EDITORIAL : A PRESIDENTE SOB PRESSÃO

As reuniões emergenciais realizadas no fim de semana pela presidente da República com um grupo de ministros são a expressão de quanto o governo demorou para reagir à crise econômica e política. Anunciou-se ao final desses encontros que a presidente da República empenha-se agora em obter da sua equipe cortes da ordem de R$ 15 bilhões, na tentativa desesperada de oferecer ao Congresso o contraponto exigido para a intenção do Executivo de aumentar impostos. As circunstâncias são desfavoráveis ao governo, em um contexto de fatos negativos fomentado pelos erros do próprio Planalto.
A tentativa de reduzir despesas é tardia e vem na sequência da desastrada atitude do governo de enviar ao Congresso o Orçamento de 2016 com um rombo de R$ 30 bilhões. A presidente tenta reagir a uma situação dramática, sob todos os pontos de vista. Sob o aspecto econômico, o que se vê é o agravamento da recessão, que provoca desemprego e perda de renda, combinados com inflação e juros em alta. É finalmente admitido pelo governo que esse quadro de desalento poderia ter sido atacado muito antes, com medidas corretivas que o Planalto se negou a executar. Uma das consequências mais recentes foi a decisão da agência Standard & Poor’s de retirar do Brasil o selo de bom pagador.
Antes disso, o governo já havia perdido a confiança dos empresários e desorientado até mesmo os analistas, que ainda tentam compreender seus movimentos erráticos. O clima de pessimismo é agravado pela perda da sustentação política, que o Executivo vinha mantendo precariamente. O que se vê hoje é uma base governista que conspira contra os interesses do Planalto quase com a mesma intensidade da oposição. É esta base que a presidente da República precisa convencer de que o ajuste fiscal, que pode prever aumento da carga tributária, será compensado por cortes drásticos de despesas.
É uma intenção que precisa ser bem explicada, aos políticos, aos empresários e à sociedade, já no início da semana, sob pena de comprometer o que resta de apoio ao governo. A senhora Dilma Rousseff deve, finalmente, ter clareza de que sua indecisão corroeu parte expressiva do suporte político de que desfrutava até aqui. Reagir a esse desalento generalizado é o mínimo que se espera de quem pretende continuar governando, mesmo que sob a desconfiança inclusive dos que lhe asseguraram um segundo mandato.
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