Novos portos retomam vocação de cidade no caminho da Rota Bioceânica

Murtinho nasceu de porto para escoar a produção no ciclo econômico da erva-mate.

Cidade derivada de um porto aberto para escoar a produção de erva-mate da Companhia Matte Larangeira pelo Rio Paraguai, Porto Murtinho, que ganha projeção com a Rota Bioceânica, também vive os planos de uma expansão de portos. O mais antigo vai a leilão, o segundo será ampliado e outros dois devem se instalar às margens do gigante curso de água.

“Nós temos dois portos. Um é o público, que vamos colocar à venda no próximo ano. Ele era concessionado, mas deu caducidade no contrato. O governo vai fazer a venda desse ativo em leilão. O outro porto solicitou ampliação. E temos mais duas solicitações de licenciamento de dois portos, que estão em fase de licenciamento. Ao final desse processo todo, ficariam quatro portos”, afirma o titular da Semagro (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), Jaime Verruck.

Logo na entrada da cidade, a 439 km de Campo Grande, está em fase de construção um terminal logístico, que dará suporte aos portos, com capacidade para 400 caminhões. 

Com inicio das operações em fevereiro de 2020, o porto do Grupo FC Cereais leva a soja produzida em Mato Grosso do Sul para San Lorenzo, na Argentina. A viagem descendo o rio demora até sete dias, com comboios formados por 12 a 20 barcaças. Elas retornam a Porto Murtinho vazias. Cada barcaça tem capacidade de carga que varia de 1.500 toneladas a 2.800 toneladas.

No último dia 13, o Rio Paraguai não estava navegável para os grandes comboios. Com o rio baixo, as barcaças podem ser carregadas com no máximo 70% da carga que comportariam quando há melhores condições de navegabilidade. Desta forma, para evitar o chamado “frete morto”, a opção é mandar a soja produzida em Mato Grosso do Sul de caminhão até Paranaguá, porto no Paraná.

O terminal da FC Cereais planeja expansão. “Temos uma capacidade de movimentação que ainda não atingimos por conta da demanda e a baixa do rio. Mas temos espaço para ampliar e temos também terreno para um segundo terminal”, afirma Genivaldo Santos, gerente de operações portuárias da empresa. 

Em 2020, o porto movimentou 265 mil toneladas. Neste ano, foram 250 mil toneladas. “Esse fluxo é dividido conforme a demanda do exportador e a condição de frete hidroviário”, diz o gerente.

Um orçamento de investimentos – De acordo com o prefeito Nelson Cintra (PSDB), o município tem orçamento anual de R$ 80 milhões. Esse é o mesmo valor dos investimentos que chegam à cidade de 17 mil habitantes por meio de recursos do governo do Estado e emendas. 

“Temos mais de R$ 80 milhões para investir. Vamos ampliar hospital, asfalto, aeroporto. Estamos fazendo licitações. Só em asfalto, serão em torno de R$ 20 milhões para recapeamento e ampliação. Temos dois portos funcionando e mais dois para funcionar. São duas vertentes de desenvolvimento: os portos que vão para o [Oceano] Atlântico e a Rota Bioceânica, que vai para o Pacífico”.

 Outra percepção nossa, é a quantidade de terrenos que estão sendo comercializados e, esse fenômeno, gera arrecadação do ITBI (Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis)”, concluiu Cintra.

Segundo o prefeito, o município já teve injeção de dinheiro com o aquecimento do mercado de compra e venda de fazendas, que resulta no crescimento da receita do ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis). “E também vamos ter mais competitividade. Já fui procurado por grandes empresas que querem se estabelecer em Porto Murtinho”, diz Cintra. 

O município, que abriga rebanho de um milhão de cabeças de gado, é o segundo maior de MS no quesito território: 17.735 quilômetros quadrados. 

A expectativa é que a cidade receba mais cinco mil moradores com a ativação da Rota Bioceânica, que cruza Brasil, Paraguai, Argentina e Chile. Os portos chilenos permitem a exportação pelo Pacífico, com redução de 17 dias de tempo da viagem das mercadorias até a China, principal comprador das exportações de Mato Grosso do Sul.  CGNEWS