Atividade microbiana indica a saúde dos solos

Principal vantagem do uso de bioindicadores é antecipar que tipos de mudanças ocorrerão na matéria orgânica do solo em função do manejo adotado.

Pesquisadores da Embrapa e parceiros vêm desenvolvendo estudos para estabelecer indicadores do funcionamento do solo no Cerrado a partir da vida microbiana na matéria orgânica. O trabalho já levou à construção das primeiras tabelas de interpretação de indicadores microbianos e ao início da criação de um banco de dados sobre a microbiologia dos solos da região.
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A matéria orgânica é o principal componente de fertilidade dos solos tropicais. É o melhor indicador de sua qualidade, por integrar todos os aspectos de química, física e biologia do solo. Mas as mudanças nos teores dessa matéria orgânica levam anos para serem detectadas. É aí que entram os microrganismos do solo, que atuam como bioindicadores da “saúde” do recurso. Qualquer mudança que afeta a matéria orgânica também afeta os microrganismos, só que os efeitos na comunidade microbiana podem ser detectados com mais rapidez.

Segundo Ieda Mendes, pesquisadora da área de microbiologia do solo da Embrapa Cerrados (DF), a principal vantagem do uso de bioindicadores é antecipar que tipos de mudanças ocorrerão na matéria orgânica do solo em função do manejo adotado na fazenda, sejam elas positivas (aumentos) ou negativas (decréscimos). Como o estabelecimento de uma lavoura, de uma pastagem ou mesmo de um sistema de integração afeta diretamente a comunidade microbiana do solo e os processos realizados por ela, os bioindicadores podem detectar mudanças sutis nas propriedades dos solos, que ocorrem logo nos primeiros anos da introdução de um sistema agrícola.

“Por permitirem a identificação rápida e precisa de alterações no solo, o conhecimento e o uso dos bioindicadores pelos agricultores são muito vantajosos tanto para incentivar aqueles que já estão adotando sistemas de manejo conservacionistas quanto para alertar quem esteja adotando práticas que possam levar à degradação do solo”, destaca a pesquisadora.

A importância dos microrganismos do solo
Junto com a fauna e as raízes das plantas, os microrganismos do solo são a parte viva da matéria orgânica e podem ser utilizados como bioindicadores por estarem intimamente ligados ao funcionamento do solo, mantendo uma estreita relação com os componentes físicos e químicos. “Sem a presença dessa parte viva, o solo seria simplesmente uma mistura de areia, limo e argila. O que faz um solo ‘funcionar’ é a maquinaria biológica que há nele”, explica Ieda Mendes, pesquisadora da área de microbiologia do solo da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF).
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No Cerrado, os solos têm, em média, apenas 3% de matéria orgânica. E somente 5% dessa pequena quantidade é formada por seres vivos, sendo 70% deles microrganismos. Mas, até 1999, quando os estudos sobre o funcionamento biológico dos solos no bioma começaram, muito pouco se sabia sobre como esse processo é impactado pelos diferentes tipos de sistemas agrícolas.

As perdas nos teores de matéria orgânica do solo são um sério problema para um sistema agrícola. Menos matéria orgânica significa perda de uma importante fonte de fósforo, nitrogênio e enxofre para as plantas e da capacidade de armazenamento de água no solo, além de redução da capacidade de reter íons de cálcio, magnésio e potássio, nutrientes fundamentais para o desenvolvimento das plantas, entre outros prejuízos. “Perder matéria orgânica, especialmente nos solos tropicais, é condená-los a um processo de desertificação”, aponta Ieda.

Com o estabelecimento de bioindicadores de qualidade e de valores de referência para cada um deles, os estudiosos esperam que as avaliações de microbiologia do solo façam parte da rotina das análises laboratoriais de solo oferecidas comercialmente em todo o País, sem que o custo aumente de forma significativa, já que o preço das análises de atividade enzimática, por exemplo, não passa de R$ 30.

“Nosso objetivo é que algum dia, não muito distante, quando o agricultor enviar uma amostra de solo para o laboratório, possa ser feita não apenas a análise das características químicas e físicas, mas também das propriedades biológicas para saber se o manejo utilizado está sendo favorável ou não ao funcionamento biológico do solo”, diz a pesquisadora.

Autor: Breno Lobato, Embrapa Cerrados

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