Empresários usaram parentes, mãe e ex-mulher para criar empresas e desviar verba estadual

Organograma montado pelo MPE para deixar claro a ligação entre as empresas e Alberto Crestani (Foto: Reprodução)
Edivaldo Bitencourt, de O Jacaré

Os empresários Alberto Crestani e José Lessoni Dias são acusados de usar irmãos, sobrinhos, a mãe, amigos e até a ex-mulher para criar oito empresas usadas no desvio de recursos públicos estaduais. Conforme denúncia do MPE (Ministério Público Estadual), eles desviaram R$ 1,198 milhão da EGRHP (Empresa de Gestão de Recursos Humanos e Patrimônio de Mato Grosso do Sul) que seriam destinados ao pagamento de impostos municipais e federais.

Na semana passada, o juiz da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, Alexandre Antunes da Silva, determinou o bloqueio dos bens dos empresários, dos seus sócios, de ex-funcionários públicos e das empresas envolvidas na irregularidade.

Juiz bloqueia bens e contas de grupo acusado de desviar R$ 1,1 milhão

No entanto, o processo tramita de forma lenta e morosa na Justiça estadual. Só para se ter ideia, os desvios ocorreram entre 2004 e 2006 mediante fraude na emissão dos documentos para pagar o ISS (Imposto Sobre Serviços) e os tributos junto à Receita Federal.

O grupo é alvo de três ações por improbidade administrativa e uma ação penal. Na parte criminal, a denúncia ocorreu em 5 de fevereiro de 2010, mas só foi aceita pelo juiz quatro anos depois, em junho de 2014.

Somente no mês de julho deste ano, o juiz da 1ª Vara Criminal de Campo Grande, Roberto Ferreira Filho, designou, para o dia 22 de março de 2018, a audiência de instrução e julgamento para ouvir as testemunhas e réus.

Os desvios foram descobertos em 2009, quando o Governo estadual foi alertado pela Receita de que não estava recolhendo os tributos.

Ao analisar, a Empresa de Gestão descobriu que havia destinado dinheiro para as empresas de Crestani, que não haviam prestado serviço ao órgão nem direito a nenhum crédito. A sindicância apurou o desvio e encaminhou o caso ao MPE.

De acordo com a denúncia, Alberto Crestani e José Lessoni Dias constituíram oito pequenas empresas usando parentes e amigos.

A mãe de Alberto, Dosalina Grotto Crestani, tornou-se dona da Dosolina Grotto Crestani ME, que teria recebido R$ 572,2 mil desviados dos cofres estaduais.

Dosalina ainda surge como sócia, com os sobrinhos de José, da Bestcomp Construção Civil Elétrica e Eletrônica, acusada de receber ilegalmente R$ 25,1 mil.

A ex-mulher de Alberto, Regiane Vieira Pereira, era dona da Grotto Comercial (R$ 57 mil).

O irmão Hildo Crestani aparece como sócio na Orion Computadores, beneficiada pelos repasses de R$ 259,8 mil. Ele ainda dividiu com a irmã, Isaura Crestani, a titularidade da SMA Comercial e Representações, que ficou com R$ 770,4 mil.

Alberto e Eder Lessoni Pedroso, sobrinho de José, eram sócios da Construbrás, que foi proibida de prestar serviços ao poder público em 12 de abril de 2012.

José e a esposa eram donos da Microhouse, acusada de ser contemplada com R$ 15,4 mil. A sobrinha de Lessoni, Lenir Bergamaschi, seria dona da L. Bergamaschi, acusada de ser beneficiada pelo repasse de R$ 528,1 mil.

À Justiça, na defesa da ação penal por crimes tributários, Alberto alegou que provará a inocência durante a instrução e julgamento.

José Lissoni Dias e Éder pediram a rejeição da denúncia por falta de justa causa. Isaura alegou ser inocente e não ter envolvimento com as irregularidades.

Alberto ainda é alvo de três ações de cobrança do município por dívidas com tributos municipais, que oscilam entre R|$ 1,2 mil e R$ 13,9 mil.