ARTIGO.Bolsomito

Bolsomito
O título acima talvez tenha lhe causado uma falsa impressão e imediatamente despertado sentimentos antagônicos de amor ou de ódio. A associação foi imediata e não pense que farei propaganda em favor de fulano em detrimento de sicrano. Acalme-se! Esse não é o propósito original.
A junção de duas palavras não significa necessariamente o que popularmente se conhece. Precisamos analisar com cuidado para dar a tal palavra o seu real sentido. Talvez não se conheça até agora outro significado para a palavra bolsomito, mas vamos tentar desmistificar tal pensamento popular.
No sentido figurado a palavra bolso pode ser entendida como o local onde se guarda o dinheiro. O dito popular: “Não tenho um centavo no bolso” exemplifica perfeitamente tal pensamento. Utilizaremos o significado de mito como sinônimo de versão fantasiosa de algo. Com a definição dos dois termos agora estamos aptos para esclarecer o que de fato significa o famigerado bolsomito.
A falácia vendida ao povo brasileiro é a de que para se alcançar o sucesso pessoal basta o esforço e a perseverança, com isso, a ascensão social aconteceria naturalmente. Não é tão simples assim, principalmente num país em que as desigualdades sociais são tão descomunais quanto o território nacional. A pobreza encontrou em solo tupiniquim terreno fértil para o crescimento desordenado. As oportunidades não são iguais para todos, pelo contrário, elas são cada vez mais escassas. Infelizmente, o Brasil não é conhecido como uma terra de oportunidades, na verdade, somos conhecidos internacionalmente por outros adjetivos bem menos louváveis.
Criou-se o mito de que basta lutar arduamente e a vitória será algo natural. Balela! Para a população mais carente todo o esforço não será capaz de mudar a triste realidade. Diante de uma justiça injusta, corrupção endêmica, desemprego colossal e um verdadeiro desdém das autoridades pela educação a única alternativa sensata é reconhecer que a grande maioria das pessoas continuará com os bolsos vazios. O triste é saber que mesmo aquele que ainda possui algum valor escondido bem no fundo do bolso corre um sério risco, pois a qualquer momento alguém pode lhe fazer uma “visita” inesperada. Ainda temos que arcar com as regalias descabidas de poucos felizardos.
Sem poder contar com uma educação de qualidade é ilusão pedir que a população seja mais articulada e menos propicia a ser iludida por tantos espertalhões. A nossa terra é um verdadeiro paraíso para todo tipo de falcatrua e a maioria dos nossos representantes são mestres na arte de vender mentiras. A ingenuidade do nosso povo é amplamente explorada para fins puramente individuais em detrimento da coletividade.
É preciso se desvencilhar do mito de que apenas o individuo solitário é o único responsável por “encher os próprios bolsos”. O poder público precisa criar mecanismos que de fato minimize as desigualdades e ofereça chances reais do cidadão de bem mudar de vida e ser o agente principal de sua própria história.
Alci Massaranduba
Bacharel em Administração de Empresas, Especialista em Gestão de Negócios, Acadêmico do
curso de Matemática, autor dos livros: Minha Vida de Carteiro e Pensamentos de um Carteiro