Por que a ação do Magazine Luiza (MGLU3) despenca e da Americanas (AMER3) dispara após os resultados do 3º tri?

Desempenho pior do canal físico e queda da rentabilidade pressionaram Magalu, enquanto Americanas já mostra sinais de avanço de integração

SÃO PAULO – Assim como nos últimos meses, as ações das empresas expostas ao e-commerce têm registrado nesta sexta-feira (12) um pregão de forte volatilidade. Contudo, vale destacar, na sessão específica, o movimento entre elas têm sido extremos e em rumos opostos, com o Magazine Luiza (MGLU3) vendo suas ações desabarem mais de 10% e a Americanas (AMER3) saltarem após o resultado do terceiro trimestre de 2021.

Às 12h56 (horário de Brasília), MGLU3 tinha baixa de 14,80%, a R$ 11,63, enquanto AMER3 saltava 9,08%, a R$ 38,55, após ter chegado a disparar mais de 10% em boa parte da sessão.

Magazine Luiza  divulgou os seus números do terceiro trimestre de 2021 com um lucro líquido ajustado de R$ 22,6 milhões, uma queda de 89,5% em relação aos R$ 215,9 milhões registrados em igual período do ano passado. Mas, mais do que isso, a diminuição na rentabilidade e a desaceleração das vendas impactaram a visão dos analistas sobre o resultado, além da perspectiva de persistência de um quadro econômico mais desafiador.

“Decepcionado, mas não surpreso”, afirmou o Credit Suisse em relatório, destacando que o Magalu apresentou uma piora na dinâmica de receita em seu canal físico, com as vendas mesmas lojas mostrando uma performance negativa pior do que a esperado. A queda neste conceito foi de 14,6% em base anual, ante projeção de baixa de 9% do banco, enquanto o online ficou um pouco acima do esperado com o estoque próprio (1P) avançando em 7% na base anual em termos de vendas brutas de mercadoria (GMV) e o marketplace em alta de 67% na comparação anual.

“A rentabilidade também deixou a desejar com margem Ebitda ajustada de 4,1% (ante dado anterior de 6,8%), mesmo excluindo as provisões”, aponta o Credit. “Em suma, consideramos o resultado negativo”, afirmaram os analistas Victor Saragiotto e Pedro Pinto.

A XP, por sua vez, destacou que o Magazine Luiza reportou resultados mistos, com uma performance sólida no online mas margens pressionadas.

Apesar das vendas impulsionadas pelo marketplace, as vendas das lojas físicas apresentaram queda de 8% na base anual, impactadas pela deterioração macroeconômica.

Em coletiva com jornalistas, Frederico Trajano, presidente da companhia, ressaltou que a maior margem segue no mundo offline, sendo ele bastante impactado pela economia, o que afetou também os números da empresa.

A companhia sinalizou uma continuidade de uma perspectiva desafiadora no canal por conta do macro, mas acredita que a dinâmica do marketplace deve seguir robusta.

Em relação à rentabilidade, a margem Ebitda caiu 2,5 pontos percentuais na base anual, devido a uma margem bruta pressionada pela maior participação do e-commerce (72% das vendas, alta de 6 pontos na base anual) e inflação de custos logísticos. Enquanto isso, houve um aumento de despesas de marketing no e-commerce e a performance das lojas físicas levou a uma menor diluição de despesas operacionais.

A receita líquida totalizou R$ 8,61 bilhões, crescimento de 3,7% e queda de 4,5% nas bases anual e trimestral, respectivamente. Os números vieram levemente abaixo das expectativas do consenso de mercado, que giravam em torno dos R$ 8,7 a R$ 8,8 bilhões.

A Levante Ideias de Investimentos, por sua vez, traça um paralelo com o resultado da Via (VIIA3) divulgado na noite da última quarta-feira (10) e que fez a ação desabar, bastante influenciada pela provisão trabalhista com fortes impactos para os seus números. Além da provisão, a Levante ressalta qeu houve um dado fraco de crescimento de GMV Bruto – que engloba o total de vendas realizadas diretamente pela companhia online (1P), pelos parceiros que vendem no marketplace (3P) e as vendas físicas – totalizando R$ 11,075 bilhões, crescimento de 5,7% na comparação anual, mas queda de 2,9% na comparação trimestral.

Para os analistas da casa de research, guardadas as devidas peculiaridades, os resultados de Magalu e Via obedeceram a uma dinâmica relativamente parecida. O fraco crescimento do GMV e das receitas reflete um macro mais desafiador para as varejistas (elasticidade renda da demanda, crédito, inflação) além do aumento da concorrência na indústria. “A base de comparação também tem ficado cada vez mais desafiadora, já sob a dura marca d’água do varejo digital no contexto pós pandemia”, avaliam.

A Levante ressalta que a questão do passivo trabalhista em Via é um ponto de distinção relevante, mas também aponta que o Magalu apresentou quase R$ 400 milhões em provisão adicional para estoques (aproximadamente 5% do estoque médio no período). “Aparentemente, a companhia preparou o balanço para queimar parte do seu estoque na Black Friday”, ressalta a equipe de análise.

Sobre a Black Friday, por sinal, o Magalu ressaltou ver o evento como “do produto premium”, ou seja de maior valor agregado, em que a variação de preço e o impacto da inflação são menores. “O impacto da inflação de alimentos é maior nas camadas mais baixas. O impacto da inflação de alimentos e de produtos atinge menos as camadas mais altas”, apontou em coletiva Frederico.

Trajano, CEO da varejista.

Voltando aos números do terceiro trimestre, o ponto animador para a Levante também foi o crescimento do marketplace em cima de uma base muito forte, mas ainda “nos parece insuficiente para completar a ‘metade cheia’ do copo deste tri”.

Para o BBI, que destacou a decepção com o Ebitda em meio ao cenário macro mais desafiador e pressões inflacionárias por conta de gargalos na cadeia de suprimentos global, avaliou que os problemas devem continuar no quarto trimestre e, potencialmente, em 2022, o que o levou a reduzir suas estimativas, em 5% no caso do Ebitda.

Em se tratando de iniciativas estratégicas, o Bradesco BBI diz que há progressos. Apesar disso, aponta que preocupações quanto a demanda e lucratividade devem continuar a prejudicar as ações. Por isso, mantém avaliação neutra e preço-alvo de R$ 17, ainda um potencial de alta de 25% frente o fechamento de quinta-feira (12).

Americanas: reestruturação dando frutos? 

Enquanto o Magalu tem forte baixa, a ação da Americanas tem uma disparada. Mais do que a alta do lucro de R$ 568%, que foi em grande parte explicada pela correção monetária do ICMS na base de cálculo do PIS/Cofins, que somou R$ 246,6 milhões no balanço, as sinalizações de que os ganhos da combinação dos ativos digitais e físicos começaram a aparecer nos resultados reforçaram uma visão mais positiva.

A XP destaca que a Americanas viu seu GMV total subir 24% na base anual (acima de seus pares), puxado pelo crescimento de 30% do GMV online e também por uma melhora da performance das lojas físicas.

O Credit ressaltou que o resultado foi muito alinhado com a expectativa do mercado, com alta de 6% das vendas nas mesmas lojas, um pouco acima dos 5% estimados pelo banco, e ainda lembrando que 18,4% da área de vendas ainda estava com restrição. Contudo, o marketplace avançou 30%, cerca de 5% abaixo da estimativa do Credit.

Um outro ponto de destaque ficou para a rentabilidade, que apresentou melhora frente o segundo trimestre de 1,4 ponto percentual, para 11,8%, ainda que com queda de 2,5 pontos na comparação anual. O Ebitda ajustado, de R$ 743 milhões, por sua vez, teve alta de 13,8% na comparação trimestral e praticamente estável frente o mesmo período de 2020.

No geral, o BBI apontou o resultado como positivo, com o GMV online ficando acima de Mercado Livre (MELI34) e Magalu pela primeira vez em um ano. O banco espera que esse desempenho se acelere no quarto trimestre de 2021 por conta da base de comparação mais fraca.