Em entrevista à GloboNews, Robinson Faria falou sobre crise prisional.
No último final de semana, 26 pessoas morreram no presídio em RN.
O governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), anunciou na tarde desta quinta-feira (19) que policiais militares entrarão na Penitenciária de Alcaçuz para separar as duas facções que se enfrentam no local. Em entrevista à GloboNews, ele afirmou que os policiais formarão um “paredão humano”.
iante do presídio, policiais da Força Nacional e da PM se preparavam para entrar na tarde desta quinta. Por volta das 16h30, presos atearam fogo no pavilhão 3 da unidade.
No último final de semana, 26 pessoas morreram em uma rebelião – nesta quinta, houve outro confronto entre as facções, também com mortes, mas o número de vítimas não foi informado. Segundo a PM, os presos “estão armados e se matando”.
Segundo o governador, a entrada dos policiais visa “permitir a construção de uma parede física para separar o PCC do Sindicato do RN”. Os policiais farão uma “corrente humana”, e permanecerão dentro da penitenciária até a construção de uma parede física que possa separar os presos.
Na entrevista, Faria disse ter sido ameaçado pela facção paulista de que iriam “tocar fogo em Natal” se houvesse a transferência dos seus chefes para presídios federais. O governo anunciou na quarta que havia pedido à Justiça a transferência. À noite, uma série de ataques ocorreu em Natal a ônibus e delegacias, entre outros locais.
A seguir, leia trechos da entrevista:
Operação para evitar matança
O governador afirmou que o batalhão de choque e forças especiais da PM do estado estão se preparando para entrar daqui a pouco em Alcaçuz, “para devolver e fazer um paredão humano até que tenhamos a construção de uma parede física para separar o PCC do Sindicato do RN”.
“A curto prazo agora [o objetivo] é evitar uma nova briga, uma nova matança entre eles. Por isso nós vamos entrar daqui a pouquinho, a operação vai começar já já. Em um segundo momento vamos transferir os presos das facções para presídios separadamente.”
Há risco?
“É claro que existe risco, mas é dentro da lei. A lei faculta o direito de a PM intervir em caso de extremos.”
Ordem: retomar o presídio
“A ordem é retomar a ordem do presídio, fazer uma corrente humana dentro, de policiais, separando eles, para acabar com essa folga de ficarem perambulando, e amanhã se inicia a construção de um paredão, de placas de concreto, para separar até você ter toda a remoção, no estado inteiro, de quem é PCC e quem é sindicato do crime.”
Polícia demorou?
O governador admitiu que achou que a entrada da PM nesta quinta demorou e, por ele, poderia ter ocorrido antes, mas afirmou que a polícia informou que estava se preparando, e que não poderia ordenar a entrada dos policiais sem que eles estivessem preparados. O governador afirmou que os policias vão permanecer dentro de Alcaçuz para evitar novos confrontos.
Desafio
“O Sindicato desafiou o governo, assim como o PCC também me desafiou, a minha integridade, se eu tirasse presos da Alcaçuz”.
Esquecer ou intervir?
“Você acha melhor a gente esquecer Alcaçuz, deixar todo mundo se matar lá dentro, ou tentar intervir para evitar uma nova tragédia?”
Negociação?
O secretário de Segurança Pública e Defesa do RN, Caio Bezerra, disse nesta quinta que o governo mantinha contato com os líderes das facções para tentar retomar o controle de Alcaçuz, e que eles foram informadas de que a polícia não iria mais permitir confrontos entre criminosos.
O jornal “O Globo” publicou reportagem afirmando que a paz no presídio foi negociada com o PCC. Questionado, o governador negou ter feito negociações: “Não houve negociação. Até porque ontem eu estava em Brasília, cheguei aqui ontem no final da tarde. Tanto é que o PCC me ameaçou, disse que ia tocar fogo em Natal. A mesma coisa o sindicato. Ou seja, se tivesse tido negociação Natal não estava sendo agora incendiada.”
“Não vou negociar. Vamos enfrentar. Não vou fazer nada fora da lei, mas vamos enfrentar, como enfrentamos agora e em todas as rebeliões que já aconteceram.”
‘Evitar Carandiru 2’
O governador justificou por que motivo os policiais não entraram em Alcaçuz já na noite de sábado (13), quando ocorreu a primeira rebelião. “Naquela ocasião era noite. Eles estavam armados, nós escutamos vários tiros. Se eu ordenasse que a polícia entrasse em Alcaçuz, podia ser um Carandiru 2 […] A polícia ia entrar, encontrar presos armados, violentos, e iria ter uma matança muito grande, tanto de policiais quanto de apenados. Eu não posso autorizar a polícia a entrar se ela não se sentir segura para entrar.”
“Nós entramos duas vezes, eu só proibi entrar no sábado à noite porque seria um Carandiru 2. Mas agora não há mais cela. Nós vamos entrar para evitar uma mortandade, essa vingança do sindicato do RN contra o PCC.”
Destruíram o presídio
Segundo Faria, não houve negligência por parte da polícia após a primeira rebelião. “A polícia entrou, recolheu o que pode recolher, recolheu armas. Agora, eles destruíram o presídio. Terá que ser feita toda uma nova reconstrução.”
“Essa guerra que está sendo agora, que vamos acabar já já, é de armas de pedaço de ferro, de pedaço de cano, do que foi destruído. Não foi negligência, não houve negociação, e não vai haver negociação porque o governador não autoriza negociação com quem quer que seja, nem com PCC, nem com Sindicato do RN.“
Presos desafiam o estado
“É muito difícil, mas temos que ter coragem e enfrentar. Já pedi ao presidente Temer que envie as Forças Armadas para proteger as ruas, a população (…). Eles estão [as facções] desafiando o estado. Cada vez estão mais aparelhados, e fica mais difícil, e o estado vai ficando menor.”
Bloqueadores de celular estão desligados?
O governador admitiu que os bloqueadores de celular do presídio estão desligados. “Desde sábado que eles [presos] conseguiram ter acesso ao setor de operações da empresa que instalou o bloqueador de celular, uma máquina blindada, mas isso será corrigido. Eles estão tão aparelhados que conseguiram ter acesso à central onde ficava o bloqueador.”
Criminosos querem intimidar
“Eles querem intimidar [com os ataques pela cidade], fazer medo ao governo, para ver se o governo recua e negocia.”
Intenção: desativar ou reconstruir Alcaçuz
“Esse presídio foi feito já há mais de 20 anos. Foi um equívoco a escolha do local, uma área de duna, arenosa. Temos que depois discutir com o departamento do engenharia, desocupar Alcaçuz, fazer uma realocação, ou interditar de vez ou fazer uma reconstrução para tornar o presídio altamente blindado, seguro.”
Sistema prisional brasileiro faliu
“Temos que mostrar a verdade como ela é mesmo. O Brasil faliu o sistema prisional. (…) Agora que o presidente Temer resolveu fazer essa parceria com os governos estaduais.” G-1
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