Assim como fez na Colômbia, EUA financia guerra ao tráfico no Paraguai

Agência antidrogas dos Estados Unidos treina equipes da Senad para tentar conter narcotráfico na fronteira com o Brasil

Helio de Freitas, de Dourados- CGNEWS
Agente da Senad sobrevoa lavouras de maconha perto do território sul-mato-grossense (Foto: Simeon Tegel/Pulitzer Center)

Agente da Senad sobrevoa lavouras de maconha perto do território sul-mato-grossense (Foto: Simeon Tegel/Pulitzer Center)

Assim como fez na Colômbia do lendário narcotraficante Pablo Escobar na década de 90, a maior potência mundial financia a luta contra o tráfico de drogas na Linha Internacional do Paraguai com o Brasil, onde facções brasileiras travam uma guerra pelo controle das rotas de cocaína, maconha e armas.

A DEA (Drug Enforcement Administration) – agência de combate às drogas subordinada ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos – está equipando e treinando equipes da Senad, a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai.

Foram agentes da DEA que ajudaram o governo colombiano a desmontar a organização criminosa de Pablo Escobar e a localizar e eliminar o traficante, em 2 de dezembro de 1993, em Medellín.

É com o apoio da DEA que a Senad prepara uma grande ofensiva contra as facções brasileiras que atuam na Linha Internacional, baseadas em cidades paraguaias vizinhas de Mato Grosso do Sul.

Campo Grande News apurou com policiais da fronteira – brasileiros e paraguaios – que as mais recentes ações da Senad de repressão às lavouras de maconha na fronteira e prisões de traficantes brasileiros escondidos naquele país tiveram apoio direto dos agentes norte-americanos.

Além de treinar as equipes da Senad, a DEA colabora financeiramente com a agência paraguaia para comprar equipamentos, veículos, helicópteros e armas.

Também fornece tecnologia que tem ajudado a localizar líderes de facções brasileiras, como os traficantes cariocas Marcelo Fernando Veiga, o Marcelo Piloto, e Carlos Eduardo Sales Cardoso, o Capilé, presos no ano passado e entregues à Polícia Federal brasileira.

Fontes da fronteira afirmam que nos últimos anos, graças ao apoio dos Estados Unidos, a Senad paraguaia saiu de um simples órgão do governo para uma importante agência antidrogas com estrutura e treinamento não vistos nos departamentos da Polícia Nacional.

Em contato com a reportagem do Campo Grande News nesta quarta-feira (20), a Senad confirmou o apoio logístico e financeiro da DEA e diz que a parceria ocorre há vários anos. (leia abaixo)

Agente da Senad vigia o narcotraficante brasileiro Marcelo Piloto (Foto: Arquivo)

Agente da Senad vigia o narcotraficante brasileiro Marcelo Piloto (Foto: Arquivo)

Corrupção e expulsões – Entretanto, para apoiar a luta contra o narcotráfico, a agência norte-americana fez uma série de exigências ao governo paraguaio. A principal delas: combater a corrupção policial.

Oficiais da polícia paraguaia são acusados de receber dinheiro do narcotráfico para proteger a rede de distribuição de drogas, principalmente as rotas que trazem cocaína da Bolívia.

No ano passado, Marcelo Piloto disse que pagava muito dinheiro a policiais para se manter no anonimato em solo paraguaio.

Também por interferência norte-americana, o governo do Paraguai intensificou a expulsão de brasileiros presos em seu território.

Um programa livre da burocracia judicial, que permite a expulsão dos brasileiros e entrega à Polícia Federal do Brasil quase imediatamente após a prisão, vem sendo colocado em prática desde dezembro do ano passado.

De acordo com o jornal O Estado de São Paulo, em 2018, o Paraguai expulsou 97 presos, 60% a mais que os 59 expulsos no ano anterior. De janeiro de 2019 até agora foram mais 15 expulsões.

Ainda de acordo com o “Estadão”, em três anos, o Paraguai passou do quinto para o segundo lugar em número de presos brasileiros no exterior, superando Japão, Portugal e Espanha. Atualmente fica atrás apenas dos Estados Unidos.

Treinada pela DEA, Senad retomou ontem destruição de lavouras de maconha na fronteira (Foto: Divulgação)

Treinada pela DEA, Senad retomou ontem destruição de lavouras de maconha na fronteira (Foto: Divulgação)

Lavouras de maconha – Nesta semana, equipes da Senad usando helicópteros, carros de combate e armamento pesado retomaram as operações para cortar e queimar lavouras de maconha no departamento (estado) de Amambay, cuja capital é Pedro Juan Caballero, cidade vizinha de Ponta Porã (MS), a 323 km de Campo Grande.

Ontem (19), as forças antidrogas encontraram oito acampamentos dos plantadores de maconha na região conhecida como Alpasa, onde encontraram 150 quilos de semente que seriam utilizadas na próxima safra e cortaram e queimaram 18 hectares da plana pronta para a colheita.

Megaoperação – Nesta quarta-feira, o ministro-chefe da Senad Arnaldo Giuzzio disse que a agência prepara uma grande operação contra as organizações criminosas presentes na fronteira, principalmente o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho.

Questionado sobre o pedido de intervenção na fronteira por causa do avanço do Comando Vermelho na região, Giuzzio disse que a ação será em Pedro Juan Caballero e Capitán Bado, cidade vizinha de Coronel Sapucaia (MS). As duas cidades estão no meio de uma guerra das facções pelo controle do tráfico.

Agente da Senad em local onde bandido brasileiro foi preso no Paraguai (Foto: Divulgação)

Agente da Senad em local onde bandido brasileiro foi preso no Paraguai (Foto: Divulgação)

Senad confirma apoio – O Campo Grande News entrevistou o diretor de comunicação da Senad Francisco Ayala. Ele falou sobre o apoio norte-americano na luta do Paraguai contra o narcotráfico.

“A DEA apoia fortemente e de maneira oficial a luta antidrogas da Senad através de sua agência na Embaixada americana em Assunción”, afirmou Ayala.

Segundo ele, existe um acordo firmado entre a DEA e a Senad para colocar em prática um programa denominado SIU (Unidade de Investigação Sensível).

“Através desse programa, agentes especiais da Senad, são capacitados em duas etapas, principalmente em inteligência avançada e investigação sensível na academia da DEA”, explicou o porta-voz.

Francisco Ayala confirma o apoio financeiro norte-americano. “Há apoio financeiro em tecnologia, inclusive doações de veículos. Esse apoio ocorre há vários anos e já resultou em várias operações de grande envergadura contra o crime organizado”.

O representante da Senad confirma a presença de agentes da DEA em território paraguaio, mas diz que não participam das operações de campo. “São observadores e monitores do programa [SIU]”.

Carga de maconha apreendida pela Senad, agência paraguaia treinada pela DEA, dos Estados Unidos (Foto: Divulgação)

Carga de maconha apreendida pela Senad, agência paraguaia treinada pela DEA, dos Estados Unidos (Foto: Divulgação)