EUA e Europa querem trazer rochas de Marte para investigar histórico de vida

Agências espaciais dos Estados Unidos e de países europeus estão se juntando para realizar, no futuro, uma missão que poderá trazer para a Terra amostras de pedras e do solo de Marte.

A Nasa (agência espacial americana) e a ESA (agência espacial europeia) assinaram uma carta de intenções que pode levar à primeira viagem de ida e volta ao planeta vermelho.

O plano foi anunciado em uma reunião na capital da Alemanha, Berlim, onde foram debatidos objetivos e a viabilidade da missão – chamada de Mars Sample Return (MSR, ou “Retorno de Amostras de Marte”, em tradução livre).

A empreitada espacial poderá colocar os cientistas mais perto de respostas-chave sobre o passado de Marte.

Entre as respostas mais visadas está a questão sobre se, um dia, o planeta vermelho já abrigou vida.

Cientistas comemoram, na reunião, os avanços já obtidos com a análise de meteoritos marcianos e o envio de veículos para o planeta vizinho, mas clamaram por um novo passo em que amostras de Marte poderiam ser trazidas para a Terra.

Isso poderia ser feito com a coleta do material no solo marciano, posterior armazenamento em cápsulas, que finalmente aterrissariam de forma segura na Terra.

As amostras, então, poderiam passar por uma análise detalhada em laboratórios na Terra – usando instrumentos que são grandes demais ou consumiriam muito combustível para serem enviados para 55 milhões de quilômetros de distância.

“Queremos formar uma parceria com a ESA, mas também com outros parceiros”, disse Thomas Zurbuchen, cientista associado à Nasa. “A todo momento, estaremos vendo o que está disponível no mercado comercial. A Nasa não tem interesse em desenvolver coisas que podem ser compradas”.

Dave Parker, diretor de exploração humana e robótica da ESA, comentou: “É muito importante que cada missão enviada a Marte descubra algo minimamente incomum. Isso está na base do que tendemos a fazer nas próximas missões”.

Uma missão da Nasa em 2020 deve abrir caminho para a missão Mars Sample Return, que pretende coletar as amostras a serem estudadas na Terra. Em 2020, robôs farão, como teste, perfurações na superfície do planeta vermelho e armazenarão o material.

Um plano mais completo para trazer amostras do planeta vizinho precisaria de anos para ser desenvolvido.

Projetos anteriores consideraram o envio de robôs para a coleta do material. Este seria então transportado por um veículo que sairia da superfície marciana que, ao chegar à superfície da Terra, soltaria as amostras por meio de paraquedas.

Caroline Smith, cientista do Museu de História Natural de Londres, participou do encontro.

“Eu diria que é uma renovação do processo”, disse Smith à BBC News. “Vários estudos já apontaram que a única forma disso (este tipo de missão) ser conquistado é através da cooperação internacional. Então acho que essa é uma mensagem muito boa da Nasa e da ESA, que trabalharão juntas para materializar isso – a próxima fronteira na exploração do Sistema Solar”.

“Há um burburinho real na sala. Eu falei com vários colegas que vibraram: ‘Uau, realmente vamos fazer isso!'”.

Protegendo o planeta
Se a vida já existiu no planeta vermelho, provavelmente tinha uma natureza microscópica. Cientistas querem primeiro saber quais eram as condições ideais para a existência da vida e, caso elas tenham se configurado, se há evidências fossilizadas. Pesquisadores também querem saber se há, hoje, vida em Marte.

“Só seremos capazes de responder de forma conclusiva a essas perguntas trazendo as amostras para cá”, explica Smith.

Os altos níveis atuais de radiação cósmica na superfície de Marte – uma consequência de sua fina atmosfera – poderiam criar um ambiente hostil para qualquer organismo. Ainda assim, há maneiras pelas quais a vida ainda pode se fixar. A possibilidade de que os organismos vivam hoje no subsolo de Marte significa que a missão estaria sujeita a rígidas medidas de quarentena, uma espécie de “proteção planetária”.

“Temos que ter cuidado para não contaminarmos Marte com material do nosso planeta. Também queremos ter a certeza de que não vamos contaminar acidentalmente as amostras que serão levadas à Terra”, explica a cientista. “Se há algo perigoso em Marte, não queremos que isso entre na biosfera da Terra”.

“Temos conhecimento em lidar com materiais perigosos, sejam eles biológicos ou nucleares”.

Zurbuchen acrescenta que essa missão de ida e volta poderá ser crucial também para uma eventual exploração de Marte por humanos – o que, segundo suas previsões, começará a ser pensado pela Nasa nos anos 2030.

A poeira na atmosfera e no solo também poderia ter um impacto importante. Se futuras bases para humanos no espaço dependerem de células solares, a poeira poderia bloquear a luz do sol – interrompendo a geração de energia.

Até mesmo dentro dos abrigos a poeira poderia ser um problema.

“Se a poeira está por toda a parte, e você tem pessoas vivendo e respirando em meio a ela, isso poderia ser danoso aos astronautas”, questiona Smith.

A sonda Trace Gas Orbiter (TGO), da ESA, está atualmente em solo marciano. Ela contribuirá em pesquisas sobre a vida no planeta ao estudar a distribuição atmosférica do gás metano – que pode ser produzido por organismos mas também pode ter origem em fontes não biológicas.

Além de rochas que podem ser relevantes para essa questão, rochas ígneas formadas pelo magma no interior de Marte são um alvo para a missão de coleta de amostras.

“Ao coletar rochas ígneas, poderemos entender a evolução geoquímica do planeta Marte. Ficaríamos sabendo quando as lavas estararam em erupção”, explica Caroline Smith.

A análise, em Terra, dessas pedras, poderá traçar uma cronologia muito mais precisa do planeta vermelho. Hoje, este conhecimento tem como base valores elaborados a partir de estudos da Lua.

Em 2009, a Nasa e a ESA concordaram em colaborar na Iniciativa Conjunta de Exploração de Marte, que teria culminado na coleta de amostras em 2020. Mas, em 2011, a Nasa cancelou sua participação em meio a um aperto orçamentário.

Fonte: BBC Brasil