Em bilhete, Fernandinho Beira-Mar explica como traficava armas para as Farc

Chamado de “Psicopata” por comparsas, traficante continuava a comandar quadrilha de dentro de presídio de segurança máxima em Rondônia

Rio – O traficante Luiz Fernando da Costa, o Beira-Mar, comandava uma quadrilha internacional de tráfico de drogas mesmo detido no Presídio Federal de Segurança Máxima de Rondônia. O esquema foi desmantelado ontem pela Polícia Federal, que durante as investigações identificou que Beira-Mar juntava dinheiro para expandir seus negócios para o Suriname e traficar fuzis.
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Em bilhete, Beira-Mar diz que pretendia retomar o comércio de armas com a Nigéria. Pela primeira vez, ele admitiu que trocou drogas com traficantes nigerianos por 108 fuzis para abastecer as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)

“Assim que a gente tiver caixa [dinheiro] vamos montar uma empresa nossa no Suriname e outra no Paraguai. Para a gente trazer tudo lá de fora a preço de custo. Como eu fazia para levar as armas para a guerrilha [Farc]. (…) Para comprar 108 armas na Nigéria (…) eu mandei a mercadoria no navio. Para cada quilo de pó [cocaína] eu pegava 4 bico [fuzil]”, diz trecho de carta, interceptada pela Polícia Federal.


PF prendeu 10 da família de Beira-Mar
Arte O Dia

A Operação Epístolas revelou uma faceta inédita do traficante: ele também atuava como miliciano.

A quadrilha detinha o controle de atividades de máquinas de caça-níquel, venda de botijões de gás, cestas básicas, mototáxi, cigarros e até o abastecimento de água de 13 favelas de Duque de Caxias. No total, 24 pessoas foram presas, entre elas, 10 parentes de Beira-Mar. A ação foi realizada em cinco estados e no DF.

Segundo a PF, os criminosos movimentaram R$ 9 milhões com o esquema. O dinheiro foi localizado em 51 contas bancárias e 11 empresas estariam envolvidas na lavagem dos recursos. Nove delas tiveram atividades suspensas.
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A investigação também indicou que nove parentes de Beira-Mar são servidores fantasmas do Legislativo municipal de Caxias, onde foi realizada busca e apreensão. Uma das nomeadas era uma das irmãs de Beira-Mar, Débora Costa. A Câmara negou a contratação. Os procuradores pediram a condução coercitiva do presidente da Câmara, vereador Sandro Lélis (PSL), mas a Justiça negou.


A irmã de Beira-Mar Alessandra Costa foi presa ontem. Segundo a PF, ela era administra patrimônio ilícito de R$ 30 milhões
Severino Silva / Agência O Dia
Apelido de Beira-Mar: ‘Psicopata’

Chamando Bolívia de ‘Brasília’ e Paraguai de ‘Cidade do Hino’, Beira-Mar, ou o ‘Psicopata’ como é chamado pela quadrilha, escrevia recados em folhas de papel que eram repassados para o seu vizinho de cela através do uso de barbantes.

Os recados saíam por visitantes em partes íntimas e entregues a um mulher, Francisca dos Santos (presa ontem) que digitava os bilhetes em computador. “O objetivo era evitar que a grafia do Beira-Mar fosse identificada”, afirmou o delegado Leonardo Marino, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes de Rondônia.
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Após digitalizadas, as cartas eram passadas por Whatsapp e deixadas no rascunho de emails: quem tinha a senha em comum acessava. Nos bilhetes, além de ordens, ele também dava fórmulas de misturas para a composição das drogas e uso da pasta base de coca. Com helicópteros, hidroavião e avião próprios, a quadrilha trazia drogas do Peru, Paraguai e Bolívia. O destino final era o Rio de Janeiro.

Do lado de fora da cadeia, Beira-Mar tinha como seus principais colaboradores seus parentes. Entre os presos ontem estão cinco filhos do traficante e sua irmã Alessandra da Costa, detida no apartamento onde mora, em Caxias. Ela é apontada por administrar o patrimônio ilícito em torno de R$ 30 milhões.
Traficante torturou jovem em 1999

O principal representante de Beira-Mar do lado de fora da cadeia era Marcos Marinho dos Santos, o Chapolin. “Você é o patrão”, escreveu Beira-Mar em bilhete. A parceria entre os dois é antiga. Em 1999, foi Chapolin quem torturou e matou o estudante de informática Michel Nascimento dos Santos, depois que ele saiu com uma ex-namorada de Beira-Mar.

Durante a tortura, Beira-Mar telefonava e ironizava a condição de Michel. A ligação foi gravada pela polícia e apresentada em um dos seus julgamentos. “Tá ouvindo bem?”, pergunta a Michel, que já havia perdido as duas orelhas e os dois pés. “Se eu soubesse nunca teria me envolvido”, responde Michel, pedindo para sobreviver.

Em 2002, Chapolin liderou, ao lado de Beira-Mar, a rebelião em Bangu 1, em que traficantes da facção rival foram mortos. Solto em 2015, após progressão da pena que cumpria em presídio de segurança máxima, Chapolin retomou a negociação das drogas.

A Justiça determinou que Chapolin volte para presídio federal e que Beira-Mar seja transferido de Rondônia para outra unidade (mantida em sigilo) em Regime Disciplinar Diferenciado.

Com reportagem do estagiário Rafael Nascimento

Beira-Mar era chamado de “psicopata” por comparsas
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