Parâmetros de apoios para se virar prefeito de Dourados

Parâmetros de apoios para se virar prefeito de Dourados
Por: Folha de Dourados
Geraldo Resende entre Rogério Yuri (indicado vice por Murilo Zauith) e o governador Azambuja na convenção em que foi oficializado candidato.
Geraldo Resende entre Rogério Yuri (indicado vice por Murilo Zauith) e o governador Azambuja na convenção em que foi oficializado candidato.
Valfrido Silva
Com apoio dos governos estadual e municipal Geraldo Resende espera, enfim, poder ‘tratorar’ quem cruzar seu caminho
Em 2006, no peito e na raça, Ari Artuzi quebrou uma tradição que começou com Luiz Antônio Gonçalves, o primeiro eleito após a criação do Mato Grosso do Sul, de que para ser prefeito de Dourados era preciso, necessariamente, ter o apoio do governo do Estado. E olha que o “animal de pelo curto” – como o ali já “felomenal” Valdecir era conhecido – tinha pela frente ninguém mais ninguém menos que o todo-poderoso Murilo Zauith, apoiado, claro, pelo governador André Puccinelli. Pelo que se vê agora, após as convenções que sacramentaram os nomes dos três principais candidatos a prefeito, o melhor parâmetro para uma desapaixonada análise do que está por vir neste 2016.
Nenhuma dúvida, de antemão, até porque não é todo dia que aparece um fenômeno como Ari Artuzi (embora Wanderlei Carneiro, apoiado por Alcides Bernal, tenha essa pretensão), de que a disputa será polarizada entre Délia Razuk e Geraldo Resende, com Renato Câmara correndo como azarão. Pequeno detalhe: o deputado tucano agora é, pelo menos oficialmente, apoiado por Murilo Zauith, por ele sempre criticado, mas que cedeu seu churrasqueiro Rogério Yuri para ser o vice e, mais chapa-branca impossível, pelo governador Reinaldo Azambuja, que durante a convenção tucana jurou não poupar esforços para fincar em Dourados o esteio para seu projeto de reeleição em 2008. Nada mal para quem sempre usou um tratorzinho como símbolo das obras conseguidas com os recursos de suas emendas parlamentares. Délia Razuk, aproveitando o vácuo oposicionista deixado por Resende, não tem apoio governamental, mas conta com figurões como Londres Machado, Zeca do PT e com o suplente do senador cassado, Delcídio do Amaral, professor Pedro Chaves. Renato Câmara, no corpo-a-corpo de uma empatia que lembra o Braz Melo da primeira eleição e do primeiro mandato, tentando tirar proveito desses tempos de baixa da classe política, colocando-se como o novo, mas nitidamente equivocado com o surrado e vazio discurso de “um novo despertar para Dourados”, até parecendo inspirado na “nova alvorada” que fez seu líder André Puccinelli escorregar na lama asfáltica. Por essas e outras é que o ex-petista, agora filiado ao PSOL, Ênio Ribeiro, não perde a esperança de também chegar lá.
Nenhuma dúvida (…) de que a disputa será polarizada entre Délia Razuk e Geraldo Resende, com Renato Câmara correndo como azarão”. — A propósito do parâmetro de Artuzi e do tão decantado apoio da máquina governamental estadual, lembrando que na sucessão de Luiz Antônio, em 1988, Braz Melo venceu o até ali todo-poderoso José Elias Moreira muito mais pelo carisma e pelo incisivo discurso “quem não fez até agora não consegue fazer mais”, (sem contar que a TV Morena estava na parada, para a transmissão dos programas eleitorais) do que, propriamente, pelo não menos incisivo apoio do governador Marcelo Miranda num tempo em que não existia esse negócio de Lava Jato.
Humberto Teixeira virou prefeito, em 1992, contra Antônio Nogueira, apenas e tão somente pela soberba de Braz Melo, cujos equívocos políticos levaram de roldão a segunda chance de Dourados ter seu governador, depois de Zé Elias ter batido na trave em 1982. O mesmo Braz retornaria em 1996, mas só porque o governador Wilson Barbosa Martins sentiu o cheiro dos charutos da macumba para seu vice nas areias monazíticas da praia de Guarapari e também porque o adversário era o já aí fragilizado José Elias Moreira. Interessante, aliás, que os candidatos de agora anotem: este Zé Elias que perdeu duas vezes para Braz Melo é o mesmo que elegeu o desconhecido Luiz Antônio por ter sido, até hoje, o maior prefeito da história de Dourados, depois de vencer Lauro Machado, em 1976, mas que para chegar até ali havia peitado o até então grande líder político Totó Câmara, em 1972, em sua primeira derrota.
Com a segunda administração Braz Melo passando em brancas nuvens, ninguém quis o apoio do prefeito nas eleições de 2000, restando-lhe pagar as contas da campanha do aliado George Takimoto. E, assim, o professor petista LaerteTetila nem precisou tanto do ajutório do governo do companheiro governador Zeca do PT, contra Murilo Zauith. E esta é outra lição aos que agora disputam a prefeitura, porque com a mesma história do novo na política Zauith recusou o apoio de lideranças que considerava ultrapassadas, como Zé Elias, Roberto Razuk, os irmãos Humberto e Zé Teixeira, Valdenir Machado, George Takimoto, além do próprio prefeito Braz Melo. Em 2004, com o PT no auge, ninguém quis se arriscar contra o projeto de reeleição de Tetila, e a murilista de carteirinha Bela Barros foi a escolhida para sparing. Estava aberto o caminho para a ascensão do fenômeno Artuzi, que, abatido pela tormenta uragânica, propiciou a chegada dos tão prometidos tempos de prosperidade de Murilo Zauith. Por fim, resta saber agora a conta de qual dos candidatos Zauith vai pagar.
(*) Jornalista e blogueiro