Medicamento para o câncer é 100% eficaz contra malária em ensaio clínico

O fármaco Imatinibe demonstrou ser totalmente eficaz num período de três dias em acréscimo ao tratamento tradicional contra a patologia parasitária que já matou milhões em todo o mundo

O fármaco que pertence ao grupo farmacêutico Novartis atua ao bloquear as enzimas envolvidas no crescimento dos tumores cancerígenos, no entanto consegue igualmente impedir a disseminação do Plasmodium.

Os pesquisadores notaram essa segunda função em culturas de células humanas. Então decidiram testar em voluntários o Imatinibe junto ao tratamento padrão, que consiste em uma combinação das drogas piperaquina e diidroartemisinina. Os testes ocorreram com pacientes da província de Quang Tri, no Vietnã, onde existem indícios de que o parasita da malária adquiriu resistência contra remédios.

Na pesquisa, foi possível observar que 33% dos pacientes tratados com a terapia padrão (sem o suplemento de Imatinibe) ainda apresentavam parasitas na corrente sanguínea após três dias. “As taxas de eliminação atrasadas são um precursor e um indicador da resistência potencial aos medicamentos, que tem sido um problema com a malária por décadas”, analisa Philip Low, líder do estudo, em comunicado.

Com isso, os cientistas acreditam que o Imatinibe possa ajudar a melhorar a terapia tradicional contra a malária. Os pacientes medicados com o novo tratamento tiveram um alívio de suas febres em menos da metade do tempo do que aqueles indivíduos que passaram apenas pelo tratamento padrão sem a droga.

O parasita da malária é transmitido pela picada de mosquitos, como o do gênero Anopheles. A doença infecta os glóbulos vermelhos do sangue e se reproduz, ativando uma enzima que desencadeia a ruptura da célula e a liberação de uma forma parasitária chamada merozoíta na corrente sanguínea.

O novo tratamento visa impedir a ação dessa enzima, o que ajuda na eficiência contra variantes do Plasmodium. “Como estamos visando uma enzima que pertence ao glóbulo vermelho, o parasita não pode sofrer mutação para desenvolver resistência – ele simplesmente não pode sofrer mutação nas proteínas de nossas células do sangue”, explica Low.

O próximo passo da equipe é conseguir aprovação da agência federal dos EUA, Food and Drug Administration (FDA), para a realização de uma fase 3 de testes. “O FDA é tão amplamente respeitado em todo o mundo que, se aprová-lo, quase todas as outras nações, especialmente os países em desenvolvimento que sofrem de malária, adotarão [o tratamento] rapidamente”, diz o pesquisador.