalização nessa parte do mundo”, disse.

A Mastercard tem entre suas principais estratégias “o combate ao uso do dinheiro” e aumentar a “penetração dos meios de pagamento”. No Brasil, a empresa avalia como positiva a flexibilização de regras para o setor pelo Banco Central e conta que o objetivo é que os métodos digitais de transações cheguem a 60% do mercado em cinco anos com novas soluções para operações.

“O modelo diferenciado de adquirência, no qual os adquirentes permitem que os valores recebidos pelas maquininhas de cartão sejam depositados em um cartão pré-pago e não em uma conta corrente, por exemplo, também tem colaborado muito para o crescimento. Agora, os pequenos varejistas ou autônomos podem aceitar pagamento via cartão, sem a necessidade de ter uma conta corrente, o que possibilita aumento de vendas e a formalização, fazendo com que toda a economia seja beneficiada”, ressalta João Pedro Paro Neto, Presidente da Mastercard para Brasil e Cone Sul.

O GooglePay também não divulga números de clientes por regiões, mas já chegou a 100 milhões de downloads em um ano e se assenta no uso integrado com outros serviços do conglomerado, como Gmail, YouTube e smartphones com sistemas operacionais Android. O grupo chega, pelo menos, a mais de 2,5 bilhões em todo o mundo. O meio de pagamento é aceito em lojas com tecnologia NFC e no Brasil tem parcerias com instituições financeiras para uso de cartão de débito, como Itaú, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

“E mais do que pagamentos, o Google Pay também traz oportunidades de integrações com transporte público, programas de fidelidade e ingressos. No Brasil, Ingresso.com e Linhas Aéreas Azul já possibilitam o armazenamento de cartões de entrada/embarque no Google Pay”, conta o chefe de parcerias do Google Pay para América Latina, Felipe Cunha.

O PagSeguro, do conglomerado brasileiro UOL, possui atuação nacional e chega a 4,4 milhões de estabelecimentos. Por meio de sua assessoria, a empresa afirmou à Agência Brasil que prevê um crescimento de sua atividade e do mercado de pagamentos digitais, uma vez que o modelo facilita operações para pequenos vendedores. Grande competidora brasileira no setor, a empresa aposta na oferta de soluções para diferentes demandas, como empreendimentos de diferentes tamanhos.

Agência Brasil