Alerta por falta de oxigênio e leitos resumem situação da saúde no Norte

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O número de hospitalizações aumentou na região oeste do Pará, na divisa com o Amazonas, poucos dias após a saúde pública ter entrado em colapso em Manaus. As internações superaram a oferta de oxigênio das prefeituras.

Atualmente, não há mais déficit de oxigênio. A empresa White Martins, responsável pelo abastecimento, diz que a produção no Pará é de 58 mil metros cúbicos por dia.

Na terça, chegaram a Santarém 1.800 metros cúbicos. Uma míni usina de oxigênio foi instalada na cidade de Oriximiná, para atender a demanda dos municípios da região, com capacidade de produção de 26 metros cúbicos por hora.

O prefeito de Oriximiná, William Fonseca (PRTB), diz que a situação melhorou. A prefeitura comprou a usina assim que os casos dispararam na região, mas ela demorou para chegar por conta da logística na Amazônia.

O aparelho tem permitido que a cidade apoie a rede hospitalar de Óbidos e Monte Alegre. A usina foi batizada com o nome de Cassiana Santos Madeira, enfermeira do município que morreu em decorrência do coronavírus.

Em Juruti, os leitos de UTI esgotaram na primeira semana de janeiro. O pai de Urias Braga estava intubado haviahá 16 dias quando morreu na quarta (27). Ele esteve internado em Juruti, usando apenas ventilador pulmonar, até ser transferido de avião para Itaituba.

Com a superlotação, o governo precisou adquirir mais cinco leitos de UTI no dia 22, já que a cidade, de quase 60 mil habitantes, só tinha dez. Ao todo, a rede estadual de saúde conta com 310 leitos de UTI, dos quais 55 estão disponíveis, o que significa uma lotação de 82%. O Instituto Evandro Chagas confirmou dois casos da variante do Amazonas no Pará, ambas em Santarém.

O governador Helder Barbalho (MDB) anunciou a implantação de um hospital de campanha em Santarém, que deve começar os atendimentos nos próximos dez dias. Pelo rio, o Barco Hospital Papa Francisco realiza atendimentos nas comunidades mais remotas.

A estratégia do governador do Pará no momento passa pela criação de uma barreira epidemiológica. “A intenção é diminuir a migração viral da divisa para evitar o contágio generalizado, mas além da vacinação, estamos priorizando os atendimentos de saúde no oeste do Pará”, afirma Helder.

O Amapá tem o pior índice de leitos de UTI por habitantes da região: 0,33 para cada 10 mil, muito abaixo do recomendado. Para a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), o ideal é de 1 a 3 leitos para cada 10 mil habitantes.

A ocupação dos leitos para Covid no estado é de 57,07%. Procurado, o governo estadual não se manifestou.

Jim Davis é fisioterapeuta em Macapá e diz que não para de chegar paciente no hospital onde trabalha. “A demanda não cessa. A palavra estabilidade é relativa para mim, com toda essa quantidade de leitos ocupados”, avalia ele.

“Não paramos de trabalhar. Toda hora chega gente para a triagem”, diz a técnica de enfermagem Lara Shalita.

Na semana passada, 23 pessoas infectadas, que estavam internadas na Upa Sul de Porto Velho foram encaminhadas para Curitiba, Porto Alegre e Cuiabá. Na quinta (28), nove pacientes ainda aguardavam numa fila para acessar um leito de UTI em hospitais regulados pelo governo estadual.

Em um dos casos, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde, um paciente de Manaus, que procurou atendimento em Porto Velho, teve que esperar uma semana para conseguir o leito de UTI. Ele foi transferido na quarta-feira (27).

Na manhã de sexta (29), a taxa de ocupação dos leitos de UTI/Covid em Rondônia chegou a 95%.

O governo precisou abrir chamamento público para contratação emergencial.

O governador Marcos Rocha defendeu o posicionamento do Ministério Público Federal, que solicitou a antecipação da formatura de alunos de Medicina de Rondônia para atuarem na linha de frente.

É raro encontrar no estado especialistas em terapia intensiva, segundo o presidente do Cremero (Conselho Regional de Medicina de Rondônia), Robinson Machado.

Sobre a ameaça de escassez de oxigênio, ele diz que os municípios menores enfrentam mais restrições devido ao uso de cilindros e necessidade de recargas constantes.

Em Roraima, há alerta sobre a interrupção no fornecimento de oxigênio.

Equipes do ministério investigam a morte de nove crianças com sintomas da Covid-19 em duas comunidades na reserva ianomâmi.

No Acre, a maior preocupação é da falta de leitos de UTI e de profissionais de saúde no interior, segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do Acre, Guilherme Pulici.
Ele diz que a situação mais crítica é a do Hospital Regional do Juruá, em Cruzeiro do Sul. Em Rio Branco a situação está estável.

Segundo a secretaria de Saúde do Acre, na sexta (29) a taxa de ocupação dos leitos de UTI no estado era de 60%. Mas no Hospital Regional do Juruá a taxa estava em 140%.
Segundo ele, além da falta de leitos de UTI e da má distribuição de médicos (75% dos que atuam no Acre estão na capital, Rio Branco), o interior sofre com o afastamento de profissionais de saúde. .

O temor, diz, é de a demanda aumentar com estrangeiros vindo dos países como a Bolívia. “Em Brasiléia metade dos pacientes graves do hospital são bolivianos”, relatou. Procurado, o governo do Acre não se manifestou sobre a falta de leitos e de profissionais.

No Amazonas, que viveu drama de pacientes sem oxigênio em Manaus, o risco maior está no interior. Com as unidades de referência na capital saturadas, com taxa de ocupação dos leitos de UTI em 90% e dos leitos clínicos em 101%%, 617 pessoas esperavam por um leito no estado, na sexta (29), 109 delas à espera de um leito de UTI.

No interior, 125 pessoas esperam transferência para Manaus, 36 precisam de leito de UTI. Sem as mínimas condições de tratamento em seus municípios, pacientes que desenvolvem sintomas graves estão morrendo na fila de espera por uma transferência para unidades de saúde da capital.

Só no Hospital Regional de Tefé, que atende municípios do médio rio Solimões, 14 pacientes morreram em janeiro à espera de transferência para leitos de UTI em Manaus.

Atualmente, seis esperam transferência para Manaus. Uma delas é a mãe da micro empreendedora Viviane Marcos, 27, que aguarda por um leito de UTI desde o dia 23.

Também há relatos de mortes à espera de transferência para leitos de UTI em Parintins e Benjamin Constant, e relatos semelhantes em diversos outros municípios, onde também há escassez de oxigênio e EPIs específicos, como macacões impermeáveis.

Apesar da instalação de sete usinas de oxigênio nos municípios polos –cinco delas já em operação–, e da força-tarefa montada para abastecer as unidades de saúde e transferir mais de 320 pacientes para outros estados, ainda há relatos de falta de oxigênio para as pessoas em home care, que enfrentam dificuldades para abastecer cilindros tanto na capital quanto no interior.

No Tocantins, o alerta é para a pressão que o aumento nos casos possam exercer sobre o sistema de saúde. Neste mês, os novos registros aumentaram 18% comparado ao mês anterior. Enquanto isso, a taxa geral de ocupação dos leitos de UTI para Covid está em 60%, mas em algumas unidades a lotação é maior. No Hospital Geral de Palmas, o maior do estado, a taxa de ocupação nesta sexta (29) era de 92%. O Hospital Infantil estava com 100% de lotação. Eduardo Laviano, Monica Prestes e João Valadares