Os gráficos que mostram a queda recorde do índice de confiança do brasileiro – e o impacto na economia

Números apontam para uma queda historicamente grande da atividade no segundo trimestre de 2020, aponta Goldman Sachs

SÃO PAULO – Os dados do Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) do Brasil de março, divulgados no início deste mês, já deram uma ideia de como seria o impacto do coronavírus na atividade brasileira.

O índice composto caiu para 37,6 pontos em março, de 50,9 em fevereiro, informou a IHS Markit, atingindo o seu menor nível desde o início da pesquisa no Brasil, em março de 2007. Já o PMI de serviços do país desabou a 34,5 em março, de 50,4 no mês anterior, também apontando a maior contração do setor nos 13 anos de história da pesquisa. Enquanto isso, o da indústria foi a 48,4 em março, de 52,3 no mês anterior, na queda mais acentuada no desempenho do setor desde fevereiro de 2017.

Novos dados, desta vez referentes às primeiras duas semanas do mês de abril (do dia 1 até dia 13), mostram qual pode ser o impacto da epidemia na economia, que deve ter o seu período de crise aguda no segundo trimestre deste ano.

Em divulgação extraordinária de uma prévia de sondagens, a Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou que a pandemia do novo coronavírus abateu a confiança de consumidores e de empresários de todos os setores da economia. As prévias coletaram informações de 2.238 empresas e de 1.478 consumidores.

O Índice de Confiança Empresarial (ICE) recuou 27,6 pontos na prévia de abril ante o resultado fechado do mês de março, para 53,7 pontos. Já o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu 22,1 pontos, para 58,1 pontos. Se confirmados, ambos os indicadores descerão aos menores níveis da série histórica.

Na sondagem do Consumidor, o Índice de Situação Atual diminuiu 10,8 pontos, para 65,3 pontos, enquanto o Índice de Expectativas encolheu 29,1 pontos para 54,8 pontos.

Já no Índice de Confiança Empresarial – que traz o consolidado dos indicadores de confiança da Indústria, Serviços, Comércio e Construção – o Índice de Situação Atual (ISA-E) recuou 29,4 pontos, para 62,2 pontos, enquanto o Índice de Expectativas (IE-E) teve um tombo de 39,7 pontos, para 48,2 pontos.

Houve forte perda de confiança em todos os quatro grandes setores e nos 49 segmentos pesquisados. O Índice de Confiança da Indústria caiu 39,0 pontos na prévia de abril, para 58,5 pontos. O Índice de Confiança dos Serviços encolheu 34,9 pontos, para 47,9 pontos. O Índice de Confiança do Comércio diminuiu 26,8 pontos, para 61,3 pontos, enquanto o Índice de Confiança da Construção teve redução de 29,1 pontos, para 61,7 pontos.

“As quedas muito expressivas nos PMIs e nos indicadores de confiança apontam para uma queda historicamente grande da atividade no segundo trimestre de 2020. Em pesquisas anteriores, observamos que choques negativos à confiança têm efeitos contracionistas significativos no consumo e no investimento”, avalia Alberto Ramos, diretor do departamento de pesquisas econômicas para a América Latina do Goldman Sachs, em relatório do banco. O Goldman Sachs projeta PIB do Brasil em queda de 3,4% em 2020.

Abaixo, estão os gráficos elaborados pela instituição que mostram a histórica queda nos índices de confiança no Brasil:

 

Os números estão baixos, mas não significa que essa situação não possa piorar, conforme apontou em fala ao Valor Viviane Seda, coordenadora de Sondagens da fundação.

Ela destaca que a cautela já elevada devido à doença deve continuar a subir esse ano, e levar à compassos de espera na atividade e no consumo em 2020 – com possibilidade de que haja um carregamento negativo na economia até 2021. “Não temos, na história, nada com que comparar ao que estamos vivendo agora na economia”, apontou.

Para Viviane, as ações governamentais para atenuar os efeitos da crise têm que ser mais ágeis, amplas e incluir não somente o crédito, mas também transferência direta de recursos.

Neste cenário, diversas casas de análise e instituições vêm recorrentemente revisando as suas projeções para o PIB brasileiro, que se aponta como bastante negativo principalmente no segundo trimestre de 2020.

Para o segundo trimestre, só a queda abrupta nas prévias das sondagens calculadas pelo Ibre/FGV já levaram o “monitor do PIB” do JPMorgan a apontar uma queda anualizada de 25%. A projeção do banco, com ajustes, é de queda de 20%.

Já segundo estimativas do Itaú, o PIB encolheu 2,1% no primeiro trimestre e haverá retração de 6,5% no segundo trimestre, enquanto o Barclays aponta tombo de 8% no segundo trimestre em relação ao primeiro, após uma leve baixa de 0,3% nos primeiros três meses do ano em relação aos três meses anteriores.

De acordo com o Itaú, haverá o início de uma recuperação a partir do terceiro trimestre, levando o PIB a cair 2,5% este ano e a subir 4,7% em 2021 (impulsionando pela base mais baixa).

Contudo, aponta Viviane, da FGV, a influência do cenário atual está tão intenso na economia que os impactos serão sentidos não somente em 2020, como também do ano que vem. “Temos a projeção de um PIB bastante negativo esse ano, e não vai ser somente no segundo trimestre”, apontou