Que mundo é este?

Jornal do Brasil
RAQUEL STIVELMAN*
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Não, definitivamente, não é este o mundo que eu sonhei deixar para os meus descendentes! Eu acreditava que os meus adorados bisnetinhos poderiam passar a conhecer muitos aspectos bons deste mundo em que irão se desenvolver e se tornar adultos, criar e deixar que o fluxo normal da vida seguisse o seu curso. É óbvio que não sou ingênua a ponto de ignorar os aspectos negativos, muito negativos, com que irão se deparar. Mas eu acreditava muito na força dos valores que os seus pais, seus avós e nós, seus bisavós, lhes transmitimos. Tenho agora muitas incertezas, para não admitir, muitas desilusões e pessimismo quanto a este desejo tão natural, tão comum quando existe amor e esperança.

É muito triste admitir, reconhecer com coragem, que o que prevalece hoje, nos dias amargos dos quais somos todos testemunhas tristes e até atônitas, é a desesperança, o desalento, o constante rolar de lágrimas de desânimo.

Já abordei em um artigo que escrevi recentemente este tema recorrente. Mas confesso, decepcionada, que com o decorrer do tempo e em intervalos muitos curtos, o estado das coisas piorou, só se tornou mais perigoso, mais amedrontador.

Para justificar este meu último parecer, prestemos atenção às notícias mais recentes sobre o que está ocorrendo na Síria. Os homens diversificam e se superam no emprego de recursos para, com mais eficiência, matar, sumamente aniquilar seres humanos. Não deveria surpreender tanto, mas surpreende ainda, causa estarrecimento e revolta o uso de armas químicas nos arredores de Damasco, capital da Síria, e também o bombardeio de uma base do regime do sanguinário Bashar al-Assad. Como costuma acontecer comumente em fatos desta natureza, procuram-se outros responsáveis por tais carnificinas, outros bodes expiatórios. Neste caso que estamos abordando agora, a Síria e a Rússia acusam Israel por ter lançado mísseis contra a base militar, matando 14 pessoas. Aliás, lembremos que os judeus são ótimos e úteis bodes expiatórios usados através da história. Em meio a esta conturbação toda, o tresloucado chefe do governo da mais poderosa nação do mundo, Donald Trump, acusa abertamente os governos tanto da Síria, como do Irã e da Rússia, pelo ataque que realizaram e afirma, pomposo, que “tais países” pagarão um alto preço pelo apoio que ofereceram ao crudelíssimo regime sírio. Trump chamou Assad de animal e promete tomar uma decisão dentro de 48 horas.

O saldo final de tanta confusão e crueldade é a população civil síria, adultos e criancinhas inocentes que tombam mortos, assassinados. São muitas as vítimas, sendo a maioria delas, crianças. O saldo dessa situação toda é o de que a tensão mundial cresceu, aumentou. Paira uma ameaça de guerra no ar e isto amedronta, assusta muito.

O homem não se corrige nunca, muito pelo contrário, dá cada vez mais livre vazão aos seus mortíferos instintos beligerantes. O que mudou, e muito, foi o estilo e a sofisticação dos métodos das guerras atuais. Mata-se com mais acerto nos alvos a serem atingidos; os métodos são altamente tecnológicos e eficientes, além de serem diversificados.

Aqui, no nosso Brasil tão sofrido e conturbado, a situação geral ainda se delineia, tenta se redefinir, se bem que já aconteceram fatos e prisões alentadoras. Estamos na expectativa sofrida do que ainda está para acontecer. Uma parcela da população muito significativa, em uma abordagem numérica, está respirando aliviada agora, mas está atenta e muito participante na expectativa do que ainda vem por aí. Alívio e descompressão, mas ainda permanece um presente desassossego.

Embora sendo um tanto repetitiva, admito, continuo atenta e desiludida com este nosso planeta Terra. No entanto, quero repetir com tristeza: Não, não é este o mundo no qual sonhei que os meus bisnetinhos amados, meus tesouros queridos, irão viver. Estou frustrada. Eu e muita gente que me acompanha neste modo de pensar e sentir. Infelizmente.

* Mestre em Educação