Concurso de beleza indígena tem a primeira candidata transgênero

Concurso de beleza indígena tem a primeira candidata transgênero

27 abril 2019 – 16h25Por G 1

Katrina Malbem é a primeira candidata transgênero do Miss Indígena em MS. – Crédito: Organização do Miss Indígena/Reprodução

Pela primeira vez desde que foi criado, há nove anos, o concurso de Miss e Mister Indígena de Mato Grosso do Sul, terá a participação de uma candidata transgênero. Katrina Malbem tem 17 anos, é da etnia Guarani e vive na aldeia Bororó em Dourados. Ela sempre quis participar do concurso, mas a decisão de realmente disputar uma vaga veio após a transição, que aconteceu há 3 anos:

“Quero levar a mensagem de que respeito à escolha do outro vai além de qualquer tradição.”

A organizadora do concurso, Tatiane Martins Gomes, conta que houve resistência da comunidade sobre a participação de uma candidata trans: “Ninguém esperava, mas quando soubemos da inscrição dela, todo mundo concordou que ela deveria, sim, participar. Em seguida começaram as críticas por parte de pessoas da comunidade, familiares de outras candidatas sobre a participação dela, querendo que ela não disputasse, os costumes ainda são conservadores na aldeia”, relata.

Por isso, a comissão organizadora decidiu que Katrina iria participar sim, mas em uma condição especial: “É complicada a questão da disputa na categoria feminina, mas não abrimos mão da participação dela, então decidimos que ela vai desfilar, vai participar como todas as demais, mas não vai pontuar, porém, ela receberá o título de miss diversidade indígena pela coragem em representar o público LGBT na aldeia”.

“Existem muitos indígenas que se identificam como homossexuais ou transgêneros, e acima das tradições e costumes, é hora de acolhermos o público LGBT dentro das aldeias.”

A transição de Katrina na aldeia

Katrina conta que ao identificar-se como trans, a primeira coisa que fez foi comunicar à mãe e procurar ajuda: “Eu pesquisei muito, li muita coisa e quando contei à minha mãe, ela prontamente me ajudou e fomos procurar o auxílio de um psicólogo. Sempre tive o apoio da minha mãe e isso é muito, muito importante”, relata.

Ela relata que existe preconceito na comunidade como em qualquer outro lugar, mas que a maior dificuldade que encontra é com outros adolescentes, especialmente na escola em que estuda na aldeia Bororó:

“Ouço piadinhas na escola o tempo todo, de outros jovens que deveriam ter um entendimento mais aberto sobre a questão de gênero. É desnecessário, mas lido bem com isso, eu não me importo, vou continuar sendo quem eu sou. Pretendo terminar o colegial e depois, quero estudar medicina”, declara.

“Na aldeia tem homossexual, tem transexual, e eles se ajudam. Quero ser inspiração para outros indígenas que sentem receio em assumir suas identidades de gênero e encorajar a todos para que busquem apoio e se libertem.”
Um dos temas do concurso este ano, segundo a organizadora, é autoestima e empoderamento, além da valorização cultural em representar os diferentes povos indígenas, Guarani, Kaiowá e Terena: “Queremos desconstruir a ideia de que na aldeia só existe morte, drogas e preguiça”.

O concurso acontece na noite deste sábado, dia 27 de abril, na aldeia Jaguapiru, em Dourados. Disputam o título de Miss e Mister indígena 22 concorrentes: 5 casais da aldeia Bororó, 5 casais da aldeia Jaguapiru e um casal que reside fora da Reserva Indígena de Dourados, além de Katrina, que entra como concorrente especial.