Diplomacia americana faz lobby junto a operadoras contra Huawei no 5G

O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, enviou carta às quatro operadoras chamando seus representantes para uma reunião.

O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, enviou carta às quatro operadoras chamando seus representantes para uma reunião, na próxima semana em São Paulo, com Keith Krach, subsecretário de Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente do Departamento de Estado.

“A pauta deste encontro será a discussão sobre o cenário atual de telecomunicações e 5G no Brasil e suas perspectivas no curto e médio prazo com a delegação do subsecretário Krach e representantes da Vivo, Claro, TIM e Oi”, diz o documento, obtido pela reportagem

Interlocutores disseram à reportagem que o convite criou uma saia justa para as operadoras, que estão incomodadas com a agressividade da diplomacia dos EUA nas pressões para bloquear a presença da Huawei no futuro mercado de 5G.

Além do mais, o setor – contrário ao banimento da Huawei – considerou impróprio o contato de autoridades de um país estrangeiro com empresas privadas no Brasil.

O tema gerou debates entre representantes das teles, que avaliam não comparecer ao encontro.

Procurada, a embaixada dos Estados Unidos em Brasília não comentou.

O leilão de frequências da telefonia de quinta geração no Brasil está previsto para 2021. Depois dele, as operadoras deverão escolher seus fornecedores, em uma disputa em que a Huawei é considerada competitiva e eficiente.

O argumento de Washington é que empresas chinesas repassam informações privadas e confidenciais para Pequim.

O governo Trump atua para que companhias de telefonia optem por componentes fornecidos por concorrentes dos chineses, como a sueca Ericsson e a finlandesa Nokia.

Japão, Reino Unido e Suécia, entre outros países, já colocaram barreiras contra a Huawei em suas redes de 5G.

A ação da diplomacia americana, no entanto, incomoda o setor de telecomunicações no Brasil.

Nos bastidores, representantes do setor destacam que a maior parte da rede atual, de 4G, é dotada de componentes Huawei. Ericsson e Nokia também já participam.

Para fazer a transição para o 5G sem a Huawei, seria necessário trocar esse aparato, algo que traria custos adicionais para a operação.

A concorrência entre diferentes fornecedores também melhora a qualidade do serviço prestado, argumentam executivos consultados.

Embora contrários à qualquer barreira à Huawei, interlocutores no setor reconhecem que as empresas vão ter que se adaptar caso Bolsonaro atenda o pleito dos americanos.

Mas ponderam que caberia ao governo brasileiro intermediar qualquer tipo de contato com a diplomacia dos EUA.

Interlocutores também destacaram à reportagem que não se sentem confortáveis em discutir suas estratégias e perspectivas de mercado em um encontro com autoridades americanas no Brasil.

Conseguir que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) coloque obstáculos à presença da Huawei no mercado do 5G é hoje uma das principais metas da diplomacia americana no Brasil.

Bolsonaro tem dado sinais de simpatia aos americanos. Porém, o tema não é consensual e gera apreensão em setores do governo que não querem se indispor com a China –o maior parceiro comercial do Brasil.

A mais recente ofensiva dos EUA pelo banimento dos chineses no país ocorreu no final de outubro, quando o Secretário de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Robert O’Brien, liderou uma comitiva a São Paulo e Brasília.

Na ocasião, a missão americana prometeu que abriria linhas de crédito para que empresas como Vivo, Claro, TIM e Oi financiem a compra de componentes de concorrentes da Huawei.

As operações de crédito devem ser oferecidas pelo DFC (U.S. International Development Finance Corporation), instituição estatal criada pelo governo Trump para dar suporte a objetivos geopolíticos estratégicos de Washington, mas há ainda a possibilidade de apoio via Exim Bank (Banco de Exportação e Importação dos EUA).

Durante a visita, autoridades americanas apresentaram a proposta a jornalistas.

“No DFC nós temos dois produtos que podem apoiar empresas brasileiras que estão buscando como adquirir nova tecnologia. Nós temos financiamento através de equity e financiamento de dívida. E esse produtos estão disponíveis para as empresas brasileiras”, afirmou na ocasião Sabrina Teichman, diretora do DFC, quando questionada sobre o tema.

Questionada sobre quanto estaria disponível para para essas operações no Brasil, Teichman argumentou que depende da demanda do setor privado, mas que o DFC tem uma carteira global de US$ 60 bilhões que podem ser usados para esse fim.

Nos bastidores, representantes do setor dizem que as empresas têm pouco interesse em comprar equipamentos com financiamento. As condições, ainda segundo esses executivos, não seriam vantajosas.