Em busca de inovação, grandes empresas batem recorde de aquisições de startups

A preferência tem sido pelas startups, empresas novatas com mais agilidade no desenvolvimento de produtos e com mão de obra qualificada

Só no primeiro quadrimestre deste ano, o número de aquisições de startups cresceu 120% – um recorde para o segmento. Foram 77 negócios ante 35 em igual período do ano passado, segundo dados da plataforma de inovação Distrito. O movimento começou a se intensificar no terceiro trimestre do ano passado, quando aumentou a corrida pela digitalização para amenizar os efeitos da crise. Para se ter ideia do apetite das empresas, o número de aquisições entre janeiro e abril deste ano foi maior que o de 2019 inteiro.

“A pandemia acelerou a transformação das empresas diante de uma mudança forte no comportamento dos consumidores. Elas entenderam que precisavam ter novos canais para atender a esse cliente”, afirma o cofundador da Distrito, Gustavo Gierun. Para ele, as aquisições de startups se mostraram o caminho mais rápido para encurtar o tempo da digitalização.

“Todos os dias temos de decidir se vamos construir as soluções ou vamos procurar fora”, diz o vice-presidente de negócios do Magalu, Eduardo Galanternik. No primeiro quadrimestre, a estratégia foi buscar no mercado: a empresa comprou cinco startups e continua com forte apetite. “Procuramos negócios que vão resolver nossos problemas nas áreas de tecnologia, logística e pagamentos”, diz Galanternik, destacando que o objetivo é acompanhar os novos hábitos de clientes cada vez mais conectados.

Outras varejistas acompanharam a estratégia do Magalu. Neste ano, a venda de startups com soluções voltadas para o setor ficou em primeiro lugar no ranking de fusões e aquisições, com 14% das operações, segundo a Distrito. Em 2020, as fintechs estavam na liderança, com 16%, e o varejo em quarto lugar, com 11%. Para Gierun, as empresas do setor entenderam que avanços na parte de serviços, operações, clientes e na cadeia logística serão essenciais para o crescimento.

A velocidade das mudanças num mundo em forte disrupção reforça o movimento de compra de startups em vez de começar um projeto do zero. “Hoje em dia a tecnologia se torna obsoleta rapidamente. Enquanto uma empresa desenvolve uma solução, outras surgem e superam as demais”, afirma o sócio da consultoria PwC, Leonardo Dell’Oso, líder da área de fusões e aquisições.

Além da urgência do digital, o cenário tem sido favorável às aquisições. Com a queda dos juros e abertura de capital na bolsa, há muito dinheiro em circulação que precisa ser alocado em algum lugar, diz o sócio-fundador da butique de fusões e aquisições Solstic Advisors, Flávio Batel. “Só nas últimas três semanas, recebemos cinco novos mandatos de negócios que envolvem busca de soluções para empresas tradicionais.”

A maioria delas tem criado áreas e fundos dedicados à busca de oportunidades no mercado, como é o caso da Tivit, Porto Seguro e a B2W, que criou o IF – Inovação e Futuro. É essa área que fica à frente das aquisições de empresas do Universo Americanas (Americanas e B2W). De janeiro de 2020 para cá, a companhia já comprou oito startups para reforçar os serviços do grupo. A aquisição mais recente foi a Nexoos, uma plataforma que conecta tomadores de crédito com investidores. “A estratégia é entrar em negócios de novas frequências, novas verticais e que tenham times e conhecimentos para acelerar nosso trabalho”, diz o diretor do IF, Thiago Barreira.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.