Com fuga de clientes, postos na fronteira demitem e chegam a fechar

Com fuga de clientes, postos na fronteira demitem e chegam a fechar

Diferença de preço da gasolina em Ponta Porã e Pedro Juan chega a 50%

Com 20 anos no mercado de combustíveis, o empresário Ludimar Godoy Novaes, 44, dono de um posto em Ponta Porã, avalia com segurança: “Já tivemos épocas ruins, mas esta é a pior de todas”. Ele se referia à concorrência com Pedro Juan Caballero. Com a alta carga tributária do Brasil e os reajustes seguidos da Petrobras, a gasolina em Ponta Porã é, em média, 50% mais cara que a vizinha do outro lado da fronteira. Resultado: os postos, com margens reduzidas, demitem funcionários e começam a fechar.
PUBLICIDADE.

Conforme a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o preço médio do litro da gasolina em Ponta Porã está em R$ 4,121, com mínimo de R$ 4,085 e máxima de R$ 4,179. No entanto, em alguns postos, de acordo com fontes do setor, o derivado do petróleo chega a custar R$ 4,20 na cidade. Já em Pedro Juan, há estabelecimentos que vendem o produto por R$ 2,80. Do lado brasileiro, o preço do combustível atinge diferença de 50% na comparação com o valor do outro lado da fronteira.

“E a gasolina aqui está mais barata que em muitos municípios de Mato Grosso do Sul”, afirma Ludimar. A observação dele está de acordo com os dados da ANP – segundo a agência, o preço médio de Ponta Porã, de R$ 4,121, é o segundo menor do estado, acima apenas ao de Campo Grande, de R$ 4,031. “Estamos no limite de nossa margem e, mesmo baixando o preço, o consumo está caindo”, relata.

PUBLICIDADE.

Com as margens de lucro reduzidas e vendo muitos consumidores atravessarem a fronteira para abastecer os carros, donos de postos de combustíveis em Ponta Porã estão demitindo e já teve início o processo de fechamento neste ano. “Eu tinha 14 empregados, agora estou com seis”, contou Ludimar, referindo a um corte de 57%. “Há dois meses fechou um posto e há outros que não vão se segurar e vão fechar também”, acrescentou.

O gerente Dilson Torres, que trabalha em outro posto do município, reforça o quadro descrito por Ludimar. “Tem muita gente demitindo. Aqui ainda estamos conseguindo segurar”, disse. “Com esses aumentos seguidos da Petrobras ficou muito complicado”, queixou-se.
PUBLICIDADE.

Dilson alerta que não é bom negócio abastecer do outro lado da fronteira. “Lá está mais barato, mas é preferível pagar um pouco mais caro e ter uma gasolina de qualidade. Tem um cliente aqui do posto que contou que preferiu refazer o motor do carro depois de ter abastecido no Paraguai”, mencionou.

Com fuga de clientes, postos na fronteira demitem e chegam a fechar
Altas e impostos – As pessoas do setor de combustíveis sabem onde se situa grande parte do problema. “Com tanta corrupção, a Petrobras ficou quebrada. Agora precisa aumentar o preço direto. E quem paga o pato? Todos nós”, desabafa Ludimar.

Desde o dia 17 de março, a Petrobras praticou 23 reajustes dos preços da gasolina às distribuidoras. Foram nove reduções e 14 aumentos. Nesta quinta-feira (dia 3), o valor cairá depois de a petrolífera realizar a maior alta desde julho do ano passado.

Outro fator, citado pelo empresário, é a alta carga tributária. “Os impostos são muito altos. E pra quem está aqui na fronteira, o problema é ainda pior”, reclama. De acordo com os números da Petrobras, os tributos incidentes sobre a gasolina representam 45% da composição do preço do produto.

No caso de Mato Grosso do Sul, sem a carga tributária, o preço médio da gasolina, de R$ 4,139 cairia para R$ 2,27. Para encher um tanque de 50 litros, o desembolso total passaria de R$ 206,95 para R$ 113,50. Seriam R$ 93,45 a menos.

Retração – Os consumidores não estão abastecendo menos apenas em Ponta Porã, mas em todo o estado. De acordo com a ANP, as vendas de gasolina no primeiro bimestre deste ano (últimos dados) caiu 6,94% em Mato Grosso do Sul.

Em janeiro e fevereiro, foram vendidos 113,32 milhões de litros de gasolina no estado. Nos mesmos meses de 2017, o volume comercializado foi de 121,78 milhões de litros. São 8,45 milhões de litros a menos.
Cgnews

PUBLICIDADE.