Dólar sobe mais de 2%, a R$ 3,67, com BC e cenário político

Dólar: Banco Central atuou pelo terceiro dia seguido, e moeda fechou em alta de mais de 2%.
Da REUTERS
São Paulo – O dólar fechou em alta superior a 2 por cento frente ao real nesta quarta-feira, após o Banco Central atuar para sustentar as cotações pelo terceiro dia consecutivo e em meio ao cenário político conturbado no Brasil.
O dólar avançou 2,11 por cento, a 3,6768 reais na venda, após atingir 3,6837 reais na máxima da sessão.
“Parece que o BC está insistindo e o mercado está cedendo aos esforços dele”, disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta.
O BC vendeu 17 mil dos 20 mil swaps cambiais reversos, contratos equivalentes a compra futura de dólares, no leilão desta quarta-feira. Trata-se da terceira operação desse tipo em três dias, após a autoridade monetária deixar a ferramenta encostada por três anos.
O BC também reduziu pela segunda vez neste mês a oferta de swaps cambiais tradicionais –que atuam na ponta inversa dos swaps reversos, funcionando como venda futura de dólares– para rolagem dos vencimentos em abril.
O BC ofertou apenas até 2,5 mil swaps tradicionais no leilão desta sessão, contra até 3,6 mil antes. Se mantiver esse ritmo até o penúltimo pregão do mês e vender sempre a oferta integral, rolará apenas pouco mais de 70 por cento do lote do mês que vem, equivalente a 10,092 bilhões de dólares.
Com a venda integral desta sessão, a autoridade monetária já rolou o equivalente a 6,648 bilhões de dólares, ou cerca de 66 por cento do lote total.
Alguns operadores haviam entendido a atuação do BC nas duas últimas sessões como uma ferramenta para sondar a demanda pelos instrumentos. As vendas parciais teriam sido um sinal de que a autoridade monetária não teria como objetivo colocar um piso para as cotações, mas apenas garantir que a queda da moeda norte-americana aconteça de forma suave.
No entanto, a continuidade da atuação lançou dúvidas sobre a estratégia da autoridade monetária. Alguns operadores discutiam inclusive a possibilidade de o BC evitar deixar o dólar cair abaixo de 3,60 reais de forma a proteger as exportações brasileiras em um momento de forte recessão.
“Não ficaria surpreso se o mercado voltar a testar (cotações mais baixas) para conseguir respostas”, disse o operador da corretora de um banco nacional.
As ações recentes do BC contribuem para reduzir o estoque de quase 110 bilhões de dólares em swaps tradicionais em circulação, que tende a gerar custos quando o dólar se fortalece.
Na terça-feira, o presidente do BC, Alexandre Tombini, defendeu esse estoque como importante para a estabilidade financeira, embora veja menor demanda pelos instrumentos.
Uma das explicações para as vendas parciais do BC era que as propostas dos investidores no leilão não teriam sido atraentes.
“O mercado sabe que o BC quer desovar um estoque grande e por isso pressiona as taxas”, acrescentou o operador.
A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki de que o juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná, envie ao STF as informações sobre a quebra de sigilo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim como todos os processos relacionados às interceptações, também contribuiu para o quadro de apreensão política nesta sessão.
Outro fator foi a divulgação, por uma série de veículos da imprensa, de lista que apontaria pagamentos da Odebrecht a políticos.
Um pouco mais tarde, o juiz Sérgio Moro colocou a lista em sigilo e determinou que o Ministério Público Federal (MPF) se manifeste sobre a possibilidade de enviar esses documentos ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A alta do dólar nesta sessão veio também em linha com o movimento do câmbio no exterior. Muitos operadores reviam suas expectativas para a política monetária norte-americana após duas autoridades do Federal Reserve encorajarem expectativas de pelo menos dois aumentos de 0,25 ponto percentual nos juros neste ano.
“A probabilidade dos juros voltarem a subir nos EUA tem aumentado”, escreveram analistas da corretora Guide Investimentos em nota a clientes.
Juros mais altos nos EUA podem atrair para a maior economia do mundo recursos aplicados em economias emergentes, como o Brasil.