É assustadora a tsunami da Ômicron em Nova York

Semanas atrás, tomei a minha terceira dose da vacina Moderna, e minha filha, junto com quase todas as colegas da escola, recebeu a primeira dose da Pfizer, com a liberação da vacinação de crianças. Dias depois, viajei ao Brasil, em um dos momentos que me senti mais seguro contra a Covid-19 desde o início da pandemia. As mortes seguiam em queda entre os brasileiros. Meus pais estão vacinados, inclusive com a dose de reforço. Todos os meus amigos também, em uma nação onde são raríssimos os casos de não vacinados, apesar do presidente antivax. É verão, e as pessoas podem ficar mais em espaços abertos. Aqui nos EUA, a Delta ainda matava mais de mil pessoas por dia, mas normalmente em regiões americanas com baixos índices de vacinação.

Quando estava em São Paulo, no fim de novembro, dias antes de embarcar de volta para Nova York, surgiu a informação sobre a nova variante Ômicron na África do Sul. Faz três semanas. Fiquei preocupad, mas não imaginava que agora, uma semana antes do Natal, fosse ter a sensação de ter voltado para março de 2020. A variante Ômicron alterou completamente e em poucos dias todas as perspectivas de quem vive em Nova York, assim como já havia ocorrido na África do Sul e em Londres. É uma tsunami. O tempo todo recebemos informações de conhecidos infectados.

Espetáculos na Broadway e eventos esportivos começaram a ser cancelados. Universidades como a NYU aplicarão as provas de fim de ano on-line. Festas, idem. Todos em pânico com a chegada das festas de fim de ano. Restaurantes voltaram a ser fechados e as aulas, canceladas. Alguns que haviam retornado aos escritórios estão trabalhando de novo de casa, remotamente. As filas para testagem dão a volta no quarteirão e os resultados de PCR demoram para sair. A cidade bate recordes de novos casos.

Assim como quando surgiu o coronavírus, pouco se sabe sobre a nova variante. Há fortes indícios de que talvez seja mais amena do que a Delta, mas não dá para cravar. Pela velocidade no crescimento nas infecções, há um consenso de que é bem mais contagiosa. Neste caso, ainda que o risco de uma pessoa individualmente ter um caso severo seja menor, pode ser que, em números absolutos, com a surreal elevação exponencial dos casos, tende a superar a Delta.

Não sabemos também o risco de pegar a Ômicron em supermercados, elevadores, aviões, metrôs e cinemas, mesmo se estivermos de máscaras. Como está a situação dos profissionais da saúde diante deste contágio maior? E os trabalhadores essenciais? Tampouco sabemos o risco de transmissão em áreas externas. Será que voltaremos a usar máscaras ao ar livre? Nesta manhã, algumas pessoas, como eu, já caminhavam novamente mascaradas pelas ruas. Se o número de hospitalizações e mortes crescerem nos próximos dias ou semanas, haverá pânico.

Neste momento, a única alternativa parece ser usar a máscara N95 em ambientes fechados e tomar a dose de reforço das vacinas. Ambas ajudam a reduzir a possibilidade de infecções, embora não a eliminem. Quase todas as festas tendem a ser eventos de alto contágio, como observamos diante do número de infectados em uma festa de fim de ano na Noruega. Em poucos dias talvez, infelizmente, essa tsunami atinja o Brasil. Talvez, antes do Ano Novo. Globo