Relacionamentos tóxicos: antes mal acompanhada(o), do que só?

Relacionamentos tóxicos: antes mal acompanhada(o), do que só?

“No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho”. Em 1928, Carlos Drummond de Andrade, um dos nossos grandes poetas, escrevia esta preciosidade. A sensibilidade de Drummond, nesta brilhante poesia, nos alertava para uma grande realidade da existência humana: as pedras no caminho. Quem nunca tropeçou, se desequilibrou, ou até xingou após uma forte topada? O fato é que, metaforicamente, estamos sujeitos à toda sorte de obstáculos em nossa vida. 

Uma das mais frequentes formas de aparecerem pedras em nossos caminhos é nos relacionamentos. Podemos entender como “pedras” as pessoas que nos fazem mal. Diante disso temos duas opções. A primeira, é obviamente desviar. Estas são as pessoas que conseguem dispor de racionalidade. Outras pessoas, infelizmente, seguem a segunda alternativa: tropeçar! Por que isso acontece? Uma explicação lógica é que, no encantamento pelo outro, temos nossa visão entorpecida pelos sentimentos o que nos faz seguir adiante e… dar aquela topada! P#%%@!

Pessoas nutritivas x Pessoas tóxicas

Acredito que o relacionamento deva ser um lugar de conforto. Afinal, o ser humano busca diligentemente sua felicidade. Por outro lado, imprimir, conscientemente, sofrimento ao outro é uma condição psicopatológica. Há muitas formas de proporcionar sofrimento num relacionamento. O ato de impedir ou dificultar o crescimento psicossocial de alguém, diminuir, oprimir, agredir física ou verbalmente, de forma deliberada, a pessoa ao seu lado, são exemplos de características do que chamamos de pessoas tóxicas. O relacionamento com pessoas tóxicas tem como saldo o crescimento da dor e da angústia, produzindo intenso sofrimento psicológico.

Aristóteles, um dos maiores filósofos gregos, defendia que uma vida deveria ser vivida com excelência. Para ele, uma árvore plantada, por exemplo, viveria sua excelência sendo uma das mais frondosas árvores de sua espécie. Assim, podemos entender que o ser humano, que não é uma árvore, atinge sua excelência desenvolvendo suas potencialidades. Como desenvolver uma potencialidade sem ser estimulado(a), apoiado(a) ou, simplesmente, não atrapalhado(a) pelo(a) parceiro(a)? Difícil! 

Felizmente existe outra classe de pessoas. Ufa! Imagine uma pessoa ao seu lado que apoia e estimula seus projetos e sonhos, valoriza sua presença sem exercer qualquer tipo de controle, enfim, “fertiliza” o solo para o seu crescimento. Estamos falando das pessoas nutritivas. O relacionamento com elas favorece o desenvolvimento de suas potencialidades, porque você é livre! Há diálogo e entendimento. Não há aquele sentimento tóxico de posse, que impede o outro de crescer. Pelo contrário, a satisfação com a realização pessoal do(a) parceiro(a) é uma sensação engrandecedora. O relacionamento cresce e se fortalece de maneira saudável. As “seivas vitais” não são sugadas. Acredite, esse tipo de relacionamento existe!

As pessoas tóxicas são “pedras” em nosso caminho. Desviar delas ou “topar” nelas é uma decisão que traz consequências psicológicas muito relevantes. O saldo, normalmente, é o sentimento de plenitude, porque sou livre para realizar meus sonhos, ou, infelizmente, de ter sido sugado(a) até o fim das forças. Pessoas tóxicas ou pessoas nutritivas: quem você deseja ao seu lado?

Relacionamento se constrói, não se compra pronto! 

Investir num relacionamento requer energia e dedicação. Não existe um relacionamento pronto disponível, ele é fruto da interação. Com isso, não há como cedermos parte de nós e não recebermos parte do outro. Assim, inevitavelmente, forma-se uma interseção entre duas pessoas. Até aí tudo bem! O problema está justamente fora dessa interseção “amigável”, o perigoso lugar onde correm os atritos. Vou nomeá-lo carinhosamente de “zona de exclusão”, ou seja, a região do meu “eu” em que não permito o trânsito da pessoa que se relaciona comigo. Elas vão muito além de toalhas molhadas sobre camas, ou tampas de vasos sanitários que não são erguidas. Essas zonas são engrenagens do nosso funcionamento psicológico, lubrificadas por características que, normalmente, não estamos dispostos, ou simplesmente não conseguimos negociar. Essa é a beleza do relacionamento: pessoas diferentes que se propõem a compartilhar algo de si. Seria chato demais se assim não fosse. 

O que fazer para conseguir conviver com essas “zonas de exclusão”? a resposta não é muito complicada, ao menos na teoria. Basta lembrar que o relacionamento é a arte de… construir pontes! Não existe relacionamento perfeito, porque pessoas não são perfeitas! Porém, construir uma ponte significa assumir sua imperfeição e ligá-la à imperfeição do outro ou, unir sua “zona de exclusão” à “zona de exclusão” do outro. Só assim experimentamos os benefícios de uma relação que se desenvolveu de forma sadia, erguida numa sólida base de confiança e respeito pelo espaço do outro. Por isso, devemos construir pontes e não muros! Construir muros é menos trabalhoso, porém, a ponte une e não separa. Ela disponibiliza um caminho que, dependendo do desejo e do convite, podemos utilizar. Não construa muros entre você e a pessoa que está ao seu lado, construa pontes! Construa seu relacionamento desde o início.